Rembrandt com restauração ao vivo e a cores

Trabalho de recuperação da tela célebre "Ronda noturna", de 1642, será transmitido em tempo real pela internet

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Inovadora em sua época, a tela retratava uma tropa em movimento. A luminosidade original do quadro foi se perdendo após receber várias camadas de verniz

AMSTERDÃ - A “Ronda noturna”, uma das telas mais célebres de Rembrandt, e principal atração do Rijksmuseum, de Amsterdã, vai passar por um processo de restauração e o processo será acompanhado em tempo real tanto dentro da galeria quanto pela internet. O site do museu transmitirá os trabalhos da equipe responsável pelo projeto ao vivo. “A ‘Ronda noturna’ é uma pintura tão espetacular e importante e desperta tanto interesse do público que vem ao nosso museu que decidimos continuar a mostrá-la ao público mesmo durante os trabalhos de restauração da obra”, explica Taco Dibbits, diretor do museu.

O quadro será colocado numa divisão especial, feita em vidro, com sete metros quadrados, concebida pelo arquiteto francês Jean-Michel Willmotte. Lá dentro, os especialistas poderão trabalhar e, ao mesmo tempo, serem observados pelos visitantes do museu. “Será uma oportunidade única para o público. É como ter acesso à cozinha para ver o trabalho do chef”, compara. Além disso, o museu terá sempre disponíveis alguns conservadores, que irão responder às questões dos mais de dois milhões de pessoas que visitam anualmente o espaço.

Centenas de especialistas do museu e da Universidade de Tecnologia de Delft, cidade no Norte da Holanda, assim como de várias outras instituições de todo o mundo, estarão envolvidos no processo. A restauração começará em julho do próximo ano. Antes disso, o museu vai reunir todo o seu acervo de mais de 400 obras de Rembrandt numa exposição alusiva aos 350 anos da morte do artista. A exposição será aberta em 15 de fevereiro.

A “Ronda noturna” mede 3,80 metros de altura por 4,54 metros de largura. O seu nome original é “A Companhia do capitão Frans Banning Cocq e do tenente Willem van Ruytenburch preparando-se para avançar” e representa uma companhia de milicianos, encabeçada por ricos mercadores de Amsterdã, pintada de forma dinâmica, prestes a marchar, em vez de ser retratada em fila ou num banquete anual, como era comum na época. A pintura do gênio holandês é uma imagem coletiva, na qual cada personagem é retratado individualmente com grande precisão, ao ponto de serem reconhecidos não só por suas fisionomias como também por suas armas.

Concluída em 1642, após três anos de trabalho, a tela tem uma história atribulada, que inclui a perda de parte de sua superfície, vários centímetros que lhe foram cortados lateralmente e do topo em 1715, quando foi transferida da sede das milícias para a sede da Câmara da capital holandesa. O tempo e uma grande sequência de aplicação de vernizes tiraram o brilho e luminosidade do original, o que levou a obra ser rebatizada como “Ronda noturna”. O quadro chegou ao Rijksmuseum em 1885. Por volta de 1947, um trabalho de limpeza na tela revelou tratar-se de uma cena diurna.