Resistência da inflação eleva Selic

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Por Gilberto Menezes Côrtes

Gilberto Menezes Cortes

A alta de 0,59% no IPCA-15 de maio, com disseminação de aumento em 74,9% dos preços (pouco menos que os 78,7% de abril) e, apesar da queda na energia elétrica, com aceleração no núcleo de inflação de 0,86% em abril para 1,1% em maio, fazendo a taxa em 12 meses saltar de 12,04% para 12,20% e a inflação de serviços alcançar 1% em maio (0,60% em abril e 0,30% em março), levou bancos e consultorias a apostarem que o Comitê de Política Monetária do Banco Central vai prolongar o processo de alta da taxa Selic.

O Bradesco acredita que haverá um último aumento de meio ponto percentual em 15 de junho, para 13,25%. A LCA Consultores, que refez ontem as projeções para o PIB e a inflação de 2022 e 2023, prevê também 13,25%. Mas a Genial Investimentos está prevendo alta de 0,50 p.p. na próxima reunião e um aperto adicional de 0,25% (Selic em 13,50% em 2 de agosto).

O Departamento de Estudos Econômicos do Itaú é mais pessimista e prevê dois aumentos de 0,50% em junho e agosto, levando a Selic a encerrar o ciclo em 13,75% em agosto. Em compensação, prevê que a taxa recue para 8,75% em 2023, menos que os 9% previstos pelo Bradesco e os 9,50% estimados pela LCA.

 

Mundo cresce menos; Brasil mais

A LCA refez suas projeções para a economia mundial, em função dos impactos do conflito causado pela invasão da Ucrânia pela Rússia e pelas restrições de circulação em importantes cidades chinesas, para conter a disseminação de surtos da Covid-19, que afetam a cadeia mundial de suprimentos. Mas o Brasil saiu ganhando este ano, embora as projeções para 2023 tenham se reduzido.

A LCA Consultores reduziu de 2,8% para 2,4% a estimativa de crescimento do PIB dos Estados Unidos. Para a China, a queda foi de 4,8% para 4,1%. Entretanto, a demanda por commodities agrícolas, diante da interrupção dos suprimentos da Ucrânia (o maior produtor da Europa) e o encarecimento dos fertilizantes e combustíveis (fornecidos pela Rússia), o Brasil pode tirar vantagens.

Assim, diante do bom desempenho esperado para o PIB do 1º trimestre deste ano, que o IBGE divulga no dia 2 de junho, a LCA reviu de 0,7% para 1,6% a previsão de crescimento da economia brasileira este ano. Essa indicação já vinha sendo feita desde abril.

 

A miragem de Guedes

Uma semana após dizer que “o inferno (inflacionário) brasileiro tinha ficado para trás” e estava em descendente (ao contrário das economias do 1º mundo, que lidavam com o problema agora, elevando as taxas de juros, serviço que o Banco Central iniciara em março de 2021), o ministro da Economia (desmentido pelo IPCA-15 de maio, que mostrou resistência da inflação a ceder do patamar de dois dígitos (a menos que aprove a redução do ICMS de combustíveis, energia elétrica e comunicações para 17% e reduza mais IPIs e impostos para tentar derrubar a inflação por decreto, incluindo o congelamento dos preços da Petrobras, se conseguiu mudar, de fato, o comando e a governança da empresa, que tem capital aberto) voltou a ver miragens esta semana no “Forum Econômico Mundial”, em Davos, Suíça.

Paulo Guedes disse que a economia brasileira está em crescimento, ao contrário das economias mais desenvolvidas. Deve estar faltando algum termo na equação do economista que se especializou em matemática pura, no IMPA, onde foi professor.

Em 2021, após a recessão quase geral de 2020, que fez a economia mundial encolher 3,1% (a China foi das raras exceções ao crescer 2,3%), o mundo voltou a crescer 6,1%, os EUA avançaram 5,7%, a Zona do Euro cresceu 5,2%, a China acelerou 8,1% e o Brasil, que tinha caído 3,9% em 2020, avançou 4,6%.

Mas as previsões deste ano e de 2023 não chancelam o raciocínio de Guedes. Todas as economias vão desacelerar, em especial EUA e China, mas o Brasil terá redução mais brusca de marcha, com previsão de crescimento de apenas 1,5% (previsão do seu Ministério) a 1,6% este ano (como prevê a LCA) e para 2023 a retração será ainda maior: o governo espera 1% e a própria LCA, ao mesmo tempo que reviu para mais a projeção deste ano, reviu de 1% para 0,8% a taxa de 2023. O Bradesco tem a mesma visão: alta de 1,49% no PIB deste ano e recuo para apenas 0,48% em 2023.

Um dos motivos da previsão menor é a manutenção de juros elevados em 2023 pelo Copom, para tentar fazer a inflação retornar ao centro da meta no próximo ano (3,25% + 1,50% de tolerância para cima = 4,75%), após dois estouros seguidos em 2021 e 2022. O Bradesco prevê que a Selic feche em 9% em dezembro de 2023. A LCA Consultores prevê 9,50%.

 

Labaredas de fogo

Maio deve manter a taxa de inflação em 12 meses acima de 12%. A LCA está prevendo inflação pelo IPCA cheio de 0,62% em maio, enquanto o Itaú espera 0,60%. Nos dois casos, como o IPCA subiu 0,83% em maio de 2021, a taxa acumulada em 12 meses, que atingiu 12,30% em abril, continuaria acima de 12%: 12.04% se a previsão do Itaú se confirmar; e em 12,06% se a projeção da consultoria se confirmar.

O governo Bolsonaro não está dando sorte ao mexer com fogo. No episódio das denúncias de corrupção que envolveram o então ministro da Educação, Milton Ribeiro, em abril, o presidente Jair Bolsonaro fugiu ao lugar comum. Em vez de dizer que punha a mão no fogo pela honestidade do seu ministro, disse que “poria a cara no fogo” por ele. Saiu chamuscado e demitiu o ministro três dias depois.

Agora, com boas intenções, Paulo Guedes disse que o inferno inflacionário tinha passado. Mas boas intenções não foram suficientes para debelar as pressões inflacionárias e Paulo Guedes vai queimar a língua, mais uma vez.

 

Vitória em 2022

Em 2017, o juiz Sérgio Moro condenou executivos do grupo Schain a penas de sete a 12 anos de prisão por superfaturamento em contratos de aluguel de sonda de perfuração de petróleo para a Petrobras, em conluio com funcionários da estatal, que confessaram os delitos envolvendo, principalmente o navio-sonda Vitória 2000.

Pois esta semana, uma turma do Superior Tribunal de Justiça decidiu anulou o processo, que não deveria correr na 13ª Vara Federal de Curitiba (PR), mas no Rio de Janeiro. Essa vitória em 2022 para ser a brecha para outros grupos tentarem e mesma pirotecnia jurídica e enterrarem de vez a Lava Jato. Só falta a Petrobras ou a Vara de Curitiba serem obrigados a devolverem os butins de crimes já confessados.