‘Kevin’, de Joana Oliveira, estreia nessa quinta nos cinemas
Filme fala sobre o reencontro de duas amigas, uma do Brasil, outra de Uganda, após 20 anos distantes
Estreia nessa quinta (3) nos cinemas, ‘Kevin’, de Joana Oliveira. O filme parte do momento em que Joana, uma brasileira, visita sua amiga Kevin Adweko em Uganda. Elas se tornaram amigas há 20 anos quando estudaram juntas na Alemanha, e faz muito tempo que não se viam.
A partir desse encontro, o filme tece a fina trama que é uma conversa entre duas amigas: as histórias do passado, os desejos, os caminhos trilhados, os diferentes modos de encarar a vida e um elo de amor e sororidade que resiste à distância e ao tempo.
‘Kevin’ foi filmado em duas etapas: a primeira em 2017, em Uganda, onde foi rodada uma parte grande do filme, e a segunda em 2019, em Belo Horizonte (MG), e depois novamente em Uganda, na cidade de Jinja.
O filme teve suas primeiras exibições na Mostra de Cinema de Tiradentes, que aconteceu on-line, e também sessões presenciais no Canadá e na Alemanha.
Em entrevista ao JORNAL DO BRASIL, a diretora falou sobre seu desejo de realizar um filme que celebrasse a amizade, os desafios que precisou enfrentar filmando em países com culturas diferentes, e sua satisfação com a excelente receptividade que tem tido.
JORNAL DO BRASIL - O filme marca o reencontro de duas pessoas 20 anos depois e, paralelamente, traz de volta os rumos que a história tomou nesse tempo que passou. Havia uma intenção inicial que isso ocorresse?
JOANA OLIVEIRA - Eu queria fazer um filme em que duas amigas de muito tempo se reencontravam e podiam conversar por horas sobre o que aconteceu com cada uma e como lidam com a vida no presente, sempre com a conexão que se estabeleceu na juventude. Bom, essas amigas somos eu e Kevin. Eu tinha o desafio de tentar tornar algo muito íntimo, que é a nossa relação, em um filme que celebrasse a amizade. Queria refletir um pouco sobre a vida adulta; como ela é difícil e como a gente não tinha ideia do que ia acontecer quando éramos jovens de 20 anos. Mas, a intenção mesmo era mostrar que tudo fica melhor quando dividimos com amigas/os. Afinal, acho que o fluxo da vida acontece no encontro.
Quais os desafios que precisou enfrentar para realizar o filme? Várias locações, culturas diferentes e, principalmente, o fato de ser uma das pessoas retratadas, o que às vezes exige uma seleção mais estreita do que retratar ou não.
A ideia inicial era trazer a Kevin da Alemanha para o Brasil para me visitar, ou seja, o encontro aconteceria aqui. Aliás, uma parte do filme foi financiada pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. Quando ela se mudou da Alemanha para Uganda, e o projeto de filme se modificou inteiramente, tive que negociar essa mudança com a Fundação de Cultura. Foi muito legal porque a comissão entendeu que o filme era sobre o reencontro de amigas e não sobre o local onde o encontro iria ser filmado.
Bom, o filme existe também porque a Kevin se envolveu na produção, uma vez que ela nos recebeu maravilhosamente. Foi ela quem procurou lugar para que toda a equipe ficasse, foi ela que nos apresentou tudo. Uma coisa é você receber sua amiga. Outra coisa é você receber uma equipe de filmagem que vem com ela – risos.
O filme era sobre minha amizade com a Kevin, então, por mais que estivéssemos em Uganda, não era um filme sobre Uganda. Eu não conseguiria fazer um filme sobre um país que tinha acabado de chegar e não conhecia profundamente. Então me concentrei na Kevin, que lidou com a equipe superbem. Ela é um talento natural e eu estava ali para e por ela. Filmamos de acordo com a agenda que ela estabeleceu, e deu certo.
E eu confiei totalmente na equipe, nós combinávamos como a cena seria filmada, e então eu entrava na minha personagem. A equipe improvisava soluções quando as coisas estavam acontecendo fora do combinado. Foi uma sintonia muito boa, tanto com a equipe de fotografia, quanto com a de som e a de produção. Cristina Maure, a diretora de fotografia, e Gustavo Fioravante, o diretor de som, trabalham comigo há bastante tempo e souberam bem improvisar para deixar as coisas fluírem sem cortar. E o pessoal da produção segurava a onda do entorno para que tudo desse certo.
Além dos resultados visíveis e mais diretos, cite alguns outros que você acha que o filme trará para os espectadores de vários países que, através dele, conhecerão com mais profundidade traços, padrões e complexos culturais dos envolvidos?
Eu estive presente em algumas sessões presenciais fora do Brasil; uma no Canadá, outras três na Alemanha. É impressionante como o filme conversa com muita gente. Nos debates após as sessões, os temas discutidos são uma reverberação do que Kevin e eu conversamos no filme. As pessoas querem não só perguntar, mas contar suas experiências com amizades de longa data, com maternidade, com paternidade, com relações inter-raciais, sobre racismo, sobre ser mulher e estrangeira em outro país. Também, muitas mulheres falaram sobre o peso que a sociedade deixa cair sobre elas em relação a turnos duplicados; o trabalho doméstico e o trabalho fora de casa. Sobretudo, as pessoas falam de um conforto que sentem ao estar junto de Kevin e de mim durante nossas conversas íntimas. É bastante emocionante.
