Veículos autônomos ganham espaço em ambientes controlados

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O mês de dezembro pode ser marcante para uma das aplicações tecnológicas mais comentadas do momento. A Waymo, subsidiária da Alphabet, promete iniciar oficialmente um serviço de táxis autônomos na cidade de Phoenix, nos EUA. Caso aconteça, será a primeira vez que clientes pagarão para serem transportados por carros sem motorista. A empresa já opera há algum tempo na cidade em fase de testes, com 400 voluntários em uma área de 160km², mas a expectativa para o início das corridas comercializadas é enorme. Afinal, muito dinheiro está sendo investido nessa tecnologia – estimativas apontam mais de US$ 100 bilhões em todo o setor – de olho nas projeções de que o mercado automotivo será modificado para sempre. Por isso, problemas mais sérios nesta primeira iniciativa (como acidentes, por exemplo) podem colocar em risco grande parte do que já foi e está sendo feito.

A tecnologia ainda precisa superar alguns obstáculos para que consiga ser adotada com segurança em ruas e avenidas de grandes cidades. Mesmo a Waymo, considerada a companhia mais avançada no desenvolvimento de veículos autônomos, com carros que já percorreram mais de 16 milhões de quilômetros, tem sido cautelosa. São muitas variáveis que os sistemas devem levar em conta e até situações simples, como placas de sinalização levemente alteradas, ladeiras e gotas de chuvas ou flocos de neve, podem fazê-lo colapsar. Não à toa, Phoenix é tido como o local ideal para um primeiro contato com os consumidores: a cidade é plana, bem sinalizada, não tem grande congestionamento e faz sol quase todos os dias do ano. E, mesmo com essas condições, a área do serviço será limitada, pelo menos inicialmente. Isto certamente será comum em todos os serviços similares que surgirem a partir de 2019.

Enquanto o foco maior está no deslocamento de pessoas usando carros autônomos que substituem táxis e aplicativos de transporte convencionais – algo que vai demorar até que haja um impacto relevante na sociedade –, setores variados já adotam ou estão próximos de aplicar a tecnologia em ambientes controlados, onde há limite de velocidade, caminhos bem definidos e sinalizações confiáveis. Algumas startups, inclusive, surgiram para buscar nichos específicos. A Voyage, por exemplo, atua em condomínios e comunidades para idosos nos EUA. A Optimus Ride e a May Mobility, em campus de universidades e corporativos. Portos e aeroportos também são alvos com potencial. A TuSimple, startup chinesa, colocará 20 caminhões sem motoristas movendo contêineres no porto de Caofeidian, na China. Já a Oxbotica realizou algumas semanas de testes no aeroporto de Heathrow, em Londres, movendo cargas.

Outro setor apostando na tecnologia é o de mineração. Semana passada, a Volvo anunciou que, até o final de 2019, seis de seus caminhões estarão operando de forma autônoma em uma mina de calcário na Noruega. As gigantes Rio Tinto e BHP Billiton já usam esta solução em minas da Austrália há alguns anos. No Brasil, a Vale investiu um total de US$ 62 milhões durante seis anos de pesquisas e testes para colocar sete caminhões autônomos funcionando na mina de ferro de Brucutu, em Minas Gerais. É a primeira do país a contar com veículos do tipo, que são controlados remotamente. O investimento parece ter valido a pena. Em apenas um mês de operação, a empresa conseguiu aumentar em 26% o volume de minério transportado. Também são esperadas reduções de 10% no consumo de combustíveis e em custos de manutenção. O resultado positivo fez com que a companhia expandisse o projeto e, ano que vem, chegarão mais seis veículos.

O interessante no projeto da Vale é que os antigos operadores dos caminhões foram treinados em novas funções, passando a trabalhar no centro de controle da mina. Neste caso a automação não eliminou empregos, criou outras oportunidades. É um ótimo exemplo para as empresas que vão passar por isso nos próximos anos.