A dubiedade do slogan 'Brasil, um país de todos'
Ivan d'Andrade, JB Online
RIO - Já há algum tempo, desde o seu primeiro mandato, venho observando o dúbio sentido nessa publicidade do governo federal, Brasil, um país de todos, em que, flagrantemente, se nota, NÃO a obviedade da intercomunicação, ou o que, sabiamente, o lingüista dinamarquês Louis Hjelmslev chama de conteúdo de consciência, entre governo e o povo, valendo dizer, os eleitores, MAS, simplesmente a duplicidade sígnic(Concernente a signo!).
Explicito: se ao meu interlocutor me dirijo dizendo que o Brasil é um país de todos os brasileiros, só mudaria o artigo indefinido /um/ para definido /o/, no sentido de obter um significado bem claro, límpido, semanticamente (embora nem sempre verdadeiro, na prática brasileira...) Posteriormente, explico a mudança desse artigo. Agora, se me expresso a esse mesmo povo manifestando, só e somente, que o Brasil é um país de todos, no mínimo, uma indagação paira sobre nossas mentes: todos quem? Quem são esses todos? Somente os brasileiros? Será mesmo? Acentuadamente, quando temos consciência do frenético e ardente desejo dos inúmeros estrangeiros que vivem cobiçando (e aqui adentrando, à vontade...) o nosso solo, mais precisamente a Amazônia!
Aqui é que bate o ponto! E ninguém venha querer dizer que o complemento ...(os brasileiros) está subentendido, oculto, elíptico, ou outras invencionices, que nada justifica! Justamente, para evitar esse tipo de dubiedade , o governo norte/americano (leia-se Abraham Lincoln), em determinado momento histórico do seu governo, explicitou: A América (do Norte) para os americanos!
Será que o senhor Presidente da República não dispõe sequer de um auxiliar, assessor para esse tipo de observação linguístico/semântica, no sentido de o alertar para essa dubiedade lexicológica no seu slogan de governo, que já se arrasta pelo segundo mandato? Um estrangeiro que, por exemplo, conhece um pouco do mecanismo da nossa lexicologia, percebe, logo, que há um equívoco semântico nessa expressão, e se este for daqueles ávidos para querer vir para o Brasil, vem correndo, e, aqui, barrado, (o que é muito improvável...) apresenta o seu argumento lingüístico, e ganha fácil, fácil a questão!...
Não seria melhor se o slogan fosse mais objetivo e abrangente: Brasil, o país de todos os brasileiros!(?) ou, melhor ainda: Brasil, o país de todos nós, brasileiros!(?) Manifestando o seu patriotismo, ele, o Presidente, também, explicitamente, se incluiria como brasileiro! Excelente e oportuno, não acham?
A propósito do artigo, como o próprio vocábulo o adjetiva, pode ser definido e indefinido: o primeiro, no caso, /o/, determina, precisa: ... o país de todos... Já o segundo, /um/ é inadequado para essa construção sintática. Como o próprio termo declara: indefine, indetermina, é vago: ...um país de todos...
Isto posto, ainda há tempo, senhor Presidente! Não só lhe ficaríamos muito gratos, como nos sentiríamos bem mais patriotas, brasileiros!
