Novas cepas da Covid-19 na Índia podem reduzir vacinas ao Brasil

Por Gilberto Menezes Côrtes

Gilberto Menezes Cortes

Os números de 2ª feira, que costumam ser baixos, pois muitas secretarias municipais de saúde não operam administrativamente nos fins de semana, deram ao Brasil um refresco: perdemos para a Índia, Turquia e Estados Unidos em total de novos casos (seguimos líderes em mortes) e os dados de hoje podem dar uma tendência mais definida em novos contágios. Mas os números devem aumentar as preocupações futuras do Brasil quanto ao suprimento de vacinas vindas da Índia. Diante de novas cepas, as necessidades do país fizeram a Anvisa local aprovar a vacina russa Sputnik V.

A Índia registrou em 11 de abril 173.689 novos casos (+ 911 mortes), contra 54.562 casos e 243 novas mortes na Turquia e 45.491 novos casos dos EUA e 303 novas mortes. Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil lançou 35.785 casos e 1.480 mortes. Mas as notícias do maior aumento diário de surto no 2º país mais populoso do mundo (1,380 bilhão, contra 1,4 bilhão da China) são preocupantes. A Índia superou o Brasil em número de contagiados pela Covid-19: 13,699 milhões contra 13,251 milhões do Brasil (os EUA têm 31,442 milhões) e a imprensa local está tratando o caso com gravidade.

Às voltas com novas cepas, o país, que tem o Instituto Serum o maior produtor de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs), que suprem a Covishield, a vacina Oxford/AztraZeneca, e ainda o laboratório Bharat Biotech, que produz a vacina Covaxin, usada no programa da OMS para suprir países em desenvolvimento (como o Brasil, mas a Anvisa recusou a aprovação do imunizante), não está dando conta de atender às próprias necessidade. Assim, aprovou hoje a o uso da vacina russa Sputinik V para reforçar o estoque de vacinação do país.

Pelo que informam o “Hindu Times”, o Brasil, que ganhou a má vontade do Primeiro Ministro Narendra Modi, quando o Itamaraty, por orientação do ex-ministro Ernesto Araújo, votou no BRICS contra a proposta de Índia e Àfrica do Sul de quebra das patentes das vacinas contra a Covid-19 (motivo do atraso das entregas de IFAs em janeiro e fevereiro), agora, além de virtualmente perder acesso às vacinas “made in India”, vai ter dificuldades de se suprir da Sputnik V, caso os entraves que levaram à Anvisa a recusar a autorização sejam superados.

Nova variante alarma a Índia

O jornal “India Times” mostra outra notícia de assustar: “A Índia tem sua própria cepa de coronavírus mutante duplo, que está sendo rotulada como B.1.617“. Com a 2ª onda ameaçando ter um destino ainda terrível, as autoridades de saúde também detectaram uma nova "variante dupla mutante" do coronavírus no final de março, causando uma espécie de golpe duplo. Foi o Consórcio indiano SARS-CoV-2 em Genômica (INSACOG), integrado por 10 laboratórios nacionais sob controle do Ministério da Saúde da Índia, que identificou a variante dupla mutante após realizar o sequenciamento genômico nas últimas amostras - um processo de teste para mapear todo o código genético do vírus.

A variante, que “contém mutações de duas variantes de vírus separadas, a saber, E484Q e L452R” foi identificada em amostras de saliva retiradas de pessoas em Maharashtra, Delhi e Punjab”. A variante L452R teria surgido nos Estados Unidos, mas a variante E484Q é nativa.

“Colossal má gestão econômica”

Para se entender os dilemas do Primeiro Ministro Narendra Modi, vale dizer que não são só Jair Bolsonaro, o presidente do México, Lopes Obrador ou o ex-presidente Donald Trump ou ainda Erdogan, da Turquia, que recebem duras críticas pela má gestão da crise da Covid-19, do ponto de vista sanitário e econômico. Uma das manchetes do “Hindu Times” é: “Congresso critica a 'colossal má gestão econômica' do governo de Modi”.

Vejam outra notícia do mesmo jornal: “A Índia relatou 169.899 novos casos de COVID-19 às 23h30 IST de 11 de abril, marcando o maior pico em um único dia desde o início da pandemia no ano passado. Até 904 mortes também foram registradas no dia. Este é o segundo dia consecutivo em que o país registra mais de 150 mil novos casos”.

Esse surto, que ameaça colocar a Índia no centro da 2ª onda da pandemia (que se instalou no país em março do ano passado) levou o Controlador Geral de Medicamentos da Índia (DCGI) -a Anvisa local - a aprovar o uso emergencial restrito da vacina Sputnik V na noite de segunda-feira. Agora, a Índia, passou a ter três vacinas contra a Covid-19, incluindo a Covishield - a vacina Oxford-Astrazeneca fabricada pelo Serum Institute of India - e Covaxin do Bharat Biotech.

Ao registrar o sinal verde do DCGI, o comunicado emitido pelo Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF), destaca que “a Índia é o país mais populoso para registrar a vacina russa”. O fundo russo é o controlador dos negócios da Sputnik V, desenvolvido pelo Laboratório Gamaleya. Entre o Brasil que tem um comércio pequeno com a Rússia e as gigantescas perspectivas da Índia, 2º país mais estratégico para a Rússia na Ásia, para onde Putin deve pender, para neutralizar a influência da poderosa China continental?

“A população total de 60 países onde o Sputnik V foi aprovado para uso é de 3 bilhões de pessoas ou cerca de 40% da população global”, acrescentou. Se notícia ruim já fosse pouco, o noticiário da Índia destaca que as vacinas da AztraZeneca e da Janssen, divisão farmacêutica da Johnson & Johnson causam coágulos sanguíneos e podem ser banidas do país. Assim, haverá mais disputas no mundo pelas restantes vacinas já aprovadas e ficaremos mais dependentes da China, que forneceu 80% dos IFAs nas vacinações no Brasil.
O Brasil só tem aprovadas até o momento as vacinas CoronaVac (chinesa, envasada pelo Butantan), a AztraZeneca (envasada pela Fiocruz), a da Pfizer e a da Janssen. A da Sputnik V passar por 2ª avaliação, a que também terá de ser submetida a Covaxin, da Índia.