Hora da saudade de Hugo Carvana

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Não foi uma pré-estreia, foi festa de afeto, celebração de saudade, confraternização de memórias. Na primeira apresentação do documentário “Carvana”, de Lulu Corrêa, sobre o ator e diretor Hugo Carvana, que “ficou encantado” em 2014, houve emoção, alegria, brincadeiras, piadas, brindes com chopp e whisky.

Lembrar Carvana justifica todas as celebrações. Os convidados foram recebidos com chopinho e “sacanagem” (aqueles palitinhos com frios de antigamente), e ganharam “bigodes” adesivos para lembrar uma das marcas do homenageado. A viúva, Martha Alencar (Foto 1, com Rose Lacreta), recebia com os filhos e produtores do filme, Julio, Cacala e Rita Carvana, que também fez a montagem. Os amigos das antigas, como Carlos Gregório, Othon Bastos, os Davids - Quintães e Pinheiro, Antonio Pedro (Foto 2), estavam todos lá no Cine Odeon Net Claro – Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro.

“Carvana” entrou em cartaz ontem no Rio de Janeiro, em São Paulo e Porto Alegre. Em tempo: o filme é daqueles que quem assiste não deixa de recomendar, p que faz no bom idioma carioquês, próprio do personagem: “Vai Carvanar, vagabundo!”...

DO EXÍLIO EM PARIS À RESISTÊNCIA CARIOCA

Vejam que registros históricos magníficos. A Foto 3 é de toda uma geração de artistas plásticos brasileiros, que vivia junta em Paris, na época da ditadura brasileira. Uns exilados, outros já morando há tempos na França. Estão alguns com o punho ao vento. Eles são Sérvulo Esmeraldo (Crato, Ceará, 1929 - Fortaleza, Ceará, 2017), Arthur Luiz Piza (São Paulo, SP, 1928 - Paris, França, 2017), Lygia Clark, pseudônimo de Lygia Pimentel Lins (Belo Horizonte, 1920 – Rio de Janeiro, 1988), Flavio-Shiró (Sapporo, Hokkaido, Japão, 1928), Rossini Perez (Macaíba, Rio Grande do Norte, 1932) e Sérgio Camargo (Rio de Janeiro, 1930 – RJ).

Quase 60 anos depois, fotografados pelo marchand Max Perlingeiro, se reúnem os últimos sobreviventes daquela geração que morou em Paris: Rossini e Shiró (Foto 4). O registro foi na galeria Pinakotheke Cultural, onde Flavio Shiró comemora 90 anos, com uma exposição com seu nome. Rossini levou fotografias antigas para mostrar a Flávio. Uma verdadeira hora da saudade, ao som das águas da fonte com azulejos portugueses. A mostra fica em cartaz até amanhã, dia 17. Última chamada!

RICARDO CRAVO ALBIN, O HOMEM QUE VIROU MARCA

Ricardo Cravo Albin e a jornalista Cecília Costa (na Foto 5 com Alexei Bueno) uniram forças para fazer um livro. Ela entrou com o texto, ele com a própria história de vida, conteúdo de ”Ricardo Cravo Albin – uma vida em imagem e som”. Quem entrou com o investimento foi a Edições de Janeiro, editora do José Luiz Alquéres, homem dos negócios e do apreço literário.

Ricardo Cravo Albin é desses nomes da cultura nacional que acabam virando marca. Sua biografia passa pela música, a pesquisa, a gestão pública, o incentivo à criação artística, e isso desde que dirigiu o Museu da Imagem e do Som no Rio de Janeiro, lá pelos anos 60, dando grande impulso à valorização de nossa memória musical. Atualizado constantemente, seu Dicionário Cravo Albin de Música Popular Brasileira, on-line, é referência fundamental para quem vive esse mundo. A revista Carioquice, que há 10 anos ele edita, é uma delícia de se ler. Não bastando tanto, Ricardo vive numa casa museu, na Urca, onde está sediado o Instituto Cravo Albin. O espaço é aberto a pesquisadores ansiosos por consultar um dos maiores acervos da MPB. (Foto 6) Ellen de Lima cantou, sob as árvores seculares do pátio do Ricardo, acompanhada por Joel do Bandolim... (Foto 7) A garganta poderosa de Márcio Gomes e a voz delicada de Olívia Hime... (Foto 8) os imortais Dalal Achcar, da Academia Brasileira de Artes, e Antonio Cícero, da Academia Brasileira de Letras.

APELO URGENTE

Os moradores da Comunidade Rádio Sonda na Ilha do Governador escrevem a esta colunista contando que foram acordados por forte aparato militar da Aeronáutica, acompanhando um Oficial de Justiça, na tentativa de remoção e demolição de 130 casas de famílias trabalhadoras que vivem há décadas ali, no bairro do Galeão. Entre eles há idosos e crianças, em casas padronizadas construídas no passado pela própria Aeronáutica, que as cedeu a seus servidores civis.

Eles reclamam que, desde a privatização do Aeroporto Internacional do Galeão, vêm ocorrendo sistemáticas violações do direito à moradia, com frequentes ameaças de remoções e despejos forçados de várias comunidades residentes no bairro, em função da implantação da 3ª pista do aeroporto. Esse projeto prevê a remoção das comunidades de Parque Royal, Tubiacanga, parte da Vila Juaniza e da Portuguesa, um total de 12 mil famílias (cerca de 50 mil pessoas) ameaçadas de perder seus lares. Com o agravante do crime ambiental, com o aterramento de mais de 1 milhão de m² do espelho d’água e área de manguezal tombada da Baía de Guanabara, protegida pela Constituição Estadual.

Há também o caso da Estrada dos Maracajás, cuja tentativa de remoção seria para beneficiar interesses da rede D’Or de hospitais, que pretende se instalar no local onde as famílias vivem há mais de 100 anos!

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POR INICIATIVA dos vereadores David Miranda e Tarcísio Motta, a Câmara Municipal do RJ foi palco de mais uma homenagem à ex-vereadora Marielle Franco: o lançamento da sua dissertação de mestrado, feita na UFF, e que agora virou livro, “UPP, a Favela reduzida a três letras”. A solenidade no saguão da Câmara foi bonita e triste, lembrando os oito meses de indefinição desde o assassinato.

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Com João Francisco Werneck