Dólar tem queda em todo o mundo
Em nova jornada de baixas quase globais do dólar em relação às principais moedas – o euro sobe 0,33% frente ao dólar, a libra esterlina valoriza 0,27%, o dólar australiano avança 0,58% e as quedas mais acentuadas são de 1,08% diante do iene japonês e de 0,32% contra o franco suíço, de 0,24% frente ao dólar canadense e de 0,26% diante do peso mexicano, o real avançava 0,48% ao meio-dia, com o dólar cotado a R$ 5,6900. Esta é a menor cotação desde a última semana de outubro.
O que pesa na valorização do real em 2025
O economista Marcelo Gazzano, do Departamento de Estudos e Pesquisas Econômicas do Bradesco, fez um estudo comparativo sobre o comportamento das principais moedas emergentes diante do dólar desde o final do ano passado até o dia 17 de fevereiro. A maior recuperação (19,4%) é do rublo russo, antecipando a inclinação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para um fim favorável ao governo de Vladimir Putin na guerra com a Ucrânia. O real vem em segundo lugar, “com uma recuperação expressiva, acumulando valorização de 8% nos dois primeiros meses do ano. Esse desempenho coloca a moeda brasileira entre as de melhor performance global no período, sugerindo que fatores internos foram determinantes para sua apreciação recente”, diz o economista.
Para avaliar se a dinâmica do câmbio foi impulsionada por vetores domésticos ou externos, Gazzano estimou uma regressão explicativa do real. As variáveis independentes utilizadas incluem: o índice DXY (que mede a força do dólar frente a seis moedas de economias avançadas); um índice de moedas de 22 países emergentes, o diferencial de juros entre Brasil e EUA; o CDS de 5 anos do Brasil e os termos de troca do país. De maneira intuitiva, tanto o DXY quanto o índice de moedas emergentes podem ser considerados fatores externos que influenciam o comportamento do real. Por outro lado, os termos de troca, o diferencial de juros e o resíduo dessa regressão refletem aspectos peculiares da economia brasileira.
O diferencial de juros é fruto direto da política monetária doméstica, explica. Ainda que o Brasil não siga um regime de câmbio fixo, os efeitos da política monetária impactam o mercado de câmbio. Os termos de troca não são um fator doméstico que depende de alguma política específica. No entanto, não entendemos que esse seja um fator externo, pois não necessariamente é um fator comum a outros países. A interpretação do CDS, no entanto, é menos direta. Embora, em tese, o CDS deva mensurar o risco específico do Brasil, seu comportamento também é afetado por movimentos globais de maior ou menor apetite ao risco, gerando uma correlação significativa entre os CDS dos países emergentes.
Causas internas e externas
De acordo com as suas estimativas, o CDS, em dezembro, elevou a cotação do real em cerca de R$/US$ 0,30 e praticamente devolveu esse movimento nas primeiras semanas de 2025. Neste ano, outro fator doméstico que contribuiu para a apreciação do real foi o resíduo da regressão, que ficou em cerca de 17 centavos por dólar. O diferencial de juros jogou contra a divisa brasileira, adicionando R$/US$ 0,06 em relação ao final de 2024. E o os termos de troca estão praticamente de lado. Dentre os fatores externos, a valorização da cesta de moedas emergentes foi o que mais contribuiu para a apreciação do real (7 centavos), seguida do DXY (1 centavo). O desempenho da moeda brasileira no início do ano contrasta com nossa projeção de câmbio de R$ 6,00/US$ para o final do ano.
Ele entende que “ainda existem diversos riscos no horizonte que impedem uma aposta mais convicta para a taxa de câmbio, mesmo com fundamentos externos indicando fatores de apreciação, seja olhando o passivo externo líquido, os termos de troca, o diferencial de juros ou o câmbio real. Afinal, há uma elevada incerteza em relação ao cenário global. A decisão dos EUA de elevar as tarifas de importação – ainda cercada de muitas incertezas quanto aos produtos, países e implementação – aumenta a probabilidade de um cenário de menor crescimento da economia global e maior pressão sobre os preços”. Nesse contexto, assinala que “pode haver aumento na aversão ao risco e fortalecimento do dólar. Internamente, os riscos fiscais continuam presentes. Nos próximos meses, a tramitação das compensações pela desoneração do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5.000 (em 2026) estará no foco dos debates”. Ante as incertezas externas e locais, mantém projeção conservadora para a taxa de câmbio.