Diarreia crônica e desidratação podem ser sintomas de intestino curto

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Agência Notisa

RIO DE JANEIRO - Diferentemente do que a literatura vem mostrando, um estudo internacional publicado recentemente sugere que pacientes que recebem nutrição parenteral em casa descrevem de forma positiva qualidade de vida. Entretanto, segundo Marion Winkler, do Rhode Island Hospital, nos Estados Unidos, e colegas os participantes relataram um forte desejo de atingir uma normalidade em suas vidas. O estudo em questão foi publicado na edição de julho-agosto do Journal of Parenteral and Enteral Nutrition.

Os autores contam no artigo que 24 adultos que recebiam nutrição parenteral em casa participaram da pesquisa. Vale lembrar que os participantes estavam recebendo nutrição parenteral em casa por períodos diferentes: 25% recebiam por menos de 2 anos, 20,8% por 2 a 5 anos, 25% por 5 a 10 anos e 29,2% por mais de 10 anos. Os autores afirmam que os participantes viam a nutrição parenteral em casa como um salva-vidas e uma rede de segurança nutricional . Qualidade de vida foi definida como "aproveitar a vida", "ser feliz, satisfeito ou contente com a vida" e "ser capaz de fazer o que se quer fazer, quando quiser fazê-lo." Os participantes descreveram sua qualidade de vida como "boa" e "maravilhosa". Porém, os pesquisadores afirmam que o estilo de vida dos participantes foi afetado por problemas de saúde e de resistência, por diarreia, ostomia (abertura cirúrgica que traz parte do trato urinário ou intestino à superfície para que dejetos sejam expelidos) e por variações na flexibilidade dos horários de infusão. Dos 24 participantes, 95,8% apresentavam síndrome do intestino curto e 4,2% pseudo-obstrução.

Segundo Eliana Steinman, proctologista do Serviço de Cirurgia Geral do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, a síndrome do intestino curto (SIC) pode ser definida como síndrome de má absorção global resultante de extensa ressecção intestinal. É uma desordem clínica que resulta em alterações da anatomia e fisiologia normal do intestino. Essas alterações podem provocar diversas complicações metabólicas, nutricionais e infecciosas. A etiologia é diferente na população de adultos e de crianças. Nos adultos, a causa mais frequente é a trombose mesentérica, obstrução intestinal, hérnia interna, Doença de Crohn, trauma e neoplasias. Nas crianças, há as desordens congênitas como atresia intestinal, gastrosquise e volvo e as enterocolites necrotizantes , explica.

Eliana afirma que os doentes com esse diagnóstico apresentam um conjunto de sinais e sintomas clínicos, como diarreia crônica, desidratação, distúrbios eletrolíticos, má absorção de macro e micronutrientes, perda de peso e desnutrição, que é resultado de má digestão e absorção dos nutrientes.

O diagnóstico, segundo a médica, costuma ser feito durante cirurgia quando o cirurgião constata a extensão da ressecção intestinal. Considera-se pequena ressecção intestinal aquela em que o intestino remanescente é de 100 a 150 cm; a ressecção grande deixa entre 40 e 100 cm; já na maciça permanece menos de 40 cm de intestino delgado , diz.

De acordo com Eliana, o tratamento vai depender de fatores como extensão do intestino remanescente, presença ou ausência da válvula ileocecal, estado funcional do órgão digestivo restante e capacidade adaptativa do intestino remanescente. Se o tamanho do intestino delgado for > 60-80 cm e tiver a válvula ileocecal e o colon for parcialmente empregado, o tratamento envolve: nutrição parenteral numa fase inicial, utilização de soluções isotônicas, controle e reposição de água e eletrólitos, drogas antidiarréicas, triglicérides e reposição de cálcio. Se as condições iniciais não estiverem presentes, é muito provável que este paciente necessite de nutrição parenteral de longo prazo, parcial ou total , explica.

Segundo Eliana, algumas vezes o transplante intestinal pode ser necessário. O procedimento é indicado em casos de falência intestinal ou quando o paciente apresenta menos de 50cm de intestino remanescente e é dependente de nutrição parenteral.

A médica conta que recentemente tem sido realizada, principalmente em crianças, cirurgia de inversão do segmento intestinal associada à enteroplastia transversa (STEP). A técnica ao alongar e afilar o intestino remanescente aumenta sua capacidade de absorção. Eliana afirma que os resultados têm sido promissores.