Bizarrice ou auto-conhecimento? Saiba mais sobre suspensão corporal
Portal Terra
SÃO PAULO - Antes de mais nada, um aviso: se você não se sente confortável com piercings, agulhas ou instrumentos perfurocortantes e histórias que envolvem dor e sangue, por favor não continue lendo esta matéria. O Terra conversou com profissionais que já viveram a experiência de uma suspensão para saber como é feito este ritual, que é muito mais antigo do que se imagina.
Quem assistiu ao filme Encarnação do Demônio, de José Mojica Marins, provavelmente se perguntou se aquela cena em que um policial é levantado - aos gritos - por ganchos enterrados em suas costas tem algum tipo de truque.
Quem responde é o próprio ator, Manoel Garcia Neto, o Freak Garcia, 29 anos: - Foi demorado e cansativo. Fiquei umas três horas com o gancho nas costas, porque para cada tomada precisava descer e subir de novo, mas foi tudo feio de verdade mesmo, por profissionais que trabalham com piercing - afirma o ator e tatuador de Sorocaba, interior de São Paulo.
A técnica da suspensão por ganchos teve suas origens há milhares de anos, em rituais religiosos no Sul da Índia, principalmente na província de Tamil Nadu. Os nativos eram amarrados em troncos de árvores suspensos por artefatos de bambu espetados e metal ao corpo. A sensação de dor extrema os fazia acreditar que estavam mais próximos das divindades.
Mais tarde, no final do século 19, início do século 20, rituais dos índios americanos, principalmente do norte e do oeste, passaram a ser divulgados por meio de fotografias e jornais locais. Utilizando espetos e ganchos usados na pesca, os indígenas furavam a pele, como forma de auto-conhecimento e controle do corpo e das sensações.
Com o passar dos anos, o costume ficou mais conhecido, e começou a atrair a atenção de pessoas ligadas a sensações extremas, os chamados 'adrenaline junkies' (viciados em adrenalina) que aperfeiçoaram as técnicas, inventando novos meios de suspender o corpo usando ganchos espetados na pele.
Fakir Musafar
Um dos responsáveis pela divulgação dessas técnicas nos últimos 50 anos é o americano Fakir Musafar. Desde o final dos anos 40, Musafar (que não divulga seu nome real, tendo se apropriado do nome de um místico persa do século 12) desenvolveu técnicas de perfurações e auto-mutilações que o deixaram famoso. Atualmente com 78 anos, comanda uma escola de técnicas de body modification nos EUA.
Outro americano que é chamado de 'pai da suspensão moderna' é Allen Falkner, fundador do grupo TSD (Traumatic Stress Discipline).
Por meio do TSD, um dos pioneiro do body piercing no Brasil, André Meyer, fez sua primeira suspensão, nos EUA, em 1998. Ele afirma que o mais importante é confiar em quem vai realizar o procedimento. - É algo que tem que ser feito por profissionais. Se você não estiver preparado, mental e fisicamente, pode ser uma experiência muito traumática - afirma André.
Freak Garcia concorda. - Não é algo para ser feito no fundo do quintal. É um procedimento muito delicado, que requer conhecimento técnico. Se for mal aplicado, o gancho pode rasgar a pele.
Atualmente a grande discussão sobre o tema é a respeito da perda do caráter transcendental da suspensão. Segundo Meyer, 'hoje em dia todo mundo quer se mostrar'. Fakir Musafar também afirma em seu site que a prática 'é algo que tem a ver com seu corpo e se espírito, não é algo para se fazer em uma boate, como um freak show'.
Seja qual for o motivo que leva as pessoas a praticar uma suspensão, são necessários uma série de cuidados: alguns dias antes da prática é recomendável iniciar uma dieta sem alimentos pesados, álcool, cigarros ou drogas, que serve para 'limpar' o organismo, para que ele reaja bem ao objeto estranho que será introduzido. Outra coisa é realizar a suspensão sempre sob a supervisão de profissionais experientes. E na hora da prática, caso não se sinta confortável, ou a dor seja algo incontrolável, o recomendado é parar na hora. Com o corpo tenso, a dor aumenta e o risco de lesões sérias é maior.
