"O hétero" encerra temporada no Teatro Dulcina nesta quarta

Escrito e interpretado por Zé Wendell o espetáculo narra a saga de um artista brasileiro em busca de autoconhecimento e autoaceitação

Por

Monólogo 'O hétero' conta a história de Fulano de Tal que é nordestino, artista e sonhador

O monólogo performático “O hétero” , encerra temporada com apresentações nesta segunda (26), terça (27) e quarta (28), a partir das 19h, no Teatro Dulcina, no Centro do Rio. O espetáculo é o primeiro texto solo de Zé Wendell, que também protagoniza a história sob direção de Alice Steinbruck. Viabilizado via financiamento coletivo, o monólogo autorreferente conta com humor a história de Fulano de Tal, um artista nordestino sonhador que sai pelo mundo em busca de espaço profissional numa jornada de autoconhecimento e autoaceitação. Para isso carrega, além de seus questionamentos e observações, uma potente bagagem cultural, que vai da pluralidade da cultura popular brasileira às influências midiáticas da televisão com suas telenovelas e programas de auditório. 

“A necessidade de sobrevivência me levou a escrever este texto para resistir ao mal e existir como artista. Estava numa fase de inquietação interna, com poucos trabalhos e uma necessidade pungente de criar. Nosso país inserido numa tensão política como nunca vi antes, com um discurso deturpado sobre o papel do artista na sociedade. Não queria contar com a sorte ou esperar por convites e quis dar conta do meu papel de ator de forma mais autônoma. Me joguei de cabeça”, afirma Zé, que é integrante da Cia. Omondé há 10 anos. “Eu precisava falar do mundo sob vários aspectos: o mundo do artista, do nordestino imigrante, do LGBTI açoitado diariamente no país que mais mata esta população. Por isso resolvi falar do meu quintal e botei a minha verdade pra jogo”, relata.

A parceria com Alice na direção vem dos tempos em que eram colegas na Unirio, onde se formaram há 14 anos em Artes Cênicas. “O Zé se formou em interpretação e eu em direção e, para este trabalho, criamos uma partitura surrealista para contar de maneira virtuosa esta saga. Por termos algumas experiências reais misturadas com fantasia, fizemos um trabalho delicado, que demandou muita conversa e uma profunda reflexão sobre o que ele, como autor, havia escrito”, revela a diretora. “Para um monólogo com vários personagens ter um ritmo adequado é preciso desapego e humildade na abordagem das narrativas, do tempo e do material humano que você tem. O Zé teve uma escuta fenomenal e se abriu para a abordagem quase psicanalítica que eu usei para desvelar este texto no corpo dele. Com muito rigor técnico nas seis horas diárias de ensaios, conversas profundas, repetições sem trégua e nenhuma procrastinação chegamos ao resultado que poderá ser conferido no palco”, celebra.

Em alguns momentos, o texto alude à literatura de cordel e, paralelamente, se vale da linguagem pop e de uma pequena dose de existencialismo filosófico. “A peça não é apenas para entreter. Construímos um monólogo performático cheio de representatividade e com um dedo na ferida que convida à reflexão, pois discutimos a questão das minorias abordando estigmas e sendo um espelho da nossa sociedade atual. Falar sobre identidade e preconceito hoje é um ato político, uma quebra de tabu. Falo do direito de poder exercer minhas convicções, minha fala, meu timbre de voz, meu corpo”, desabafa Wendell.

“Infelizmente estamos retrocedendo no tempo e precisamos combater esse tipo de ideologia, que se diz não ideológica. Senti e ainda sinto isso na pele, mas chega de opressão! Acredito que as influências externas nos definem e muito, afinal, somos frutos do meio. Porque podem nos dizer como devemos ser? Que autoridade e que legitimidade possuem para condenar o outro ao inferno de suas próprias convicções? Enquanto isso não for compreendido, estaremos fadados ao fracasso social. Obviamente nossas instituições contribuem para isso – a religião, a política, a família e até a educação das escolas estão contaminadas dessa mentira. É lamentável e cruel. Mas é real. Decidi encarar, botei minha verdade para jogo. Acredito que precisamos criar e produzir, pois é a única forma de fomentar e fortalecer nossa própria carreira. Então ou você cria, ou você morre. E eu decidi viver”, encerra o a(u)tor.

Sinopse: O monólogo conta com muito humor a história de Fulano de Tal, nordestino, artista e sonhador. Um homem comum que sai pelo mundo numa jornada de autoconhecimento e aceitação de si mesmo, trazendo consigo a pluralidade da cultura popular brasileira e flertando com a cultura do repente, do cordel e das influências midiáticas da televisão na década de 90, chegando até os dias de hoje.

Ficha técnica: Texto e atuação: Zé Wendell / Direção: Alice Steinbruck / Direção de Produção: Zé Wendell / Produção Executiva: Andrea Menezes / Iluminação: Ana Luzia de Simoni / Figurino: Ticiana Passos / Cenário: Mina Quental / Visagismo: Márcio Mello / Direção Musical: Marcelo Alonso Neves / Programação Visual: André Senna.

Serviço: Local: Teatro Dulcina / Rua Alcindo Guanabara, 17, Cinelândia, Centro, RJ / Datas e horários: Segunda, terça e quarta, às 19h, até 28 de agosto / Ingressos: R$ 40 (Inteira) / R$ 20 (Meia-entrada) / Duração: 60 minutos / Classificação: 16 anos / Gênero: Tragicomédia. Tel.: (21) 2240-4879.