Bradesco prevê PIB de 0,5% em 22 e 23

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Por Gilberto Menezes Côrtes

Gilberto Menezes Cortes

Às vésperas de divulgar seu balanço de 2022, o Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco anunciou nesta, 2ª feira, 7 de janeiro, a revisão do seu Cenário Macroeconômico para a economia mundial e a brasileira. Chama a atenção o pessimismo do 2º maior banco privado do país sobre o Brasil, que só crescerá 0,5% este ano, repetindo a dose em 2023.

Só em 2024 o PIB teria crescimento mais robusto, de 2%, mas a taxa cairia para 1,70% em 2025 e 2026. Em setembro de 2021, o Bradesco previa alta de 1,8% no PIB em 2022, taxa reduzida a 1,6% em outubro e a 0,75% em novembro. E o banco chegou a esperar até setembro de 2021 um crescimento do PIB de 2,5% para 2023 e de 3% para 2024 em diante.

Em termos mundiais, os impactos da variante Ômicron “trouxe novos desafios para as cadeias globais e a esperada desinflação vinda dos preços de commodities não deve acontecer no curto prazo”. O Banco manteve, contudo, a precisão de aumento de 4,3% para o PIB mundial. A China deve crescer 5,3% este ano (8% em 2021) e os Estados Unidos e a Zona do Euro avançarão 4,1%, também menos que os 5,2% e os 4,8%, respectivamente, de 2021.

Uma das pressões inflacionárias externas deve vir da taxa de câmbio (o banco prevê dólar em torno de R$ 5,50), que poderá seguir pressionada com a alta dos juros pelo Federal Reserve, o Banco Central dos EUA. “As projeções para a taxa de câmbio seguirão sendo desafiadas pelos cenários global e doméstico. O efeito da alta de juros do Fed sobre as moedas emergentes é historicamente relevante, da ordem de 13% para a elevação que projetamos. (...) Mas “as cotações da taxa Selic podem mitigar esse quadro”, pondera.

 

Brasil: inflação maior, PIB menor

No campo doméstico, o banco aponta que “o início do ano trouxe informações um pouco piores para a inflação e o crescimento, pois os “impactos da variante criaram novos desafios para as cadeias globais e a esperada desinflação vinda dos preços de commodities não deve acontecer no curto prazo”.

“Problemas climáticos afetaram a safra de grãos esperada para este ano e, além de pressionarem a inflação no curto prazo, devem diminuir a contribuição positiva do setor agrícola para o PIB, que deve crescer 0,5% em 2022. Tanto os dados efetivos quanto algumas premissas do cenário indicam um quadro mais pressionado para a inflação. Os núcleos de inflação seguiram em aceleração, sem sinais de descompressão em bens industriais ou serviços”

Assim, o banco, que chegou a prever, em setembro, inflação de apenas 3,8% para o IPCA de 2022, revisou “para cima a inflação do 1º trimestre” e elevou a taxa de 2022 para 4,9% em novembro e agora, em fevereiro, para 5,4%.

 

Selic sobe a 12,25% e desce a 11,75%

Junto com a elevação das projeções de inflação veio forte revisão na trajetória da taxa Selic. Em outubro, o Depec esperava alta de 8,25% para a taxa Selic em 2021 e para 8,50% em 2022. Em novembro aumentou para 9,25% a previsão para 2021 (confirmada) e para 10,25% a taxa de dezembro de 2022.

Agora, o Bradesco prevê que “o Banco Central elevará a taxa de juros para 12,25% no pico do ciclo. As expectativas de inflação continuam desancoradas, com a mediana acima do teto da meta em 2022 e em 3,5% em 2023. Esses níveis de juros são contracionistas e as decisões de política monetária, cada vez mais, terão efeitos crescentes em 2023. Por isso, estimamos que a Selic encerre o ano em 11,75%”, diz. Para 2023, o banco espera 8%.

Na visão do Bradesco, a economia brasileira atravessou os primeiros dois anos da pandemia da Covid-19 com juros reais negativos ou próximo de zero. Agora, prevê juto real (descontada a inflação) de 6,28%, o maior nível desde 2017.

 

 


Emprego mais difícil

A alta dos juros para conter a inflação tem como efeitos colaterais a redução da taxa de crescimento e a piora do mercado de trabalho.

O nível médio do desemprego, que foi de 13,3% em 2021, mas deve cair para 12% em d022, subiria para 12,2% em 2023. O reflexo maior seria no salário médio real dos trabalhadores. Depois de cair 0,5% em 1019 e 0,8% em 2020, o rendimento real do salário despencou 3,7% em 2020 e mais 3,5% em 2021.

 

 

 

A economia em 2022 e 2023

O cenário desenhado pelo Bradesco aponta um problema grave estrutural do Brasil. O chamado voo de galinha. Quando o Produto Interno Bruto (PIB) volta a crescer (e o caso de 2021 foi a recuperação sobre a queda de 3,9% em 2020), o voo tem fôlego curto, como o da galinha e não se sustenta nos anos seguintes.

 

 

Pesquisa Focus vê PIB abaixo de 0,30%

Na Pesquisa Focus, compilada até 6ª feira pelo Banco Central junto a mais de uma centena de instituições financeiras, consultorias e institutos de pesquisa, e divulgada hoje, o pessimismo foi maior. O PIB esperado para 2022 ficou estável na mediana de 0,30% de 95 informantes, mas as projeções de 23 instituições nos últimos cinco dias úteis apontaram para apenas 0,21%. No entanto, para 2023, enquanto a mediana de 76 informantes apontou alta de 1,53%, nos últimos cinco dias úteis a mediana de 18 informantes foi de 1,90%. Para 2024 e 2025 o mercado espera alta de 2,0% para o PIB.

Um dos fatores do pessimismo foi a elevação da inflação de 2022 (que exigirá aperto monetário) para 5,44% (mediana de 141 informantes), com 46 informantes elevando a taxa para 5,50% nos últimos cinco dias úteis. Como a meta de inflação do Banco Central para este ano é de 3,50%, com tolerância máxima de 1,50 ponto percentual, a taxa de 5,50% estaria acima do teto máximo de 5%, o que exigiria% aperto monetário mais prolongado.