Centro audiovisual nas Casas Casadas

Por Affonso Nunes

RioFilme publica edital para reformular complexo formado pelas Casas Casadas

Região com uma demanda reprimida em salas de exibição de cinema de repertório, agravada com o fechamento do Estação Paissandu, a área formada pelos bairros de Laranjeiras, Cosme Velho, Flamengo e Catete em breve ganhará quatro cinemas. A RioFilme publica hoje no “Diário Oficial do Município” edital de licitação para promover uma ampla reformulação no complexo formado pelas Casas Casadas e sua transformação no Centro de Referência do Audiovisual Carioca, um espaço que vai abrigar, além das salas de projeção, bistrô, livraria e um espaço multiuso.

O investimento estimado para o projeto é de R$ 11 milhões, sendo R$ 2,9 milhões para as obras previstas para durar sete meses, e o restante para o pagamento da outorga para um período de concessão de 15 anos, renováveis por mais 15. A previsão de entrega do espaço à população é para junho do próximo ano. “Este prazo de 15 anos prorrogáveis é a garantia de viabilidade econômica da licitação. Num cenário pessimista, o investimento se paga em quatro e meio”, acredita o distribuidor Marco Aurélio Marcondes, que, desde janeiro, preside a RioFilme e tomou para si o desafio de fazer com que finalmente as Casas de tornem um espaço difusor de cultura.

Charme e abandono

O charmoso complexo de seis grandiosas casas em formato de vila com arquitetura em estilo neoclássico foi erguido entre os anos de 1874 e 1885 no coração de Laranjeiras e passou por poucas e boas. Em 1970, um especulador adquiriu todas as casas com o objetivo de demolir tudo numa época em que o bairro vivia uma onda de expansão imobiliária. Os moradores de Laranjeiras se mobilizaram para evitar a demolição e o caso se arrastou até 1979, com o tombamento das casas pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural. Nos anos 1990, as casas foram invadidas por sem-teto e quase destruídas por um incêndio. Em 1994, a Prefeitura adquiriu o móvel, que passou a a abrigar a RioFilme.

Os moradores lutavam para transformar o local num complexo cultural. Uma licitação nesse sentido chegou a ser realizada, mas o vencedor não teve fôlego financeiro para construir cinema. “O edital está cercado de cuidados. Temos os licenciamentos em ordem e vamos oferecer ao vencedor uma carência de 18 meses para o início do pagamento da outorga mínima de R$ 45 mil”, explica Marcondes, acrescentando que empresas atuantes no segmento cultural participaram das quatro audiências públicas e deram sugestões para a confecção do edital. “O edital permite a participação de um operador único ou da formação de um consórcio”, reforça.

Os envelopes com as propostas deverão ser entregues no dia 6 de novembro e o resultado da licitação será conhecido no dia 30. O Centro de Referência do Audiovisual Carioca será formado por uma sala de exibição com capacidade 68 pessoas e três para 59. Todas poderão ter projeções simultâneas e Marcondes planeja transmitir ao vivo nas telonas espetáculos de óperas, balés ou grandes competições esportivas. A programação para o local será definida em conjunto entre a RioFilme e os futuros operadores. O projeto prevê ainda um restaurante com área de 150m², uma livraria com capacidade para 2.500 exemplares e uma sala multiuso que poderá abrigar apresentações musicais de pequeno porte, exposições, saraus e apresentações teatrais.