Os impactos da Inteligência Artificial

Por ANDRE L. MICELI*

O aumento do uso dos recursos de Inteligência Artificial, assim como seu impacto em mercados, empresas e na sociedade em geral está na mídia quase diariamente. Algumas empresas estão buscando maneiras de incorporar tais recursos às suas estratégias operacionais, gerando vantagens competitivas importantes, tanto no que tange ao aumento de receita quanto para implementar estratégias de redução de custos e eficiência operacional. Por outro lado, muitas pessoas em condições produtivas debatem e se preocupam com as mudanças e o impacto que inevitavelmente acontecerá. No que diz respeito à força de trabalho, os efeitos certamente poderão ser sentidos no número de vagas formais fechadas, no empregos criados e na demanda pelo conjunto de habilidades essenciais ao novo profissional.

A tecnologia sempre existiu para ampliar alguma capacidade humana. Inicialmente replicou e potencializou a capacidade muscular através de ferramentas que nos davam mais força, mais velocidade e até mesmo a capacidade de voar. Na sequência, ela simulou e expandiu nossa capacidade cerebral através, por exemplo, da realização de cálculos complexos e em grandes volumes. Agora, na fase que se aproxima, irá replicar e ampliar nossa capacidade cognitiva. Em países como o Japão, que possui uma população cada vez mais envelhecida, robôs e sistemas de IA podem ser fundamentais para ajudar em tarefas básicas, mas dependem de uma mobilidade física cada vez mais difícil de ser encontrada.

Diversos estudos recentes avaliaram que a sofisticação que se tornará possível em automação de máquinas produzidas por baixo custo e o aprimoramento dos recursos de inteligência artificial criarão um novo cenário para o mercado de trabalho. Algumas estimativas preveem que essas tecnologias poderiam desalocar até 30% dos trabalhadores em todo o mundo em menos de duas décadas.

Um estudo publicado pela PricewaterHouseCoopers, uma empresa internacional que oferece serviços financeiros e tributários, previu que cerca de 38% dos empregos americanos estarão em alto risco em função da automação no início da década de 2030. Na Alemanha, até 35% dos empregos podem estar na mesma situação. A empresa disse ainda que cerca de 30% podem ser afetados na Inglaterra e 21% no Japão. O risco de fechamentos dos postos aumentará grandemente para os trabalhadores com menos educação, que naturalmente exercem funções mais repetitivas. Evidentemente, empregos irão surgir em função dos recursos de inteligência artificial, mas é bastante provável que o número de postos fechados seja bem maior do que o de abertos.

Por outro lado é provável que todo esse cenário de automação aumente a produtividade e a riqueza das nações. O crescimento econômico, juntamente com outras influências, poderia ajudar a compensar o desemprego de milhões de trabalhadores através de políticas de renda mínima universal. É um recurso defendido pela primeira vez por capitalistas importantes como Bill Gates e Elon Musk. A menos que outra variável apareça para equilibrar as forças de oferta e demanda, de outro modo, será difícil manter um mercado consumidor ativo.

É possível fazer uma generalização e dizer que, no longo prazo, todos os trabalhadores precisarão se adaptar, à medida que suas ocupações evoluem ao lado de máquinas cada vez mais capazes. Atividades criativas, empáticas ou que dependem de características essencialmente humanas estarão a salvo. Pelo menos por mais tempo.

* Professor e Coordenador de MBA em Marketing Digital da Fundação Getulio Vargas