Rebeldes ambientais, tecidos reciclados e pernas de fora. A moda do verão 2020

Por IESA RODRIGUES

Terno oversized como sugestão inspirada pelos integrantes do Parlamento Europeu, na coleção Balenciaga

Mesmo com o mundo discutindo crises econômicas e a preservação do meio ambiente a moda consegue propor novidades a serem vestidas no verão 2020 no hemisfério norte. Mais uma vez, Paris segue à frente dos novos conceitos, deixando o lado mais comercial e menos show para as semanas de desfiles de Nova York, Londres e Milão, as cidades que completam o circuito fashion do planeta.

Soluções têxteis

Muitas coleções incluíram o jeans como material, por exigir pouco na manutenção. Em compensação, representa uma das indústrias mais poluidoras pelo uso de água nas lavagens que dão o tom desejado nas peças. Pierpaolo Picciolo, designer da grife Valentino, optou por trabalhar com rendas reutilizadas, tecidos antigos e muitos detalhes artesanais. O couro fake tomou o lugar do natural em diversas botas de cano alto.

Atenção às notícias

Quem esteve nas plateias dos desfiles notou que os convidados tinham olhos fixos nos celulares. Em lugar de registrar os desfiles, rolavam as telas em busca de notícias sobre os acontecimentos do lado de fora das salas e locais da moda. Só que os criadores também estão antenados com o mundo real. Um exemplo, Rick Owens, americano filho de mexicanos, que mostrou deusas astecas de capacetes e golas pontudas, lembrando a política do Presidente Trump contra os imigrantes nas fronteiras do México com os Estados Unidos.

John Galliano, que desde o trabalho na Dior sempre assinou looks inspirados em uniformes militares, repetiu a ideia na Maison Margiela, se referindo a heróis das duas grandes guerras. Um dos looks homenageou uma enfermeira, sem muita coerência com uma coleção de verão, outros lembravam soldados da primeira guerra. Em um podcast que acompanhou a apresentação, John Galliano exortou: “Se você tem voz _ muita gente lutou para que você tivesse voz _ use-a, faça-se ouvir, acorde. É importante não esquecer do que nossos pais fizeram por nós, para que tenhamos o que temos hoje. Estamos em tempo de esperança” .

Demna Gvasalia vestiu um elenco de pessoas muito próximas da vida fora das passarelas. Homens de cabelos brancos, mulheres sem glamour, rapazes de jeans e paletós gigantes. Quase todos ostentando crachás e identificações de acordo com o empenho do designer da Balenciaga de retratar funcionários do Parlamento Europeu, atualmente às voltas com o Brexit.

Maria Grazia Chiuri foi quem melhor representou a campanha pelo meio ambiente e as florestas ameaçadas, no desfile em meio a 164 mudas de årvores, todas com etiquetas de identificação, prontas para serem transplantadas para florestas de verdade.

Pernas de fora

Tantas campanhas e protestos passaram ao longo de coleções com notícias de estilo. A mais importante, a proposta de saias mais curtas e a consagração dos shorts. Anthony Vaccarello mostrou em Saint Laurent muitas versões com botas longas, meias ou simplesmente as pernas nuas, em espaço no Trocadero, a Torre Eiffel ao fundo.

Já as saias curtas de Nicolas Ghesquière para a Louis Vuitton chamaram menos atenção do que a cantora trans Sophie cantando It´s okay to cry em um telão gigantesco. Ghesquière investe no estilo sem gênero desde que assumiu a direção criativa da Louis Vuitton. Já lançou modelos andróginos, e tem a atriz trans Indya Moore como host no desfile de inverno no Instagram.

E a Chanel consagrou o shorts e a bermuda na coleção com cenário de telhados de Paris, no Grand Palais. Virginie Viard, sucessora de Karl Lagerfeld, simplesmente combinou os famosos casaquinhos de tweed com shorts jeans ou bermudas de malha! Na época de Gabrielle Chanel, estas peças eram admitidas apenas para a prática de esportes. Mas vale para a nova designer mostrar sua originalidade e ousadia.

Quanto às campanhas do mundo real, elas continuam, depois de manifestações de grupos deitados na frente das entradas de alguns desfiles. O grupo XR (Extinction Rebellion) convoca a participação dos simpatizantes pela causa ambiental com uma ação que envolve os celulares na segunda-feira, dia 7 de outubro.