Ideologia de gerações: confira crítica de 'Rasga coração'

Por ANA RODRIGUES *

Suede e Ricca mostram conflito doloroso de pai e filho

Escrita no início da década de 1970 pelo dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974), a peça “Rasga coração” questionava gerações e ideais do homem comum no período mais doloroso da repressão militar. A adaptação para o cinema, com direção de Jorge Furtado, acompanha a agonia de Manguari Pistolão (Marco Ricca), militante político que entra em conflito com o filho Luca (Chay Suede), contestador de todas as anomalias que ele detecta na ordem vigente. O casamento cansado, a falta de dinheiro e as dores de uma artrite crônica agravam a situação que só é suavizada pelas noites na janela vendo o strip-tease da vizinha.

Nos fragmentos da memória e da política brasileira, Manguari tentará reencontrar o libertário que sempre foi. A lembrança da amizade com o amigo descolado Lorde Bundinha (George Sauma) será a inspiração para tentar se reconectar com o filho. O ponto forte da obra mais bem aproveitado pelo filme é a fragilidade de Manguari. Marco Ricca consegue, com muito equilíbrio, mostrar a barreira de diálogo que tem com o filho e com a esposa (Drica Moraes). Pai e filho são contraditórios. A sede por justiça social se choca com atitudes egoístas. No entanto, a construção do passado peca pela dramaturgia fora do tom e pela linha do tempo confusa. Já o presente de Manguari rende melhor pela química de Ricca e Suede. Mesmo com irregularidades, a versão confirma o valor de “Rasga coração” como obra de resistência.

* Membro da ACCRJ

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RASGA CORAÇÃO: *** (Bom)

Cotações: o Péssimo; * Ruim; ** Regular; *** Bom; **** Muito Bom