'A Busca' estreia nesta quinta-feira no Teatro Serrador e marca os 30 anos do Moitará

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A Busca está ligada à cena-poema, gênero pautado em efeitos sensoriais para construção da narrativa

Fundado pela atriz Erika Rettl e pelo diretor Venício Fonseca no Rio, o Grupo Teatral Moitará comemora 30 anos de trabalho continuado. Nestas três décadas, construiu repertório e tornou-se referência na linguagem da Máscara Teatral, estrela-guia de suas atividades de pesquisa e espetáculos. Também formou gerações de atores nesta linguagem, é requisitado por grupos e artistas e TV, realizou exposições e livros, constituiu o Ponto de Cultura “Palavras Visíveis”, que também está fazendo aniversário - celebra 10 anos de capacitação de atores surdos, que hoje rodam o país em apresentações - e formou uma sede que é farol para ministrar cursos e oferecer biblioteca para pesquisas sobre artes cênicas no Rio.

Todas estas conquistas, bem como o aprofundamento na linguagem da máscara, sublinham cada ponto do caminho percorrido pelo espetáculo "A Busca", encenação que marca 30 anos de atuação do Moitará no teatro contemporâneo do Brasil. "A Busca" estreia nesta quinta-feira (4), às 19h30, no Teatro Serrador, no Centro do Rio. Nem comédia, nem drama, "A Busca" está ligada à cena-poema, gênero pautado em efeitos sensoriais para construção da narrativa. Efeitos estes que, somados ao trabalho da atriz Erika Rettl, servem de fio condutor para contar a história que será vista pela plateia. É a segunda montagem de uma trilogia sobre o gênero. A primeira foi Imagens da Quimera, de 2003, indicada ao Prêmio Shell (música).

"A Busca fala da necessidade de resgatar a matriz feminina como potência arquetípica presente em todos os seres. Vai ao encontro de uma consciência que está interligada a grande rede que nutre a Vida. Espero que A Busca possa, de alguma forma, tocar este feminino, que sente, que cuida e que está latente em cada espectador. Que cada pessoa ao sair da apresentação seja motivada a acreditar que a sua busca em alimentar uma conexão sincera e comprometida com a Vida vale a pena", diz Erika Rettl, intérprete.

Cabe a ela – ora com, ora sem máscaras, ora com, ora sem texto -, propiciar ao espectador uma contemplação através de sua interpretação. Lança mão de elementos que exploram a sensorialidade e que compõem o cenário.

“Traçamos um paralelo entre várias narrativas sobre o feminino, estabelecemos uma dramaturgia acerca da importância da Vida. A amplitude e relevância deste tema alicerçam a estética da cena-poema, potencializam a relação de identificação da plateia provocando uma reflexão sobre o desenvolvimento da Vida no planeta”, destaca o diretor Venício Fonseca.

A Busca propõe investigar a relação de equilíbrio entre os princípios masculino e feminino, o yin e yang, as forças e relações originárias que formam todos os seres.

Primeiras ideias vieram de máscara de três faces

As primeiras ideias sobre este espetáculo vêm de uma máscara de três faces, criada pela atriz Erika Rettl no distante ano de 1995. A máscara é inspirada nas Parcas ou Moiras, divindades da mitologia greco-romana que controlam o destino dos mortais e determinam o curso da vida humana, decidindo sobre vida e morte. Durante a pesquisa, ao confrontar as possibilidades do jogo cênico dessa máscara, que possui características de um Ser fantástico, surgiu a necessidade de criar outras máscaras individualizando cada uma das três faces para personificar o sagrado, o animal e humano, presentes na tríade do feminino.

Venício Fonseca conta mais sobre a criação do roteiro, a partir de aspectos do mítico feminino através de lendas e mitos de muitas civilizações. Livros como “Pistis Sophia”, que revela a figura feminina, análoga à alma humana e simultaneamente um dos aspectos femininos de Deus, "Solombra" último livro da poetisa Cecília Meireles, e “A arte de semear estrelas”, de Frei Betto, entre outros, serviram à investigação.

A atuação de Erika Rettl tem elementos de destaque. A começar pela máscara que é utilizada na cena inicial, criada por ninguém menos que o italiano Donato Sartori, grande artista e mascareiro, morto em 2016. Sartori foi parceiro do Moitará desde a origem do grupo. Promete chamar atenção também a máscara da Babaiaga, a "mulher Loba", confeccionada por Venício Fonseca. “Consideramos a máscara o eixo da nossa pesquisa sobre dramaturgia de ator. É muito significativo a máscara ser o símbolo totêmico do Teatro. Conhecer e conviver com o Sartori foi um divisor de águas, logo nos primeiros anos do Moitará. Antes da vinda do Sartori ao Rio, nos anos 1980, a máscara era vista mais como adereço. Muitos artistas e grupos brasileiros beberam desta fonte. Pudemos compreender que a máscara é um instrumento que detém uma linguagem própria”, diz Erika.

Exuberante em sua expressão corporal para compor a protagonista, Erika Rettl, ex-bailarina, conduz a interpretação dos arquétipos femininos que nutrem A Busca. Várias camadas compõem a história que é contada. Por detrás de uma cortina preta, que permite ver sua silhueta, o diretor Venício Fonseca executa músicas e sonoplastia com percussão e voz. Ao final da peça, no saguão do Teatro Serrador, a atriz e o diretor vão confraternizar com o público tomando chá. “Precisamos refletir sobre a importância do Feminino para o equilíbrio da Vida. A Busca fala desse cuidado com a Vida interligando o micro e o macrocosmo, indivíduo e universo. Estamos falando da necessidade do respeito e do amor, no meio de tantos conflitos que ameaçam a existência no planeta, conclui Venício.

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Serviço

A Busca – Roteiro, texto, dramaturgia e atuação: Erika Rettl e Venício Fonseca. Direção: Venício Fonseca. Dramaturgia: Erika Rettl e Venício Fonseca. Estreia dia 4 de outubro, às 19h30. Temporada: de 4 a 27 de outubro de 2018. Sessões: quinta, sexta e sábado, às 19h30. Local: Teatro Serrador. Endereço: Rua Senador Dantas, 13 – Cinelândia, Rio de Janeiro – RJ (Metrô Estação Cinelândia). Ingressos: R$ 40, R$ 20, R$ 15 - lista amiga. Informações: (21) 2220 5033. Classificação indicativa: 16 anos. Duração: 53 min