Os jogos finais

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O que acontecer nestes dias finais da campanha pesará na definição crucial dos indecisos, que ainda somam cerca de 15% dos eleitores, afora os 5% que continuam dispostos a votar em branco, a depender do instituto. Eles começaram no sábado, com a grande manifestação das mulheres contra Bolsonaro, emendaram com a resposta forte dos bolsonaristas e o debate da TV Record no domingo, fatos que não deixaram ganhador único mas contiveram a força de Bolsonaro. Haverá o debate da TV Globo, na quinta-feira, e a entrevista do ex-presidente Lula pode agora acontecer. Mas a dúvida é sobre um fato extraordinário, que possa afetar o resultado esperado, como já aconteceu em outros pleitos, menos polarizados.
Só um fato extraordinariamente forte, nesta altura, poderá evitar o resultado projetado pelas pesquisas, de um segundo turno entre Bolsonaro e o petista Fernando Haddad. Teria que ser algo capaz de produzir um crescimento sobrenatural de qualquer outro candidato, inclusive do terceiro colocado, Ciro Gomes, ou de derrubar muito a votação de um dos dois prováveis finalistas. Não se enxerga algo assim no horizonte, embora possam acontecer fatos capazes de afetar a votação obtida por um ou por outro no domingo, ampliando a votação do petista ao ponto de dar-lhe a primeira colocação, ou, em sentido inverso, ampliando ainda mais a votação de Bolsonaro. Hoje, as pesquisas apontam para o empate técnico entre eles, embora nominalmente o candidato do PSL siga na frente. “As pesquisas sugerem, visualmente, que as curvas dos dois vão se encontrar no dia da eleição”, diz o vice-presidente do instituto Vox Populi, João Francisco Meira.

Manifestação das mulheres
A manifestação das mulheres foi pluripartidária, reunindo eleitores de Ciro, Boulos, Haddad e Marina. Se o #elenão tiver convencido eleitores indecisos a não votar em Bolsonaro, é provável que eles não migrem para o polo oposto, para Haddad, mas para um voto intermediário, em Ciro, Alckmin ou qualquer outro. Mas, no frigir dos ovos, isso ajudará o petista no segundo turno. No debate de domingo, houve uma nítida concertação de todos contra Haddad e Bolsonaro, cada qual buscando segurar seus eleitores, evitando que sucumbam a um movimento de voto útil para resolver a parada no primeiro turno. Desidratados, sairiam muito enfraquecidos da eleição, para sobreviver ou para negociar com o futuro governo. Esta estratégia da segunda divisão deve ser mantida no debate da TV Globo, com desvantagem para o petista, já que Bolsonaro se protegerá com a ausência, embora os médicos tenham autorizado sua participação, se mantido seu bom estado de saúde.

O impoderável
A indagação que persiste é sobre fatos imponderáveis, tenham ou não a forma de armação. Ontem o juiz Moro retirou o sigilo sobre uma parte da delação do ex-ministro petista Antônio Palocci, decisão inequivocamente prejudicial ao PT. Isso aconteceu em 2014, com delações de um ex-diretor da Petrobrás. Mas como já são conhecidas as revelações de Palocci sobre doações irregulares para a campanha de Dilma e a ocupação de cargos na Petrobrás, é pouco provável que provoquem uma tsunami antipetista. Se o discurso anticorrupção tivesse hoje grande força eleitoral, Álvaro Dias não estaria onde está nas pesquisas. Numa evidência de que no STF o clima é de guerra interna, o ministro Lewandowski voltou a autorizar a entrevista de Lula, vetada pelo colega Fux. Se ela acontecer, será um fato forte. Lula, calado, já garantiu Haddad no segundo turno mas não parece haver nada que ela possa dizer, com força bastante para evitar o segundo turno. Mas ele pode dar um empurrão em seu candidato. Daqui para sábado, teremos um debate, três programas de TV e algumas pesquisas elementos importantes para a definição dos indecisos. Mas, em quase todas as eleições, a reta final foi visitada por fatos extraordinários, quase sempre abomináveis. Como em 1989, pela denúncia da ex-mulher de Lula, Miriam Cordeiro, de que ele tentara induzi-la abortar. Foi uma armação da campanha de Collor, ao custo de 600 dinheiros. Mas quando isso ficou claro, tudo era passado.