Sem preconceito contra estampas

...

Por IESA RODRIGUES

Série Hoje eu vi o Sol, assinado pelo designer João Incerti para a Riachuelo

 

                                                                                                                                                                                                                                            

 

O que é preconceito? Em geral, a resposta tem uma conotação negativa; na verdade, basta analisar a palavra para saber que trata-se de pré-conceito. Isto é, o que imaginamos que algo seja, antes de conhecer direito.

Entre os muitos preconceitos que temos, um deles, até algumas marcas nos convencerem, era contra as estampas. “Estampa marca demais”; “não pode repetir roupa estampada com frequência”, “difícil combinar os acessórios com estampados”, era o resumo de alguns argumentos clássicos contra os floridos, geométricos ou figurativos.

Pioneiros

 

 



Nos anos 1960 a democratização do prêt-à-porter começou a atrair a atenção para coleções multicoloridas. Pode ter sido pela era psicodélica, que resultou nos maravilhosos lenços e vestidos de seda de Emilio Pucci. Ou o perfume Vivara, hit desta década _ quem não podia pagar por um vestido, comprava o perfume do Pucci. Também pode ter sido pela crescente importância do design escandinavo: a Marimekko, da Finlândia, propunha xícaras, guardanapos, toalhas e vestidos com flores, com ares artesanais. Conseguir algo desta marca no Brasil era uma proeza, daquelas que exigia ter conhecidos na Finlândia, Suécia, aqueles países então pouco frequentados pelos viajantes brasileiros.

Versões nacionais

 



Uma pequena marca, dentro das tendas da Babilônia Feira Hype acabou com o preconceito negativo brasileiro. Era a Farm, atualmente comemorando 25 anos de alegres coleções estampadas, com peças atualmente exportadas para o mundo. Katia Barros e Marcello Bastos conquistaram as brasileiras com seus florais, bolinhas, campanhas com modelos e gente comum. A beleza dos padrões e o marketing democrático consagram a Farm.

 

Entre as lojas de cadeias, a Renner corre atrás das tendências. Neste caso, são dois tipos de preconceitos derrubados: estampas e lojas de preços populares. A empresa gaúcha prova que roupa de preços razoáveis pode ser antenada. E que a ala masculina tem direito a estampas modernas, nada discretas. Outra grande loja, a Riachuelo vai adiante, propõe Hoje eu vi o Sol, linha assinada pelo designer carioca João Incerti, produzida em Natal ((Rio Grande do Norte).

“A linha assinada pelo artista João Incerti, além de carregar a irreverência tropical com várias estampas coloridas que possibilitam inúmeras combinações, é a nossa principal parceria neste ano. A coleção valoriza a arte e reforça nossa identidade como uma marca 100% brasileira, que tem orgulho de sua origem.”, explica Elio Silva, diretor-executivo de Canais e Marketing da Riachuelo.

A Riachuelo produziu roupas masculinas, femininas, infantis e peças para casa. Atenção: esta coleção estará nas lojas como uma experiência imersiva até o dia 13 de setembro.



Uma pausa para um internacional inglês conhecido pelas listras e estampas. Não, não se trata da Liberty, que anda mais para o turismo do que pelos trabalhos por muita gente considerados antigos. Trata-se de Paul Smith, famoso pela moda masculina. Que agora mistura as listras em zig zag em preto, laranja e cru nos suéteres de mohair misto. Melhor só admirar, porque no e-commerce custa 550 Libras (cerca de R$ 3.280, acrescentando as inevitáveis taxas de importação)



 

E por fim, Amaro, marca que começou apostando só no e-commerce, agora tem aberto lojas físicas, que em princípio não vendem as peças, apenas oferecem aconselhamento ou fazem a venda online. Tem mais mistério: a coleção Acid Dreams tem cores de impacto em terninhos pink anticolisão, estampas obscuras, em preto e marinho. Segundo as informações sobre esta linha para o verão 22/23, o moodboard seguido inclui referências psicodélicas, surrealistas e Art Nouveau. Um vestido midi de malha, amarrado sob o busto custa R$299,90. Não identifiquei qual seria a referência, mas achei bonito, ficou ótimo na modelo grisalha.

O que favoreceu a moda estampada? A atual liberdade de (des) combinar padrões, de complementar com qualquer sapato, vale até Croc e Birkenstock com meias (difícil de acostumar!). Mais um passo para sair das rígidas regras de vestimenta. Cada um veste o que quer, como quer. Com ou sem estampa.

 

De que se trata:

Moodboard: espécie de painel onde os designers reúnem suas referências. Podem ser retalhos, fotos de família, fotos de coleções alheias, conceitos. Seria um “painel do clima”

Psicodélicas: diz-se de estampas coloridas, de formas irregulares, curvilíneas em geral. Originais das décadas de LSD, que levava a visões deste tipo.

Croc e Birkenstock: quem não sabe? Croc, o tamanco injetado, semelhante ao usado nas salas de cirurgia; Birkenstock, tamanco alemão digno de muitos preconceitos. Dizem que são confortáveis, anatômicos. Ok, para os pés alemães, pode ser

Experiência imersiva: pode ser um ambiente seguindo um tema. No caso da moda, deve ser a loja inteira exibindo um estilo, no caso, a coleção Hoje eu vi o Sol.…