Vanderlei Lopes eterniza em bronze frações de segundo de nossa existência

Por Affonso Nunes

Escultura em bronze de um tronco de uma árvore que acaba de ser cortado é instalação principal da exposição, que também eterniza páginas de jornais com manchetes fictícias

A dualidade entre fato ou ficção, entre o pensamento e ação, permeadas pelo tempo. A exposição “Arena”, do paranaense Vanderlei Lopes, reúne na Galeria Athena, em Botafogo, 30 trabalhos inéditos, feitos em bronze, sempre tendo como base os objetos originais, conferindo a cada peça um sendo de realismo, mas congelado em frações de segundo. “Perpetuadas em bronze, situações cotidianas e transitórias surgem como esculturas, monumentos ou uma espécie de fotografia tridimensional”, compara o artista plástico, que produziu todas as obras este ano.

A peça dominante da exposição é um grande tronco de árvore que acaba de ser cortada, fundida em bronze, com cerca de 3,60m de diâmetro por 1,25m de altura. Em seu topo, uma arena vazia construída a partir das linhas circuncêntricas da madeira, os mesmos anéis através do qual é possível calcular a idade das árvores. A arena - local de acontecimentos, espetáculos, desde os tempos mais remotos –, no entanto, está vazia. “O teatro vazio é uma alusão ao palco social onde se desenrolam os acontecimentos, a atuação cotidiana”, explica Vanderlei Lopes.

Já em outro ambiente estão cerca de 20 esculturas que simulam páginas de jornais, todas com “notícias” ou manifestos relacionadas à construção cultural. “Trata-se de jornais fixados em bronze – esses elementos cotidianos que de tão transitórios, passam a ser passado no dia mesmo em que foram impressos, aqui, convertidos ao estatuto de monumento”, conta o artista.

Os jornais trazem imagens de explosões, objetos ou situações cotidianas incendiadas que colidem com frases de origens diversas, apropriadas ou transformadas, como imagens de diversos incêndios, como o recente que atingiu o Museu Nacional e outros mais antigos, como o do MAM, no Rio de Janeiro, e do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, além de imagens de disputas de poder e de território, como a bomba de Hiroshima e o ataque às Torres Gêmeas, no dia 11 de setembro de 2001. “Vivemos num mundo mesclado entre realidade e ficção. Aqui procuro exacerbar situações da realidade. Os jornais têm a fixação do tempo, e esses trazem imagens de transformações”, ressalta o artista, que data os jornais de acordo com a data de feitura das obras.

Nesta mesma sala, está “Demiurgo”, uma sacola de bronze azul, que flutua no ar rente à parede, como o resíduo de um vento que passou, materializando em estado de suspensão o voo desse objeto. Complementa a exposição a obra “Insônia”, um travesseiro, também em bronze, cuja ponta é dobrada, dando a impressão de ser realmente de tecido maleável, com um redemoinho modelado em sua superfície. Na parede, há a fotografia de um tornado, em diálogo com a escultura.

Formado em artes plásticas pela Unesp, Lopes possui obras em importantes coleções, como Pinacoteca Municipal e Pinacoteca do Estado de São Paulo; Coleção Itaú; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Museu de Arte Moderna de São Paulo; Museu de Arte do Rio; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo; Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto. Já promoveu individuais em cidades como São Paulo, Bogotá e Porto e participou de coletivas em Paris e Barcelona.

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SERVIÇO

“ARENA” - INDVIDUAL DE VANDERLEI LOPES

Galeria Athena (R. Estácio Coimbra, 50 – Botafogo; Tel: 2513-0703). De ter. a sex., das 11h às 19h; sáb., das 12h às 17h. Até 26/1 – Entrada franca