'O Presidente Improvável' estreia nessa quinta nos cinemas

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Por MYRNA SILVEIRA BRANDÃO

Making off de 'O Presidente Improvável'

Com roteiro de Belisario Franca e Lyana Peck e produção da Giro Filmes, o documentário apresenta a vida e o pensamento de Fernando Henrique Cardoso em primeira pessoa, em uma série de diálogos do ex-presidente com grandes personalidades do Brasil e do mundo.

Ao longo de 90 minutos, conversas sobre política, economia, relações internacionais, sociologia, educação, meio ambiente, comportamento e cultura se misturam a memórias do passado evocadas tanto por FHC quanto por seus interlocutores.

O documentário faz um resgate do legado do ex-presidente, que completará 90 anos em junho, como brasileiro, sociólogo e político.

Entre seus interlocutores, destacam-se personalidades como o ex-presidente dos EUA Bill Clinton, o sociólogo Manuel Castells, o ex-ministro da Cultura e cantor Gilberto Gil, o ex-presidente do Chile Ricardo Lagos, o cientista político Sérgio Fausto e o sociólogo Alan Touraine.

Na entrevista exclusiva que deu ao JORNAL DO BRASIL, o diretor Belisário Franca revelou o que mais o motivou para fazer o filme, os desafios que precisou superar para realizá-lo e os resultados que espera.

 

JORNAL DO BRASIL - Há muitas motivações para realizar um filme e algumas são óbvias, como é o caso deste trabalho. Mas às vezes há alguma que foi fundamental para a realização. Houve alguma especial neste caso?

BELISARIO FRANCA - Talvez seja um estado de perplexidade com os acontecimentos dos últimos anos no Brasil. E um desejo de tentar entender como foi que chegamos aqui. Esse filme não responde a perplexidade, mas como em outros filmes que realizei, como “Estratégia Xavante”, “Menino 23”, “Soldados do Araguaia” e “Nazinha”, também traz à tona fragmentos históricos que têm consequências visíveis em nosso presente. A história também se faz presente nesse filme. Em “O Presidente Improvável”, ao revisitar a trajetória de Fernando Henrique Cardoso trazendo, ao mesmo tempo, a reflexão do pensador e o posicionamento do homem, nesse ponto específico de sua vida, chegando aos 90 anos e já afastado do plano mais imediato da política, apostamos que trazer à presença todo um registro da vida brasileira das últimas décadas pode nos ajudar a entender um pouco mais os impasses do presente.

 

Além de apresentar a vida e o pensamento do ex-presidente, os temas relacionados com política, economia, relações internacionais, sociologia, educação, comportamento e cultura, trazem um rico acervo para compreensão da história e um precioso legado para o futuro. Com isso em mente, quais os principais resultados que espera com o filme?

Cinema documentário sempre me interessou pelo que ele tem de instável e muitas vezes do que tem de não planejado. Quando começamos esse filme não tínhamos noção que, para além de uma cinebiografia, estaríamos contando um pouco da história do Brasil. E estaríamos falando de um tempo de lutas e ideias que surgiram, se desenvolveram e criaram uma época. Se a política, na sua origem, se ocupava com a felicidade e a melhor realização coletiva, entender nossa história talvez nos ajude a ampliar o que entendemos como política e contribua, em última análise, para a construção que pudermos fazer de um país mais digno e consequente. Sei que um filme pode pouco, que ele opera nas frestas. Mas é isso mesmo que me interessa. Minha aposta, e meu desejo, no longo prazo, é um filme que possa ser assistido hoje, e daqui a 30 anos, ainda possa fazer reverberar a sua verdade.

 

Quais foram os maiores desafios para realizar um filme tão rico em memórias e também tão oportuno neste momento que estamos vivendo?


A principal questão para mim foi como me preparar e estruturar um método para ultrapassar a superfície, numa cinebiografia cujo personagem conta mais de 70 anos de vida pública. Como me aproximar o suficiente para apreender e ao mesmo tempo manter a distância que permitiria ao filme jogar alguma luz na trajetória daquele intelectual que se tornou político, sem nunca deixar de ser intelectual? Fernando Henrique não é apenas uma figura presente em quase um século de história do Brasil: ele foi um de seus principais intérpretes e autores. Alguém que pensou o poder, mas que também praticou o poder. Logo no primeiro encontro que tivemos, ficou claro o quanto ele era preparadíssimo para todo tipo de debate, e eventualmente de confronto, em encontros, conversas, discussões.
No caso de “O Presidente Improvável” o dispositivo que se apresentou foi a própria forma do diálogo: por intermédio da palavra, o encontro. Vinte encontros, um a um, se alternando. Indo e voltando num carrossel, concatenados pelo desdobramento de um assunto, de um tópico determinado, de um caso, uma memória ou impressão… Vinte diálogos em torno de uma vida que vão pouco a pouco contornando e deixando aparecer um presidente, o pensador, o homem, sua história, a nossa história.