Volta ao (quase) normal

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Por IESA RODRIGUES

Iesa Rodrigues

Tenho quase certeza de que já escrevi este título esperançoso. Mesmo que uma amiga comente que sua timeline está toda com Covid, vejo que começam a acontecer eventos interessantes.

 


 

O Rio Fashion Trends foi um bom exemplo. A curadoria de Thomaz Azulay e Patrick Doering garantiu a coleta de peças de nomes importantes que se destacaram na moda carioca. O biquíni de jeans da Blue Man, o dólman da Mr. Wonderful e até a mochila da Company fizeram parte da pequena exposição. Além destas peças, foram dois dias de Masterclasses.

E aí? Quem gosta de conferências, palestras, masterclasses? Pois quem não foi, perdeu momentos importantes. A plateia pequena deve ter aprendido muito com as palavras dos participantes.

Eis alguns exemplos que devem ficar na memória tanto de quem pretende empreender na moda como de quem se preocupa com o futuro do planeta.

 

 

Oskar Metsavaht: nosso pioneiro da sustentabilidade falou da necessidade de dar trabalho para a Amazônia. “O que oferecemos de emprego para os jovens da Amazônia? Garimpo ou madeira!”. A respeito da Fast Fashion: “Defendo a moda autoral. No princípio, justificava-se o Fast Fashion como sendo a democratização da moda. Moda não se democratiza: democratiza-se educação e cultura”. A esta altura, já era um mestre, e não só de Osklen, tênis, adido. O golpe final veio na resposta a uma pergunta da plateia, querendo saber como ser sustentável, se fica tudo tão caro desta maneira. Resposta sensata: “não precisa ser 100% sustentável. Que seja 1%, já vale!”

 

 

Em seguida falou o Roger Sabbag, CEO da Via Mia. Contou que vendeu muitas mochilas na Company, começou um negócio próprio com R$ 300, vendendo carteiras. O acerto veio nos 52 finais de semana na Babilônia Feira Hype, quando chegavam a vender 1.200 peças no fim de semana.

“Nosso ponto de partida sempre foi escutar. Sempre, até hoje, quando somos os melhores vendedores por metro quadrado nos shoppings. Atualmente estamos abrindo em Portugal, até 2025 há a previsão de 200 a 250 lojas no Brasil. Sempre escutando, sem sair do colorido, da qualidade. Procurando fornecedores como as artesãs que produzem bolsas de juta. Não são baratas, mas investimos neste tipo de produto muito exclusivo”

Sissi Freeman falou sobre a Granado, marca que chegou aos 100 mil pontos de venda, incluindo lojas em Paris, corners na Liberty de Londres, no Au Bom Marché, de Paris. “Um dos nossos pontos de encanto é a embalagem. Chegamos a editar tutoriais ensinando como reaproveitar as caixas. Na collab com Isabela Capeto ganhamos prêmio pelo frasco em forma de bonequinha. Quando exportamos, criamos uma linha Carioca, achando que seria ignorada aqui no Brasil. Adivinhem qual é o best-seller da Granado? “O marketing inteligente adesivou os táxis de Londres com imagens da marca.

 


Thomaz Azulay e Patrick Doering, sócios na The Paradise

 

A dupla Thomaz Azulay e Patrick Doering encerrou o evento. Em sete anos, a marca The Paradise já não é considerada pequena. “O que é ser grande? Antigamente era ter muitas lojas, com o risco de abrir mão da qualidade e do design.” Durante três anos a Paradise se manteve com o e-commerce, eventos esporádicos e o atacado, que foi considerado desestruturado pelos sócios. “Falta incentivo para empreender no Brasil, os impostos são altos demais. A mão de obra é escassa, a filha da costureira quer ser advogada; okay, este é um problema mundial. Mas acho que é preciso dar uma futucada nas faculdades de moda. Todo mundo quer ser estilista, ninguém pensa em ser modelista ou compradora. A estamparia que aprendi nas aulas era com stencil, nunca se falou em processo digital. Eu era levemente odiado pelos professores, porque levava materiais de casa, dos arquivos da família.”

Para Patrick, eles são empresários de moda. Abrem loja de rua em São Paulo, na Consolação. “Vamos na raça! Agora pensamos quão grandes queremos ser. E vamos partir para a exportação.”

 

Conclusão

Estes foram alguns mestres do Rio Fashion Trends. Por suas falas, passa um otimismo de um deles ter 250 lojas, outro tem duas no Japão, os perfumes enfeitam corners de sucesso nas grandes lojas europeias. É fácil? De jeito nenhum. É preciso pesquisar a melhor mistura de borracha para o solado do tênis, discutir com os franquiados, fazer muitas contas de impostos. Mas mesmo com uma timeline de Covid, a moda vai em frente. Não faltam bons exemplos.