Pesquisa desvenda a vida e a morte dos mastodontes que viviam em MG
JB Online
RIO DE JANEIRO - Eles tinham altura entre três e quatro metros, longas presas de marfim e pelos provavelmente curtos. Os extintos mastodontes brasileiros (Stegomastodon waringi) possuíam uma aparência que lembra o atual elefante africano, porém, um pouco mais baixos e robustos, com presas maiores. Pouco se sabe sobre como era a vida e as causas do desaparecimento desses mamíferos pré-históricos que habitavam a América do Sul, verdadeiros 'pesos pesados' de cinco toneladas.
Estudos coordenados pelo paleontólogo Leonardo dos Santos Avilla, do Laboratório de Mastozoologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), sugerem como viviam e apontam uma possível justificativa para a extinção da maior assembleia (conjunto) desses mamíferos, cujos fósseis foram encontrados na América do Sul. Há aproximadamente 11 mil anos, período correspondente ao final do Pleistoceno ou 'Era do Gelo', cerca de 80 mastodontes viviam na região que hoje abriga o município mineiro de Araxá.
As ossadas desses mamíferos foram coletadas nos anos 1930, no interior de uma espécie de 'caldeirão' estrutura geológica onde se deposita uma grande concentração de ossos fossilizados com a mesma origem.
- O local pode ter sido um lago, para onde os ossos dos mastodontes foram arrastados devido à ação das chuvas, e ali se conservaram ao longo dos anos - diz Avilla, lembrando que os fósseis ficaram armazenados no Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), longe da análise científica por décadas, até o momento em que se retomaram os estudos dos materiais.
Para desvendar a causa da morte em massa dos 'primos' ancestrais dos elefantes, a equipe investiga diversas pistas registradas nas ossadas. Uma delas é a avaliação do desgaste dentário dos mastodontes, que ajuda a determinar a faixa etária que tinha cada animal da assembleia. Esse é o alvo do estudo de Dimila Mothé, aluna de Avilla que contou com uma bolsa de iniciação científica concedida pela FAPERJ. Seu trabalho foi submetido à revista científica Paleobiology.
Ela analisou os molares dos mastodontes, que,assim como os atuais elefantes, trocavam periodicamente os dentes de acordo com o desgaste causado pela alimentação.
- Avaliando a relação entre o desgaste dentário e a posição do molar na boca, foi possível determinar as faixas etárias dos mastodontes. Existiam animais de várias idades na assembleia, desde bebês até indivíduos com mais de 60 anos - diz Dimila.
O fato de apresentarem diferentes idades indica que a morte em massa foi resultado de uma catástrofe natural, provavelmente devido a uma grande enchente.
- Partindo de evidências geológicas e tafonômicas, temos certeza de que a assembleia foi extinta em uma grande enxurrada. Chuvas torrenciais são comuns em ambientes secos, como era a região de Araxá na época. Em situação normal de caça, os adultos jovens seriam as principais vítimas - afirma Avilla, descartando a hipótese de que a morte teria sido resultado da caça por outras espécies.
Outra pista preservada na ossada ao longo dos milhares de anos, que traz à tona detalhes preciosos para os pesquisadores, são os túneis cavados por besouros nas carcaças, durante o tempo em que estiveram expostas fora do 'caldeirão'. Outro aluno de Avilla, Victor Hugo Dominato, observou 43 perfurações em cinco vértebras cervicais, que serviam como ninho para as pupas de besouros.
- Os besouros adultos depositam suas pupas nas carniças, que se alimentam da medula óssea, conhecida como tutano - explica Dominato, assinalando que o estudo que resultou na publicação de um artigo na Revista Brasileira de Paleontologia possibilita traçar um histórico do que houve com a ossada desde a morte dos mastodontes até quando foram fossilizadas.
As informações são da Agência Faperj
