O selo de qualidadedos Marsalis

Por Thiago Goes

Brandford Marsalls-Aquiles

Impressionante como somos atraídos o tempo todo pelas marcas e suas tradições, muitas vezes sem nem perceber. Sou um desses caras "tradicionais" que frequenta sempre o mesmo bar, compra sempre a mesma marca de roupa ou celular e não troca o whisky favorito por nenhuma inovação recente. Priorizo e acredito na longevidade, atrelada claro a qualidade. Existem marcas que são autenticas referências, principalmente no varejo. No mundo do jazz, quem não gosta da família Marsalis, bom sujeito não é.

A tradicional família de Nova Orleans é sem duvida a mais emblemática de todos os tempos no mundo jazzístico. Capitaneada pelo patriarca Ellis Marsalis, que segue aos 84 anos tocando e ensinando jazz em sua cidade natal, a família prossegue aclamada internacionalmente com seus filhos Wynton, Brandford, Delfeayo e Jason. O mote dos irmãos é sempre conjugar os sons do passado e do futuro, mantendo a herança do gênero centenário.

No mês de março foi a vez do saxofonista e mais velho dos irmãos, Brandford, entrar em cena com seu novo trabalho, "The secret between the shadow and the soul" (Okeh/Sony) acompanhado do fiel quarteto que o segue há quase dez anos, com Joey Calderazzo no piano, Eric Reeves no baixo e Justin Faulkner na bateria. O ultimo trabalho autoral da turma foi há quase sete anos com "Four MFs Playin 'Tunes" (Marsalis music). O novo álbum foi gravado durante uma pausa em Melbourne, Austrália no ano passado. As sete faixas são dividas entre dois temas de Calderazzo, dois de Reeves, um de Marsalis, uma composição de Andrew Hill e um clássico do quarteto de Keith Jarret dos anos 70.

As faixas "Cianna" e "Conversation among the ruins" me chamaram a atenção pelo teclado virtuoso e lírico melodicamente de Calderazzo, com toda a elegância sonora que permeia sua carreira e parceria de anos com Marsalis. "Life filtering from the water flowers", composição de Marsalis, foi a minha preferida, com os profundos e sombrios solos de seu saxofone tenor, canalizando a vibração da boa musica, mas com a assinatura de suas ideias aplicadas. "Snake hips waltz", de Andrew Hill, e "The windup", de Keith Jarret, são pedras preciosas do jazz regravadas em grande estilo, mantendo todo o vibrante vocabulário de cada uma delas. A faixa-título foi tirada de um soneto de Pablo Neruda, importante poeta chileno, o qual Marsalis se diz um grande admirador.

Brandford, que já transitou entre a musica clássica, turnês com nomes como Sting e discos com Harry Connick e Grateful Dead, usa um interessante argumento para o sucesso do disco e do trabalho de longa data com o quarteto. "Estarmos juntos nos permite tocar música aventureira e sofisticada e soa bem. A falta de familiaridade leva ao jogo defensivo, jogando para não cometer um erro. Eu gosto de tocar músicas sofisticadas e não consegui criar essa música com pessoas que não conheço. O formato clássico do jazz com saxofone, piano, baixo e bateria é uma fonte inesgotável de inspiração".

Assino embaixo.

BEBOP

Ainda sobre os Marsalis Será lançado em maio um dos mais aguardados filmes jazzísticos do ano. "Bolden" contará a história mítica de Buddy Bolden, considerado por muitos como o inventor do jazz. A direção é de Daniel Pritzker com musica original escrita, arranjada e interpretada por Wynton, o mais "famoso" dos Marsalis. A primeira faixa "Timelesness" já esta disponível nas plataformas digitais.

Vijay Eyer

Sexta-feira agora será lançado o álbum "The transitory poems", primeiro lançamento da dupla de pianistas Vijay Iyer e Craig Taborn, dois dos mais criativos músicos do jazz atual. O disco foi gravado na sala de concertos Franz List, em Budapeste. Grandes expectativas.