Pérolas do choro

Bandolinista e pesquisador paulista Fernando Dalcin mostra onze canções inéditas de Jacob do Bandolim no ano de seu centenário

Por Affonso Nunes

Os músicos Magno Júlio (pandeiro), Pedro Cantalice (cavaquinho), Fernando Dalcin (bandolim), Yuri Bittar (violão seis cordas) e Yuri Reis (violão sete cordas)

No rastro das celebrações do centenário de nascimento de Jacob do Bandolim, o bandolinista e pesquisador paulista Flávio Dalcin apresenta hoje, às 19h, no Centro Cultural Justiça Federal, um show com obras inéditas de um dos maiores nomes do chorinho. Este não é o primeiro trabalho com inéditas do músico – Déo Rian já havia gravado dois álbuns com canções não registradas em vinil pelo compositor que morreu em 1969 – mas o baú parece não ter fundo e revela volumoso material. “Jacob achava que o Brasil era um país sem memória e começou a catalogar todos os seus trabalhos”, conta o intérprete. São inúmeras fotos, partituras, 200 fitas de rolo com os áudios dos ensaios, dos saraus que organizava em sua casa, em Jacarepaguá, e programas de rádio em que ele se apresentava.

Aos amigos e parentes, Jacob sempre dizia que o arquivo era a sua vida. Na tarefa, passava dias e madrugadas datilografando fichas nas quais catalogava suas quase 6 mil partituras, suas fotos. E gravava, ainda, centenas de programas de rádio, discos e saraus em seus gravadores, constituindo o maior arquivo conhecido do gênero choro. Também guardava capas de discos, recortes de jornal, cartas e bilhetes e partituras de outros compositores. Em 2007, por iniciativa de Hermínio Bello de Carvalho e de Elena Bittencourt, filha de Jacob, foi firmado um convênio entre o Instituto Jacob do Bandolim e o Museu da Imagem e do Som para que as fitas fossem digitalizadas. O trabalho levou sete anos para ser concluído.

“Jacob tinha um processo criativo intenso e por ter morrido de forma precoce, aos 51 anos, deixou muito material. Ouvindo as fitas ou vasculhando as partituras, podemos encontrar canções incompletas como ‘Noite sem fim’ e ‘Escravidão’”, comenta o pesquisador.

O bandolinista paulista e seu regional formado pelos cariocas Pedro Cantalice (cavaquinho), Yuri Reis (violão sete cordas), Yuri Bittar (violão seis cordas) e Magno Júlio (pandeiro) vão executar 14 canções de Jacob do Bandolim, sendo 11 inéditas. “Não poderíamos render um tributo a Jacob em seus cem anos, sem tocar canções como ‘Vibrações’, ‘Cabuloso’ e ‘Noites cariocas’, que são clássicos do gênero, presentes em qualquer roda de choro”, explica o instrumentista.

Entre as inéditas, Dalcin destaca “Pau de sebo” e “Jeitoso”: “’Pau de sebo” foi uma das canções encontradas nas fitas de rolo, em meio a 400 horas de gravação. E ‘Jeitoso’ é a última composição dele. Foi escrita no dia 9 de agosto de 1969, um sábado. Ensaiou com o regional dele no dia seguinte, e faleceu no dia 13”, lembra.

Natural de São Paulo, Dalcin iniciou-se aos 9 anos de forma autodidata, tocando originalmente cavaquinho. “Por ter iniciado muito jovem, posso dizer que tive o privilégio de crescer nas rodas de choro tradicionais de São Paulo e pude conviver e, sobretudo, aprender com os antigos chorões. Como toda tradição oral, o choro se aprende na prática, no caso, nas rodas. É como uma graduação em música”, compara o solista, que vai lançar em breve o CD que reúne o repertório do show. “O álbum já está pronto e será lançado também nas plataformas digitais, como Spotify e YouTube.

------------

SERVIÇO

JACOB DO BANDOLIM - OUTRAS COMPOSIÇÕES

Centro Cultural Justiça Federal (Av. Rio Branco, 241 – Cinelândia; Tel.:3261-2550)

Hoje, às 19h

R$ 30 e R$ 15