O cordão dos idiotas

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É Carnaval. É dia de escolas de samba na Sapucaí. Mas não dá para deixar de registrar o papelão do deputado Eduardo Bolsonaro, o filho 03 do presidente. Na sexta-feira, enquanto mensagens de imbecis no Twitter consideravam uma 'boa notícia' a morte do neto do ex-presidente Lula, Eduardo, que acompanha tudo que acontece na redes, uniu-se aos ataques ao líder petista. E fez o seguinte comentário: "Lula é preso comum e deveria estar num presídio comum. Quando o parente de outro preso morrer ele também será escoltado pela PF para o enterro? Absurdo até se cogitar, só deixa o larápio em voga posando de coitado."

Do alto de sua arrogância ('Somos o poder', ele costuma dizer), o 03, de forma indigna e sem nenhum respeito pelo sofrimento alheio, achou que era hora de tripudiar de Lula. Engrossou o cordão dos idiotas. Depois tentou corrigir o erro, publicando uma desculpa esfarrapada no Twitter: "Perguntado se Lula deveria sair da cadeia respondi que não até por uma questão de isonomia com demais presos. Agora, sobre a morte da criança é óbvio que é uma fato lamentável e indesejável. Isso independe de ideologia. Não misturem as coisas". Uma explicação patética. Quem misturou as coisas foi Eduardo Bolsonaro, que, de forma covarde e insensata, agrediu Lula num momento de luto. Um ato baixo e vergonhoso.

Mas é Carnaval e tem samba na Avenida. Deixa a famiglia Bolsonaro para lá e o prefeito Crivella também. O presidente foi criado no Vale da Ribeira, no interior de São Paulo, e Crivella é pastor evangélico. O último sequer entregou a chave ao Rei Momo e os filhos de Bolsonaro, que falam de tudo no Twitter, não fizeram referência ao Carnaval. A bem da verdade, o vereador Carlos Bolsonaro registrou que abriu mão do convite para assistir de camarote o desfile. Para quem desfilou em carro aberto na posse do pai em Brasília, o ideal, quem sabe, seria sair como destaque num carro alegórico. Mas Bolsonaros e Crivella não estão nem aí para a maior festa popular do país. Encarnam com perfeição a letra de Dorival Caymmi: 'Quem não gosta de samba bom sujeito não é, é ruim da cabeça ou doente do pé'. Pelas mensagens e pelas atitudes, ajustam-se à primeira hipótese. Afinal, quem ataca um homem enlutado pela morte do neto só pode ser ruim de cabeça.

Eles não gostam de Carnaval. Já eu me apaixonei por escolas de samba à primeira vista. Foi em 1958, quando assisti ao desfile ao lado de meus pais da sacada do JORNAL DO BRASIL na Rio Branco (tio Odylo dirigia o JB). Todas as escolas traziam à frente do abre alas uma faixa com a seguinte mensagem: ('O GRES saúda a imprensa escrita, falada e televisiva. Saúda o povo e pede passagem'). Naqueles tempos a imprensa escrita imperava absoluta no Rio de Janeiro. Existiam dezenas de jornais na cidade. Entre eles, o JB, 'O Globo', 'Correio da Manhã', 'O Jornal', 'Última Hora', 'O Dia', 'Diário de Notícias', 'A Notícia' , 'Luta Democrática' e o 'Jornal dos Sports'. Por isso, a tal faixa, com afago aos jornalistas, tinha presença obrigatória na avenida. Áureos tempos do jornalismo impresso!

Quando o Salgueiro ganhava, minha mãe, dona de casa tijucana, me levava à Praça Saens Peña para acompanhar a festa da vitória. Logo após o resultado, passistas e baianas, de vermelho e branco, desciam a General Roca ao som da bateria. Nos anos 60, graças à genialidade de Fernando Pamplona, as comemorações se repetiram. O que mais me marcou (eu estava lá na Presidente Vargas e dona Rafaela também) foi o enredo 'Bahia de Todos os Deuses', em 1969. 'Bahia os meus olhos estão brilhando e meu coração palpitando de tanta felicidade'. Mas, à medida que cresci e também passei a frequentar ensaios da Mangueira e da Portela, aprendi que, no samba, ninguém torce contra. Todas as escolas têm raízes profundas e são divinas, maravilhosas.

Na Mangueira, vi Cartola, Delegado, Neide e Mestre Valdomiro. Na Portela, todos esperavam a passagem de Vilma, a grande porta-bandeira. 'Lá vem Portela!', o grito está de volta no enredo em homenagem a Clara Nunes. Eu vi a Beija-Flor entrar em silêncio na Sapucaí em 1989, com figurantes miseráveis se esgueirando (na antológica coreografia de Amir Haddad, a convite de Joãozinho Trinta). E estou ansioso com a homenagem que a Mangueira vai fazer hoje a Marielle e aos anos de chumbo. As escolas de samba se renovam e estão mais vivas do que nunca!