Miomas estão relacionados a abortos recorrentes, diz pesquisa

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Pesquisadores britânicos descobriram as primeiras evidências que os miomas uterinos estão associados aos abortos recorrentes. Eles também descobriram que, com a remoção dos miomas, que distorcem o interior do útero, o risco de aborto no segundo trimestre de gravidez reduz-se a zero.

O estudo, publicado na versão online do Human Reproduction é fruto de 20 anos de investigação sobre abortos recorrentes realizado pelo Professor Tin-Chiu Li e sua equipe na Universidade de Sheffield.

Miomas  intrauterinos ou em torno do útero são tumores benignos compostos por tecido muscular e fibroso. Apesar de já terem sido associados a abortos espontâneos, até agora, não existia nenhuma evidência de seu papel nos abortos recorrentes. Hoje, a prevalência de miomas tem sido estimada entre 30% a 60% em mulheres em idade reprodutiva, mas a sua prevalência era desconhecida em mulheres que apresentam abortos recorrentes. 

Após analisarem dados de 966 mulheres - que foram examinadas quanto a anomalias uterinas, incluindo miomas -  79 foram diagnosticadas com miomas, o que permitiu aos pesquisadores detectar que a prevalência de miomas foi de 8,2% entre as mulheres com abortos recorrentes, dado que nunca havia sido relatado antes com precisão.

Para fazer a pesquisa, o Professor Tin-Chiu Li realizou histeroscopias em 25 mulheres, visando remover a distorção da cavidade uterina provocada pelos miomas; 54 mulheres com miomas que não distorciam a cavidade uterina não foram submetidas à cirurgia. Os dois grupos foram comparados ainda a um grupo controle de 285 mulheres cujos abortos recorrentes foram tidos como inexplicados. Este grupo de mulheres também não se submeteu a nenhuma intervenção cirúrgica.

No grupo de 25 mulheres que se submeteram à histeroscopia, as taxas de aborto em gestações subsequentes, durante o segundo trimestre, caiu de 21,7% para 0%. Isso se traduziu em um aumento na taxa de natalidade de 23,3% para 52%. Esta foi a primeira vez que foi demonstrado que a remoção de miomas que distorcem a cavidade uterina pode aumentar as chances de um nascimento com vida em mulheres com abortos recorrentes.

Já no grupo de 54 mulheres com miomas que não distorciam a cavidade uterina e que não tinham sido submetidas à histeroscopia, a taxa de aborto espontâneo, durante o segundo trimestre, foi de 17,6% e este número caiu para 0%, após a realização de tratamento clínico, ou seja, a taxa de nascidos vivos passou de 20,6% para 70,4% em gestações subsequentes.

Resultados similares apresentaram as 285 mulheres com abortos inexplicáveis, onde a taxa de aborto, no segundo trimestre, foi de 8%, caindo para 1,8%, após tratamento clínico, enquanto a taxa de nascidos vivos passou de 20,6% para 71,9%.

“Os resultados da pesquisa são muito relevantes porque sugerem que a presença de miomas em mulheres com abortos espontâneos recorrentes não implica necessariamente que os miomas sejam a causa dos abortos. Além disso, os pesquisadores britânicos sugerem que a intervenção cirúrgica não é a única alternativa terapêutica para pacientes com abortos recorrentes. No entanto, para as mulheres com miomas que distorcem a cavidade uterina, o estudo revela que a remoção dos miomas pode eliminar o aborto recorrente, durante o segundo trimestre e duplicar a taxa de nascidos vivos em gestações subsequentes”, explica o  ginecologista Joji Ueno, diretor da Clínica GERA.