A Música do Silêncio

Por

O compositor John Cage

O que seria do silêncio sem o barulho? Melhor dizendo, o silêncio seria ensurdecedor se sozinho. Fato é que a música, como tudo, traz também, na sua essência, sua negação e seus contrastes, com seus silêncios e suas pausas. Existem músicas sem pausas, mas elas existem, pois sabemos que em algum momento chegarão ao final, e aí, então, relaxaremos. Músicas que não respiram geralmente são tensas, como pessoas que falam sem parar. Seria insuportável somente barulho, somente música, somente silêncio.

Este preâmbulo serve para introduzir algumas das questões pertinentes no século XX e ainda válidas: quando o ruído é música e vice-versa? Músicas sem formas são prazerosas? Por que é difícil apreciar músicas sem as tonalidades maiores e menores? Por que tanta gente torce o nariz para a música do século XX? Sobretudo para as peças eletrônicas, computacionais e atonais. São muitas as questões sobre este assunto. Um exemplo que revela muito sobre estas indagações é a famosa peça 4’33’’ (Quatro minutos, trinta três segundos), do compositor americano John Cage, composta em 1952. Muitos ainda não a consideram uma obra séria e até debocham, pois são quatro minutos e trinta três segundos de silêncio em que se ouve apenas os sons do ambiente onde está sendo apresentada. No entanto, 4’33” e outras peças de Cage são da maior relevância para a música contemporânea e o compositor tornou-se um dos mais importantes do século passado e até mesmo sagrado quando se estuda música moderna nos departamentos das universidades americanas, onde milhares de artigos já foram escritos sobre sua música e suas ideias.

O P I N I Ã O

Como antevi na coluna passada “Quartetos”, a apresentação do Quarteto Radamés Gnattali, na Sala Cecília Meireles, foi esplêndida! O Quarteto, que dá ênfase à música brasileira, apresentou-se com uma sonoridade refinada e alto nível técnico, o que possibilitou uma execução do quarteto de Debussy, único compositor estrangeiro da noite, de forma correta e com as nuances exigidas pelo compositor impressionista. O concerto incluiu ainda “Ponteio”, de Santoro e o Quarteto nº 3 de Villa-Lobos, mas o grande destaque ficou para “Afrescos”, o Quarteto nº 5 de Tacuchian, obra fora de série por sua estrutura formal e ao mesmo tempo mostrando uma linguagem harmônica particular, peça extremamente inspirada, em que o compositor não economizou em seu domínio para escrever para quarteto de cordas. Uma obra-prima!

NOTAS e ACORDES

- Este mês a Música de Câmara está em alta com a apresentação de vários quartetos de cordas. Hoje, na Sala Cecília Meireles, às 20h, apresenta-se o Quarteto Kalimera com peças de Tacuchian, Haydn e Ginastera. Amanhã, às 20h, na Casa Eva Klabin, em uma produção de Nenem Krieger, serão executados quartetos de Mozart e Schumann pelos músicos Felipe Prazeres (violino), Erika Ribeiro (piano), Marco Catto (viola) e Marcus Ribeiro (violoncelo).

- Quinta-feira, às 20h, o ABSTRAI ensemble faz homenagem a Claudio Santoro na Sala Paulo Moura, no Centro da Música Carioca Artur da Távola.

- Na sexta-feira, às 20h, na Sala Cecília Meireles, o pianista João Carlos Assis Brasil apresenta o concerto “Todos os Pianos” em que tocará peças do repertório popular e clássico.