Crítica - ‘Benedetta’: blasfemo e sensual

Cotação: quatro estrelas

Por TOM LEÃO

'Benedetta': o novo (e polêmico) filme de Paul Verhoeven, é um dos destaques do Festival do Rio

O já polêmico (para variar) novo filme de Paul Verhoeven, ‘Benedetta’, é um dos destaques do Festival do Rio. O longa será exibido no sábado (11), no Reserva Cultural (Niterói), e terá mais duas exibições no festival (dia 14, no Estação Net Botafogo 1; e dia 18, no Estação Net Gávea 5). Depois, só quando estrear, oficialmente, em 13 de janeiro.

Desde seu primeiro sucesso americano, ‘RoboCop’ (1987), a polêmica sempre andou de braços dados com o diretor holandês. PV geralmente provoca por tocar em temas fortes, sem pudores (como em seu anterior, ‘Elle’). Seus filmes têm uma violência de história em quadrinhos (como em ‘RoboCop’ e ‘Tropas Estelares’). Ou a sensualidade à beira do erótico (‘Instinto Selvagem’ e ‘Showgirls’). São do tipo ame ou odeie.

E desde cedo PV sempre teve um pé no blasfemo, também. Um de seus filmes holandeses, ‘O Quarto Homem’ (1983), foi proibido no Brasil, nos 80s (ainda estávamos sob a ditadura, vale lembrar), porque tinha uma cena envolvendo Jesus Cristo. E cenas envolvendo Cristo não faltam em ‘Benedetta’.

Baseado em fatos reais (que Verhoeven pesquisou no livro ‘Immodest Acts: the life of a lesbian nun in Renaissance Italy’, de Judith C. Brown), conta a história de uma freira, na Itália do século 17, que sofre de visões religiosas (diz que é casada com Jesus) e eróticas. Adotada desde menina por um convento, aos poucos vai se tornando influente, a ponto de chegar à madre superiora. No caminho, acaba tendo uma relação lésbica com uma noviça, Bartolomea.

Verhoeven - ainda afiado aos 83 anos - mostra tudo isso com (muita) nudez e cenas chocantes. Ele diz que apenas mostrou um fato real. Não está preocupado se vai incomodar ou não. Nisso lembra muito Ken Russell, que fez um filme extremamente perturbador - e também baseado em fatos reais -, ‘Os Demônios’ (1971), com o qual ‘Benedetta’ guarda várias semelhanças. ‘Os Demônios’ conta a história (passada na França, do século 17) de uma freira sexualmente reprimida que acusa um padre por quem nutre desejo, de bruxaria. Não preciso dizer que o filme foi banido em vários países. Inclusive no Brasil.

Em relação ao filme de Russell, ‘Benedetta’ é mais sexualmente explícito (ela se masturba com uma estatueta da Virgem Maria, por exemplo). Contudo, em meio aos tempos atuais, politicamente corretos e caretas, soará tão ou mais incômodo do que o foi ‘Os Demônios’ em sua época. Fará gente sair da sala?
‘Benedetta’ (que é falado em francês) tem uma fotografia maravilhosa, e uma trilha sonora fantástica, a cargo de Ann Dudley (que, nos 80s, fez parte da banda eletrônica The Art of Noise). E revela as belas e talentosas belgas Virginie Effira (Benedetta) e Daphne Patakia (Bartolomea). Além de contar com a presença da tarimbada Charlotte Rampling (Madre Felicitá), que, quando jovem e sexy, fez ‘O Porteiro da Noite’ (1974), de Liliana Cavani. Que também foi proibido aqui. Enfim, é um filme bom para movimentar festival.

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COTAÇÕES: ***** excelente / **** muito bom / *** bom / ** regular / * ruim / bola preta: péssimo.