A festa mais poderosa - e mais polêmica - de Salvador, Bahia

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Donata e Nizan Guanaes

Tenho certeza de que Nizan Guanaes quis fazer a mais linda de todas as festas que São Salvador da Bahia de Todos os Santos já presenciou. E motivo para isso não lhe faltava. Na verdade, não foi uma festa, foi um festival com três eventos, que rolaram no fim de semana. O motivo era celebrar os 50 anos de sua mulher, a diretora de estilo da Vogue Brasil, Donata Meirelles.

O pontapé inicial no Festival Donata foi dado sexta-feira passada, no Palácio da Aclamação, com mesas longas, cadeiras douradas, flores brancas - em cachos e por toda a parte - e muitas, muitas velas, não estivessem na sincrética Bahia. O tema parecia ser "Brasil Colonial", com o salão coalhado de baianas negras, vestidas à caráter - turbante, rendas brancas e faixa de lamê dourado na cintura - que recebiam e encaminhavam as convidadas para serem fotografadas sentadas em tronos brancos de vime, enquanto eram abanadas pelas, digamos, mucamas das sinhazinhas. Uma cena de muito antigamente.

Diante das fotos, as redes sociais vieram abaixo, com críticas revoltadas e pesadíssimas. Óbvio que Nizan e Donata não pretendiam isso, mas apenas entreter os convidados. Pode ser também que a mise-en-scène polêmica tenha sido obra das organizadoras contratadas em São Paulo para isso, Elisa Tavares Bueno e Gizella Lugio. Porém, o tiroteio mirou apenas Donata e Nizan.

Fato é que cada tempo tem sua percepção. Uma pessoa antenada com sua época é aquela sensível ao cenário à sua volta. O que ontem era elegância e sofisticação, hoje pode ser visto como insensibilidade e retrocesso. Nas últimas décadas, a consciência brasileira foi despertada para as questões raciais, sexuais, sociais, políticas, e não aceita deslizes nesses campos. Quem não percebe isso está descolado de sua realidade. Não vivemos mais na época em que a elite falava do Brasil Colonial escravagista com romantismo e nostalgia, apagando da mente todo o sofrimento que aquele longo período brasileiro representou para tantos. Hoje, até brincar de "escravos de Jó" é condenável, que dirá fazer uma festa com negras abanando brancas. Por isso, a indignação dos internautas, blogueiros, digital influencers e correlatos.

Certo é que foi uma festa importante. Foram chamados cerca de 200 casais, e mais os amigos avulsos, de Salvador, Rio, São Paulo, New York e Paris, que lotaram o novo hotel Fasano, no antigo prédio do jornal A Tarde, e se distribuíram pelos demais cinco estrelas da cidade. O calibre do casal é realmente alto. Diga o nome de um famoso, ele estava lá. De um poderoso, ele também estava. Era Sirotzky pra cá, Ermírio de Moraes pra lá, Diniz acolá, Auriemo mais adiante. Até empreiteiro tinha - e eles andam tão sumidos. O Newton Simões, dono da Racional Engenharia. Pra vocês avaliarem o pique da lista dos amigos, também estava lá o Roberto Thompson, personal business administrator da trinca de sócios Lemann-Telles-Sucupira. Esse é craque!

Como highlight do evento, o aplaudidíssimo show de Caetano Veloso, acompanhado pela Orkestra Rumpilezz, do maestro e saxofonista baiano, Letieres Leite, ambos ativos militantes das causas afro. Letieres, com seu repertório, pesquisa e prestigia as raízes africana da música brasileira. É um engajado musical. Assim como também o Caetano. Alguns fãs ficaram sem entender a participação desses ídolos no #DonataShow50 .

Sobre as acusações de racismo, Donata se calou. E retirou do Instagram sua foto no "trono de vime", ladeada pelas baianas. Mas os convidados continuaram a fazer posts e mais post com fotos da festa. A oferta de imagens é pródiga.

Deixo a vocês o julgamento...

O que em 2019 é inadequado era um must nos anos 60, nas festas mais elegantes e disputadas do Rio de Janeiro, as do decorador Julio Sena. Em sua Casa da Mãe do Bispo, encravada na montanha da Urca, todos os jantares eram em estilo colonial brasileiro sofisticado, com o pessoal de serviço das festas vestido como os moleques de Debret e as copeiras, de baianas, evocando o Rio antigo dos escravos.