Os trapalhões do Ninho do Urubu

Por Renato Mauricio Prado

Como tudo no futebol do Flamengo, desde que Eduardo Bandeira de Mello assumiu a presidência, há quase seis anos, essa confusão envolvendo Diego Alves tem sido conduzida de forma desastrosa e nebulosa. Ao ponto de o dia de ontem ter sido de intensas reuniões entre os dirigentes, o goleiro e seu empresário e, ao final delas, o vice de futebol Rodrigo Lomba e o diretor executivo de futebol Carlos Noval se apresentarem para uma entrevista coletiva onde não esclareceram absolutamente nada.

Sob a justificativa de que “tudo seria tratado internamente”, ambos comunicaram apenas que o jogador voltará a treinar com o elenco e estará à disposição da comissão técnica para os jogos restantes do Campeonato Brasileiro. Se tivessem um espelho diante deles teriam visto as caras de pamonhas que exibiam a cada pergunta que ficou sem resposta. Que entrevista patética! Em mais de 40 anos de jornalismo, nunca vi o futebol do clube Mais Querido do Brasil dirigido por gente tão inepta.

Relembrado o caso. Na hora do embarque da delegação do Flamengo para Curitiba, no sábado passado, Diego Alves foi avisado, por um dos treinadores de goleiro, de que não seria titular contra o Paraná. Não gostou e argumentou que saíra da equipe por contusão e que, como titular absoluto até então, o normal seria recuperar o posto. Como a decisão de deixá-lo no banco de reservas foi mantida, recusou-se a viajar, dando início à crise, forjada em uma inacreditável sequência de equívocos.

O primeiro do técnico Dorival Júnior, conhecido por sua inabilidade no trato com os jogadores (vide crises anteriores com Paulo Henrique Ganso, Neymar e outros que dirigiu). Custava o treinador ter chamado Diego Alves, um dia antes, para uma boa conversa, explicando-lhe os motivos de sua decisão? Comenta-se agora, nos bastidores, que a ideia era apenas dar-lhe mais uma semana de treinamentos, para que retornasse ao posto frente ao Palmeiras, no jogo que é uma autêntica decisão para o Flamengo. Duvido que se isso tivesse sido dito e explicado ao goleiro, ele não teria aceitado. Não foi e deu no que deu.

O segundo erro, igualmente grave, foi do próprio Diego Alves. Não tem cabimento recusar-se a viajar, fazendo beicinho, irritado pela barração. Ele é profissional, tem contrato até 2020, ganha um belíssimo salário e cansou-se de ficar na reserva no Valencia, nos tempos em que jogou no futebol espanhol. Lá, engolia o sapo numa boa. Por que não podia ter feito o mesmo aqui? Pisou feio na bola também. Seu xará Diego, camisa 10 do time, aceitou a reserva e entrou no finalzinho da partida, com tempo ainda de fazer a jogada do quarto gol.

O terceiro absurdo dessa triste história é do comando do futebol rubro-negro, cheio de “centros de inteligência”, que empregam zilhões de pessoas, mas são incapazes de prevenir quaisquer crises como esta - inadmissível e lamentável no momento em que o time ensaia uma arrancada para lutar pelo hepta brasileiro.

Tivesse o futebol do Fla apenas um dirigente com a competência e o conhecimento do saudoso supervisor Domingo Bosco (artífice e expoente da era Zico) e nada teria acontecido. Ah, ia esquecendo: um dos tais “centros” tem dois supervisores. O que fazem, ninguém sabe. Quem são, tampouco. São apenas mais dois funcionários pendurados no gigantesco cabide de empregos criado no clube.

E se...?

Havia, no comando de futebol rubro-negro gente disposta a afastar definitivamente Diego Alves, colocando-o para treinar em separado, esperando uma negociação. Essa era, aliás, a mais forte tendência antes das reuniões realizadas ontem, no Ninho do Urubu. Alguém de bom-senso, entretanto, deve ter lembrado: e se o César se machucar? Só aí caiu a ficha e optou-se por uma solução mais pacífica.

Em tempo: Diego Alves é dez vezes mais goleiro que César. O atual dono da posição é apenas um jogador regular e, no passado, no próprio Fla, já falhou em várias ocasiões. Imagine o peso que lhe estará sobre os ombros neste duelo decisivo contra o Palmeiras, no próximo sábado.

Central de boatos

Enquanto as reuniões se sucediam, no Ninho do Urubu, a Gávea tornou-se uma frenética central de boatos. Um dos mais cabeludos dava conta de um desentendimento gravíssimo entre Diego Alves e Lucas Paquetá. Coisa de novela mexicana das mais rocambolescas, com direito a romances proibidos, detetives e tentativas de agressão, durante um treinamento. A forma pusilânime com que Lomba e Noval trataram o caso não ajudou em nada para diminuir o nível das fofocas, que incluíam também um possível interesse do goleiro em se transferir para o São Paulo. Em suma, um caos.

Um Rei eterno

O Deus de todos os estádios, o rei do futebol, fez 78 anos, ontem. Só quem não viu Pelé em ação pode cometer a heresia de compará-lo a qualquer outro jogador, seja Lionel Messi, Diego Maradona, Cristiano Ronaldo, quem for. O Atleta do Século (tive a alegria de estar no Parc des Princes, quando ele recebeu essa honraria, em 1981) era perfeito em todos os fundamentos, algo que, apesar de geniais, Messi e Maradona nunca foram.

Além disso, Pelé marcou muito mais gols que todos os outros e, num dado de superioridade indiscutível, foi tricampeão do mundo como jogador (a primeira vez, com apenas 17 anos), feito até hoje inigualável. Se você não teve a alegria que tive, de vê-lo em campo, ou se está apenas com saudades, recomendo o filme Pelé Eterno, de Aníbal Massaini Neto. Eu o tenho em minha filmoteca e o revi ontem. Com enorme prazer. Longa vida ao Rei e muito obrigado por tudo!