Estudioso e virtuoso do instrumento, Vinícius Muniz interpreta peças de Bach nas dez cordas brasileiras

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Vinícius Muniz ensaia parte de suas traduções de Bach, em Barcelona, onde vive atualmente

Com o instigante desafio de traduzir composições de Johann Sebastian Bach (1685-1750) para a viola caipira, Vinícius Muniz mostra hoje parte do resultado de sua pesquisa e prática do repertório do compositor alemão para as dez cordas do tradicional instrumento do interior brasileiro.

A iniciativa não é inédita, mas, segundo ele, um olhar sobre a obra de Bach conforme a técnica instrumental da viola desenvolvida mais recentemente, que o músico apresenta às 19h, no Espaço BNDES, no Centro.

“O projeto nasceu em 2012, quando eu cursava o mestrado em Música da Unicamp, estudando a obra do grande mestre Renato Andrade [1932-2005, violeiro notabilizado por introduzir o instrumento nas salas de concerto]. Por causa dessa minha pesquisa, eu acabei descobrindo um LP muito importante, mas muito raro também, chamado ‘Bach na viola brasileira’”, recorda Vinícius Muniz.

“Esse LP [de 1971] consiste na execução de Geraldo Ribeiro [violonista baiano, hoje com 79 anos], tocando viola a partir de transcrições de Bach feitas pelo Theodoro Nogueira [1913-2002], um compositor paulista. Ele me chamou muito a atenção – primeiro pela execução brilhante do Geraldo Ribeiro; depois, pela seleção das músicas e pela forma com que o Theodoro fez essas transcrições. O resultado é muito especial e muito particular de uma época, quando a viola caipira instrumental ainda dava seus primeiros passos”, prossegue o músico no vídeo gravado para divulgação de seu álbum “J.S.Bach – Viola Brasileira”, em que atualiza essa leitura.

Muniz explica que seu ponto de partida “foi imaginar como seria interpretar a obra de Bach na viola caipira a partir do vocabulário técnico atual. Desde então, meus esforços têm sido no sentido de encontrar um equilíbrio entre esses dois universos: de um lado, a obra de Bach, monumental na história da música instrumental; do outro, a viola caipira brasileira. Meu objetivo sempre foi o de combinar esses dois universos longe de estereótipos, sem pré-concepções”.

Com direção musical do produtor e violinista Esdras Rodrigues, o álbum, lançado no ano passado pela gravadora VVT Ideias Culturais se divide nos sete movimentos da “Partita nº 3 em Fa maior, BWV 1006”, mais quatro das “Variações Goldberg, BWV 988” e outros quatro da “Sonata nº 1 em Sol menor, BWV 1001”, em um total de 15 faixas.

“Tenho chamado esse trabalho de ’tradução’, porque, por exemplo, no contexto literário, não basta fazer a tradução literal de uma palavra dentro de um texto, é necessário saber o significado daquela palavra para aquele autor, dentro daquele contexto histórico. Da mesma forma, aqui não basta ler as notas escritas por Bach nas partituras; é preciso entender a estrutura composicional, a linguagem do compositor, o período em que ele trabalha e tentar encontrar uma correspondência aqui na viola. Ao final, se trata de um processo de muitas escolhas… bastante árduo, muito desafiador, porém também muito estimulante”, ressalta o violeiro, ex-integrante da Orquestra Filarmônica de Violas e atualmente radicado em Barcelona, na Espanha, onde faz pós-graduação em Negócios Globais e Música na Universidad Pompeu Fabra.

Além das três peças de Bach, Vinícius Muniz ainda interpreta “Chora,viola”, de Tião Carreiro e Lourival dos Santos. Nessa composição original para seu instrumento e, também, nas “Variações Goldberg”, o violeiro tem a participação do produtor Esdras Rodrigues na rabeca.

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SERVIÇO

VINÍCIUS MUNIZ: J. S. BACH - VIOLA BRASILEIRA

ESPAÇO BNDES. Avenida República do Chile, 100 - Centro (ao lado da Estação Carioca do Metrô. Tel.: (0800) 702-6337. Hoje, às 19h. Entrada gratuita, com retirada de senhas a partir das 18h, ou pela internet (www.bndes.gov.br) até as 14h.