Em mostras simultâneas, MAM vai do plano fechado dos retratos à abertura das paisagens
Com mais de 220 obras de cerca de 140 artistas brasileiros e estrangeiros, o Museu de Arte Moderna exibe até 10 de março de 2019 duas exposições simultâneas que lançam olhares sobre dois dos principais gêneros das artes plásticas. Através das peças de seu acervo, com curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes, o MAM investiga as variedades de retratos e paisagens respectivamente abordados pelas mostras “Constelações” e “Horizontes”, abertas ontem ao público em seu segundo andar.
Desde desenhos, pinturas e esculturas, a representação desses gêneros passa por gravuras, objetos, fotografias, vídeos e instalações, nesses quatro meses de exposição.
Uma das exposições retrata um dos gêneros mais antigos da pintura de sua dimensão histórica a releituras contemporâneas em consideráveis expansões semânticas.
“Em algumas obras, nem o corpo todo aparece, apenas pedaços ou sinais”, explica Fernanda Lopes, curadora que selecionou as mais de 120 peças de “Constelações – O retrato nas Coleções MAM Rio”, entre títulos pertencentes à coleção própria do Museu de Arte Moderna, à de Gilberto Chateaubriand, e à de Joaquim Paiva.
Entre essas variações por sinais, segundo a curadora, estão trabalhos como “Cadeira careca”, da artista Márcia X. “É uma ação em que ela deixa a marca da silhueta dela em uma cadeira do Le Corbusier. Já, do João Pina, expomos uma série de fotografias do João Pina sobre a Operação Condor [ação conjunta dos governos militares na América Latina no anos 1970, incluindo o Brasil, contra grupos armados], a partir de rastros da presença dos corpos”.
Já em “Constelação” – cujo nome, no plural, o MAM pega emprestado –, Wilson Piran representa artistas como Guignard, Portinari e Mestre Valentim somente com seus nomes escritos em purpurina.
Também não faltam artistas retratados por colegas, como Milton DaCosta (1915-1988) nas cores de Djanira (1914-1979) e um expressivo autorretrato do cearense Antonio Bandeira (19221967), entre diversos trabalhos desse gênero de outros importantes expoentes do Modernismo brasileiro, como Anita Malfatti, Oswaldo Goeldi, Di Cavalcanti, Maria Leontina, Ismael Nery e Vicente do Rego Monteiro.
Por mais corriqueiro que fosse esse hábito no período modernista, o MAM lembra que, dois séculos antes, “não era qualquer um que podia ser retratado”. Especialmente da Revolução Francesa, em 1789, pinturas com retratos pessoais eram restritos a membros de famílias reais, militares de alta patente vitoriosos em guerras e integrantes do alto clero, conforme explica a curadoria no texto de apresentação de “Constelações”.
O advento da fotografia, a partir da 1839, foi mais um fator a tornar estender os retratos a pessoas comuns, que não fizessem parte de cúpulas de Estado ou igreja. As fotos, com seus registros diretos das imagens, quebraram a necessidade de se buscar sua reprodução mais fidedigna possível nas pinturas, que ganharam maior liberdade.
Curiosamente, algumas das fotografias que compõem “Constelações” estão entre suas obras mais antigas, como o retrato post morten do imperador Dom Pedro II, feito pelo francês Félix Nadar (1820-1910) na Paris de 1891, e “cartões de visita fotográficos, produzidos a partir de 1860”, como explicam os curadores.
Essas fotos seculares ainda dividem espaço com outras recentes, como da série “Going out”, desenvolvida em 2003 por Frank Rothe.
Horizonte aberto à multiplicidade
A multiplicidade de técnicas usadas em retratos se aplica também às paisagens, na exposição paralela, no mesmo segundo andar do Museu de Arte Moderna.
Em “Horizonte – A paisagem nas Coleções MAM Rio”, porém, as obras têm o plano de visão aberto, no gênero também modificado, ao longo dos anos. “Antes da fotografia, as imagens eram todas pintadas. Por isso mesmo, muitos pintaram o Corcovado, a Enseada de Botafogo, entre outras imagens-símbolo do Rio de Janeiro”, explica o curador Fernando Cocchiarale, ponderando que, embora esses cenários estejam presentes entre as pinturas selecionadas para a mostra, elas se concentram desde o século passado, com o consolidação do modernismo, e que as obras não se restringem ao Rio.
De fotografia de Marcos Chaves da Baía de Guanabara à pintura de Tomie Othake intitulada “Paisagem”, de 1952, “Horizonte” reúne mais de 100 obras do acervo do MAM, pertencentes à coleção própria e à de Gilberto Chateaubriand. São títulos de quase 70 artistas, de diferentes gerações, tais como Regina Vater, Carlos Zilio, Alfredo Volpi, Thereza Simões, José Pancetti, Daniel Murgel, Wanda Pimentel, Lucia Laguna, Cícero Dias, Ernesto de Fiori e Eduardo Coimbra.
Entre um bucólico e colorido quadro sem título de Iberê Camargo, de 1953, e a anárquica “Paisagem de Santa Teresa”, pintada em 1978 por Victor Arruda, há formas opostas de representar os planos abertos, como a foto em preto e branco da fachada do Th eatro Municipal, assinada simplesmente por Braz e sem data defi nida, mas bem antiga, a notar pelas luminárias da época e pelos calhambeques estacionados no que viria a ser conhecido como Cinelândia. As variações ainda vão da foto de móveis para fora da janela, no projeto “A casa”, de José Bechara, à mistura de técnicas de “O louco” (1971), de Waltercio Caldas”.
SERVIÇO
CONSTELAÇÕES E HORIZONTES
MAM - Av. Infante Dom Henrique, 85 - Aterro do Flamengo;
Tel.: 3883-5600.
Até 10/3.
De ter. a sex., das 12h às 18h. Sáb., dom. e feriados, das 11h às 18h.
R$ 14 / R$7 . Entrada franca às quartas.
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Quadro de Pollock vai à leilão em NY
Na quinta-feira, dia 15, o MAM põe à venda a tela “Número 16”, de Jason Pollock, em leilão na Phillips, em Nova York. Em dificuldades financeiras, o museu espera arrecadar US$ 18 milhões (cerca de R$ 67 milhões, pela cotação atual) com a venda do quadro de 56,7 centímetros, doado em 1952 pelo milionário americano Nelson Rockfeller. De acordo com Michael Sherman, responsável pela área de Comunicação da casa de leilões, já há interessados em adquiruir a obra. No entanto, em março, quando anunciou a venda do quadro, o MAM esperava uma oferta sensivelmente maior, de US$ 25 milhões (R$ 92,5 milhões).
