Uma nova forma de transporte
O Vale do Silício é o berço de vários novos modelos de negócio. Ali surgiu o AirBNB, revolucionando o mercado hoteleiro mundial. Foi lá também que começou o Uber, dando início a uma mudança completa na forma de as pessoas se locomoverem nas grandes cidades.
A nova onda, que começou na Califórnia e se espalhou pelos EUA, agora, são os patinetes elétricos. De uma hora para outra, milhares deles apareceram em cidades como São Francisco, Los Angeles e Santa Mônica, disputando espaço com bicicletas e pedestres. Os investidores estão apostando alto, com fundos de capital de risco colocando muito dinheiro na jogada: a Bird, tida como a maior no segmento, chegou a US$ 2 bilhões em valor de mercado com pouco mais de um ano de operação. O que é incrível, já que somente três meses atrás valia US$ 300 milhões. A Lime, rival da Bird, recebeu um aporte de US$ 250 milhões no início de junho, que elevou seu valuation a US$ 1 bilhão. Outros players, como Spin e Skip, também receberam investimentos milionários recentemente.
Como os patinetes elétricos surgiram da noite para o dia, tanto os cidadãos quanto os governos não souberam como agir. As reclamações são diversas: usuários utilizando esses veículos pelas calçadas, provocando acidentes; largando-os no meio da rua, na porta de estabelecimentos e até bloqueando passagens para cadeiras de rodas… Há também inúmeros casos de vandalismo, já que os patinetes ficam expostos para qualquer um.
Por conta disso, as cidades começaram a responder. São Francisco ordenou que as empresas tirassem seus veículos das ruas no início de junho. A partir de então, elas tiveram que aplicar um programa de testes, que irá durar um ano, para conseguir uma licença de operação. O programa, porém, é bem limitado. Somente cinco companhias terão a permissão (12 estão na disputa) e apenas 1.250 patinetes no total serão autorizados nos seis primeiros meses; caso haja uma boa avaliação, esse número dobrará nos seis meses seguintes. As escolhidas devem ser anunciadas agora em julho. Santa Mônica também aprovou uma lei parecida e outras cidades americanas irão pelo mesmo caminho.
Ter acesso a um patinete elétrico é bem simples. Basta baixar o aplicativo de alguma das empresas, se cadastrar, colocar os dados do cartão de crédito e pronto; é só encontrar algum veículo (que esteja carregado, claro), destravá-lo pelo app e começar a usá-lo. A utilização custa US$ 1, mais entre US$ 0,10 a US$ 0,15 por minuto. Os patinetes chegam até a 24 km/h e têm autonomia de cerca de 32km. Novos modelos terão autonomia de 60km, o suficiente para o que pretendem entregar: a chamada micromobilidade, que é prover uma forma de transporte limpa, que ocupa pouco espaço, ideal para cobrir distâncias curtas. Isso pode ser útil, principalmente, em cidades altamente congestionadas, como São Paulo e Rio de Janeiro.
A logística das companhias, porém, não é nada fácil. Como é proibido usar esses patinetes à noite nos EUA, elas precisam recolher, todos os dias, seus veículos até 21h, levá-los para carregar e, no dia seguinte antes das 07h, colocá-los novamente nas ruas. Para isso, as empresas usam seus próprios funcionários, mas também contam com trabalhadores independentes, que queiram uma renda extra. Quem tiver habilitação e um carro pode se inscrever e começar a ganhar entre US$ 5 e US$ 25 por patinete recolhido, carregado e recolocado nas ruas. Com aplicativos exclusivos para a função, essas pessoas conseguem saber exatamente onde estão cada um dos patinetes (por meio de GPS) e a carga de bateria deles.
Apesar dos problemas e da desconfiança de alguns, a adoção dos usuários tem sido promissora: a Lime aumentou suas vendas em 10 vezes durante o 1º trimestre; a Bird viu suas receitas crescerem 85% entre março e abril. O sucesso fez as empresas expandirem as operações e, em cidades europeias como Paris, Berlim e Zurique, já é possível encontrar os patinetes elétricos. Será que essa novidade chegará ao Brasil?
* Especialista em inovação e novas tecnologias
