Estampas e kamikazes

Por IESA RODRIGUES

Camisas com ilustrações de Antonio Guedes e Diogo Reis dão conceito de galeria de arte

O humor carioca pode atrair adeptos internacionais. Ou provocar sentimentos de concorrência de marcas famosas, também internacionais. Ou melhor, na moda, dar a quem veste a sensação de usar uma obra de arte.

Estampas coloridas

Hermes Inocêncio foi modelo, lutou nas seleções, porque há duas décadas quase não havia trabalho para negros. Mas conseguiu capas de revistas e desfiles, até decidir que queria passar para a criação de roupa masculina. “No princípio, o foco era o consumo gay. Logo, minhas camisas estampadas começaram a chamar a atenção quando expunha nas feiras como a Babilônia Hype. Foram usadas como figurino do Agostinho (personagem do ator Pedro Cardoso) na Grande Família. Comecei a vestir músicos como Toni Garrido, atores como o Alexandre Nero e o Chay Suede, o jogador Caniggia”, conta Hermes, desde 2014 instalado na loja próxima da praça General Osório. Sem muito alarde, vai conquistando quem curte as camisas em estampas coloridas, de pequena produção, as calças e hoodies em padrão onça, os looks de camisa longa e bermudas em linho. A vitrine, um tanto caótica, atrai os estrangeiros, turistas que adoram o colorido das coleções. “De vez em quando aparecem designers de grifes, aquele pessoal de equipes de marcas famosas francesas.”.

Uma destas marcas tenta interferir no nome da Hermes Inocêncio: é a luxuosa Hermès, autora das bolsas com fila de espera e dos lenços de seda usados por rainhas e celebridades. “Alegam que o nome é deles, que o meu logo é copiado. Acontece que este é o meu nome, e o logo deles tem uma carruagenzinha, o meu tem um cachorrinho. Sem falar na diferença de produtos e preços…”, comenta Hermes, cheio de razão. Seu método de criação faz sentido nestes tempos de economia instável: a coleção de verão em tamanhos de 38 a 44, vai sendo desenvolvida ao longo do ano. Os preços das camisas começam em R$ 170, as peças de linho, a partir de R$ 250.

E tem novidade a ser lançada em 15 de dezembro: um desfile de 12 looks da coleção inspirada na China deve agitar a calçada em frente à loja. Um pequeno spoil: destaque para as calças com estampa de guerreiros e as camisas com padrões de dragões ou de lanternas chinesas.

Antes do filme

O espaço na sala de espera do cinema no shopping da Gávea já foi point de produtos ligados a filmes e loja de móveis design. Agora, é a Naked Neuras, aparentemente um estoque de camisetas espremidas em araras em torno das paredes e na frente da loja. Só que os sócios, o Antônio Guedes, ilustrador e figurinista (no currículo, trabalhos para peças de Gerald Thomas) e o Diogo Reis, designer, Dj, organizador da festa Moo, mais a Carol Monte, produzem camisetas com figuras, desenhos, estampas em falso corrido (os desenhos em silk separado), pequenas obras de arte contemporânea, “uma ousadia meio kamikaze”, segundo Antônio. Eis que surge Carol Monte, fazendo questão de mostrar a cabine de provas, um amplo corredor forrado de pelúcia branca, com cortina de fios coloridos. “Cenário perfeito para os posts!” comenta o trio. Aliás, quarteto, já que a parceria com Ivã Ribeiro trouxe o lindo glamour roqueiro da sua marca A Versão. Depois de lançada em São Paulo, a linha de camisetas com fotos de David Bowie e Patti Smith vem para o Rio com o brilho de paetês. Os preços começam em R$ 180.

“A Naked Neuras é uma pop up store (empreendimento de temporada), um estilo loungewear, de dia de ressaca. Uma vibe de conforto e prazer, de sair da praia e tomar um chope no Baixo”, definiu Antônio.

Vale lembrar que ao falar de moda masculina ousada e camisetas estampadas deve ser citado Beto Neves, autor da marca Complexo B, atualmente com espaço na Fábrica Behring.