Dependência do SUS cresce na pandemia e 'cultura de cortes' pode piorar situação, diz médico

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Unidade de Pronto Atendimento do Sistema Único de Saúde, em Brasília

Segundo pesquisa publicada pelo IBGE no início de setembro, cerca de 150 milhões de brasileiros dependem do SUS para tratamento médico. Apenas 26% da população seria cliente de planos médicos de saúde. Esse número é ainda menor nas regiões Norte e Nordeste, sendo 14,7% e 16,6%, respectivamente.

Tal situação pode ficar ainda mais desigual devido aos efeitos da pandemia do novo coronavírus, que desencadeou uma crise sanitária e agravou a situação econômica no Brasil, que já vinha restringindo investimento público mesmo em áreas como a saúde.

Para o médico Sylvio Provenzano, especialista em Saúde Pública, ex-presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), a falta de investimento tem reduzido anualmente a capacidade do SUS e a pandemia, de fato, agravou a situação do atendimento no país.

"As filas, que já eram imensas, estão infinitas. As pessoas aguardam com a paciência que só o brasileiro aprende a ter desde pequenininho para esperar sua vez. E realmente, o atendimento a 150 milhões de pessoas no sistema público é algo quase que impensável. E o Brasil tem um sistema 'mix', ou seja, mistura o público e o privado. Só que o privado perdeu muita gente, fruto do desemprego que aconteceu devido ao isolamento que é necessário para conter a expansão da Covid-19", aponta o médico em entrevista à agência Sputnik Brasil.

Provenzano, que é chefe da Clínica Médica do Hospital dos Servidores do Estado, no Rio de Janeiro, afirma que, mesmo que as verbas aumentassem, não acredita que hoje o SUS seria capaz de atender todas as pessoas.

"Por mais verbas que o governo federal destinasse à saúde pública, eu acredito que ainda assim seria insuficiente. E hoje, o governo tem outras preocupações como tentar amortizar o impacto econômico na população, principalmente aqueles de baixa renda. Existe uma série de obrigações que o governo tem que cumprir", comenta.

O médico também critica o que identifica como uma cultura de austeridade econômica no Brasil que privilegia cortes na saúde e na educação.

"E nós vemos, infelizmente, com muita tristeza, que aqui no Brasil existe uma cultura por parte dos governantes que, quando temos que reduzir [investimentos] a primeira coisa que vem na cabeça é a educação – o que na minha cabeça é um erro crasso – e logo em segundo lugar a saúde. Ou seja, um erro agravando o outro", avalia.

O médico também aproveita para reforçar a necessidade de que continue a vigilância por parte da população para conter a propagação da Covid-19 no Brasil, lavando as mãos, evitando aglomerações e utilizando máscaras. Segundo os dados mais recentes do consórcio de veículos de imprensa, que compila informações das secretarias estaduais de saúde, o país tem atualmente mais de 132 mil mortos por Covid-19 e cerca de 4,3 milhões de casos confirmados da doença.

"Cabe a nós tomarmos medidas para que não sejamos os próximos a engrossar essa lista de pessoas que precisam do SUS porque pegamos a Covid-19. Então, que a gente tome os cuidados, porque a responsabilidade é de cada um de nós, é individual. É para conosco, para com nossos familiares e amigos, e para com a sociedade de modo geral. Cuidem-se", conclui.(Com agência Sputnik Brasil)