As mancadas nas previsões do Banco Central

Por Gilberto Menezes Côrtes

Chego a achar graça quando o Banco Central, que está prevendo crescimento do PIB de 0,9% para este ano, segundo o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) do 3º trimestre, divulgado nesta quinta-feira,26 de setembro, anuncia que está prevendo o dobro de crescimento para 2020: 1,8%.

Nada mais furado do que as previsões do Banco Central.

Hoje mesmo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), principal órgão de planejamento e previsões do governo, dirigido pelo respeitado economista Carlos Von Doellinger, revelou sua previsão para 2029: + 0,8%.

Em junho deste ano, o Banco Central previu, no RTI do 2º trimestre, que a economia ria crescer 0,8% este ano e 2,20% em 2020.

Mas três meses antes, em março de 2019 a previsão era de alta de 2% para 2019 e cerca de 2,4% a 2,5% para 2020.

Banco Central não acerta uma

Detalhe, este ano, ao contrário do ano passado, não houve uma greve dos caminhoneiros para quebrar a produção e reduzir as previsões a quimeras.

Como se sabe, o PIB de 2018 cresceu apenas 1,1% (igual a 2017). No fim de 2017, as previsões eram de que o PIB cresceria da ordem de 2,5%.

O pior é que mesmo após o impacto da greve dos caminheiros, que tirou a economia do leito da estrada em maio e junho, a diretoria de Política Econômica do Banco Central, que já era comandada pelo diretor Carlos Viana de Carvalho, que fez hoje, em 26 de setembro, a apresentação do RTI para 2019 e 2020 deste ano, ainda previa alta de 2,20% para o PIB deste ano.

Em 12 meses, levando em conta a última previsão de 0,9%, a estimativa do PIB encolheu 59%.

Consequências do erro

O erro de planejamento tem consequência muito sérias na economia. O Orçamento Geral da União de 2019 foi elaborado, em julho e agosto de 2018 pela equipe do Ministério do Planejamento que era comandado por Esteves Colnago, que é secretário-adjunto de Planejamento do atual ministro da Economia, Paulo Guedes.

Nos cálculos do governo, o PIB iria crescer de 2,2% a 2,4% este ano e a inflação iria ficar entre 4% e 4,2%.

Com dupla frustração no crescimento e na inflação, que pode terminar o ano entre 3,4% e 3,5% segundo as últimas projeções do mercado e do BC, a arrecadação ficou muito aquém do esperado.

Isso explica, em boa parte, o tremendo aperto do OGU, com o déficit primário do Governo Central (receitas menos despesas, sem contar os custos das dívidas interna e externa) estava estimado em R$ 139 bilhões. O déficit geral do setor público seria reduzido a R$ 132 bilhões com o superávit de R$ 7 bilhões de estados e municípios.

O próprio presidente Bolsonaro já disse em agosto, que não havia dinheiro, situação que tem levado a um abre e fecha torneiras do Orçamento, com contingenciamento para quase todos os setores.

Barbas de molho para 2020

Assim, embora a economia venha reagindo positivamente lentamente, como o Caged indicou a melhora geral do quadro de emprego, com crescimento do setor de serviços, o maior empregador do país, e a quinta evolução seguida da construção civil, ainda é prematura confiar na alta de 1,9% para o PIB de 2020.

Há um ano, o mercado apostava em crescimento superior a 2,5%.

Para este ano o Bradesco espera 0,8%: para 2019, 1,9% como o Banco Central.

Já o Itaú espera alta de 0,8% para o PIB deste ano e de 1,7% para 2020.

Baixar a Selic só não faz o PIB reagir

É verdade que alguns fatos afetaram a previsão do PIB deste ano.

Do lado negativo, a tragédia nas instalações de Brumadinho (MG), da Vale, provocou forte queda na produção de minério de ferro do país. Paradas de manutenção (previstas e imprevistas) nas plataformas da Petrobras derrubaram a produção. Paralelamente, com a venda de campos de petróleo maduros, a estatal prevê queda de quase 2% em sua produção este ano.

A mudança no quadro do comércio exterior já estava prevista desde o ano passado quando começaram as escaramuças entre Estados Unidos e China e agravou-se a crise político e econômica da Argentina, principal mercado dos automóveis e manufaturados brasileiros. Os empresários do setor previam quedas desde o fim do ano passado.

Falta o BC fazer o dever de casa e estudar melhor os impactos do comércio exterior, sobretudo com a maior abertura da economia brasileira. No passado recente o BC reconheceu ter errado no seu modelo de avaliar os impactos da alta da energia elétrica e da baixa dos preços dos alimentos.

Alimentos X dólar e petróleo

Por sinal, a produção agropecuária está crescendo muito além do que o previsto. No 1º semestre, o BC esperava crescimento de 1,1%, agora revisto para 1,8%, devido à ampliação das estimativas da colheita de grãos.

O que gera impacto positivo de os preços da alimentação neutralizarem, em parte, o impacto da escalada recente do preço do petróleo, após os atentados na Arábia Saudita, e a alta do dólar, alimentada pela Argentina e (como bem observa o Departamento Econômico do Bradesco) pelo descompasso entre o maior crescimento da economia dos Estados Unidos e das demais nações desenvolvidas – fator adicional para valorização o dólar nos mercados globais