Jornada da pureza: confira a crítica de "Takara: A noite em que nadei"

Por Frank Carbone

O pequeno Takara conhece seu pequeno mundo

Não bastava para Damien Manivel entregar no circuito o melhor filme do ano (“O parque”), ele teve que voltar pra pintar de azul essa jornada delicada de descobertas. Ao lado de Kohei Igarashi, Manivel acompanha 24 h da vida de Takara Kogawa, um andarilho de seis anos que acompanha o pai, que sai de madrugada para trabalhar no mercado de peixes. Ao amanhecer, ele pega o rumo para a escola, mas, no meio do caminho... bom, Takara vai provar a máxima de que o melhor da viagem é o caminho e vai “viajar”, com e sem aspas.

“O balão vermelho”, de Albert Lamorisse, parece mais do que uma referência, mas uma inspiração tão ambiciosa quanto singela. Os diretores parecem dispor de um ideal libertário de cinema, o que se materializa em uma dissolução de uma narrativa propriamente dita. De caráter observacional, o filme abre mão dos diálogos para representar o que de mais puro poderia haver no naturalismo.

Ao dar livre arbítrio ao objeto filmado e permitir que a espontaneidade com que o caminho é traçado mova as intenções, o filme vai além de seguir uma criança por uma cidade nevada. Acompanha, assim, o processo de iniciação emocional de um ser humano e também mapeia a interação entre o desabrochar da natureza e o surgimento de um novo olhar livre da perversidade e da malícia, puro e capaz de transcender ao estabelecido no cinema. 

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TAKARA: A NOITE EM QUE NADEI: *** (Bom)

Cotações: o Péssimo; * Ruim; ** Regular; *** Bom; **** Muito Bom