O que esperar do futuro dos relacionamentos românticos?

Por LAVÍNIA

Se o casamento surgiu por necessidade, a ideia do amor romântico só viria à tona muitos séculos mais tarde

Conhecer alguém. Paquerar. Namorar. Noivar. Casar. Filhos. Netos. Felizes para sempre. Ah, ou não. Como assim? Bem, os relacionamentos já não são mais como eram no tempo de nossos avós, mas a conclusão não é tão simples assim. Para compreender a situação de forma mais abrangente, nós precisamos voltar há alguns séculos atrás, quando a instituição do casamento foi criada como garantia de estabilidade. Imagine: a expectativa de vida era de 30 anos de idade, os homens deveriam ir para guerras e cuidar da terra ao longo do ano. Mulheres cuidariam dos bebês, além de ficarem responsáveis pelas funções domésticas. O casamento surge então como forma segura de que pessoas gerassem filhos e como meio de controle. Portanto, estamos aqui nos referindo de um relacionamento que, de acordo com os moldes atuais, já mudou muito.

O romantismo como impulsionador

Se o casamento surgiu por necessidade, a ideia do amor romântico só viria à tona muitos séculos mais tarde, mais precisamente nas primeiras décadas do século XIX, quando o núcleo familiar passou por transformações sociais. Um pouco após a revolução industrial, essa unidade simplificou-se e a ideia de afinidade passou a ser restringida às pessoas mais próximas. Na mesma época, a burguesia tornava-se modelo aos olhos de classes mais baixas e com ela difundia-se o conceito de individualidade e, portanto, escolhas pessoais, uma característica intrínseca ao amor romântico. Ora, se o indivíduo passou a ser o centro e deu espaço para o romantismo impulsionar um novo modelo de relacionamento - e agora poderiam casar por amor -, há ainda alguma questão a ser resolvida?

Amor em crise

Tanto no amor romântico quanto antes deste, divórcio por muito tempo foi um tabu e se ainda pode ser. Portanto, mais ou menos desde a década de 70, quando o divórcio foi aprovado no Brasil, pudemos observar uma nova ruptura no núcleo familiar. Apesar de todos os escândalos sociais, passamos a ter filhos de pais divorciados, filhos cujos pais tiveram novos companheiros e geraram filhos de segundo casamento e até mesmo filhos de pais que nunca foram casados. A liberação sexual nos anos 60 também passou a ser tópico e, com vozes LGBTQI+, bateram de frente com o molde tradicional familiar. Esses e outros elementos contribuíram para que aos poucos as pessoas levantassem perguntas sobre o casamento quanto instituição vitalícia e, consequentemente, sobre os relacionamentos amorosos, e nos trouxessem até os dias atuais.

Amor em tempos pós-modernos

O casamento tradicional tem duração média de 14 anos no Brasil, com as taxas de divórcio aumentando. Seria então válido dizer que o amor romântico possui uma falha ou somos nós que estamos olhando para o atual modelo como a única face verdadeira do amor quando pode não ser?

A nova geração nos faz pensar sobre isso. É uma geração que fala sobre feminismo, racismo, que é engajada politicamente, que ousa dar dicas de namoro para seus pais e que usa aplicativos de relacionamento abertamente quando a geração anterior a sua não se sentia à vontade de dizer que conheceu pessoas pela internet. Essa geração também trata as questões LGBTQI+ com mais sensibilidade que as passadas e está mais informada sobre questões mundiais. É esperado que essa geração abra discussão sobre novos tipos de relacionamentos e não é de se admirar que os apoiem.

Dito isso, nos últimos tempos temos noticiado uma crescente conversa sobre relacionamentos amorosos que fogem do modelo tradicional, ou melhor, fogem de padrões pré-estabelecidos. Atualmente, um casal onde um quer continuar numa relação monogâmica e o outro não, mas há um acordo mútuo sobre isso, são chamados de híbridos. No caso dessa relação ser apenas sexual, são chamados de swingers e pode ser para ambos. Outra é a relação poliamor, onde há amor envolvido com várias pessoas pois acredita-se que este não deve ser atrelado à monogamia. Por fim, os flexissexuais acreditam que o envolvimento independe do gênero.

Se pensarmos criticamente, esses relacionamentos não são novos. Mas ainda assim sempre foram tabu, e por isso o estranhamento como se eles nunca tivessem existido. Afinal, é sempre mais fácil ignorar o que nos é marginal. A questão a ser levantada é que agora eles estão muito mais revelados e mais pessoas têm falado abertamente sobre eles, mesmo que o caminho ainda seja longo. Olhando para essa situação, será que teremos novos modelos de relacionamento sendo oficializados no futuro? E como juridicamente funcionariam? A ideia não é atacar o relacionamento tradicional como conhecemos, até porque as pessoas ainda estão interessadas no casamento, mas novos modelos estão surgindo, quaisquer que sejam as opiniões - ironicamente lembremos que se hoje expressamos as nossas, o romantismo contribuiu para isso lá atrás. Não merece ele ao menos a consideração de uma nova abordagem? Reflitamos