Crônica da Semana - Procure saber do camarão VG do Renan Calheiros
Um tanque frequentado por desbocadas comadres da periferia perde para as discussões travadas nos últimos dias pela imprensa juntando, de um lado, a turma que ainda procura saber, do outro, a turma que sabe bem o quanto lhe custou a censura imposta pelos patibulares generais que comandaram o país por duas décadas. Respeito os envolvidos, admiro a obra desses monstros sagrados que tanto prazer nos dão, mas acho que qualquer interferência numa obra literária é censura, sim. Como já disseram tantos outros antes de mim, quem se sentir injuriado, ultrajado, achincalhado que contrate advogado e trate de processar o peralvilho que maculou sua biografia. De mais a mais, a essa altura do campeonato, será que ainda tem esqueleto para sair do armário? Custa-me crer. Nessa época de um flash por minuto, dois paparazzi por pessoa ( até 3 ou 4, dependendo se é uma Ivete Sangalo ou uma Valéria Popozuda), alguém ainda tem como esconder alguma coisa?
O Djavan – que melhor faria se seguisse cantando, ao invés de dar declarações desastradas – diz que os biógrafos ( na maioria das vezes jornalistas) ganham fortunas. Seriam portanto ricas criaturas com o único objetivo na vida de denegrir a imagem dos biografados e, com isso, faturar uma nota preta. Diante do absurdo, tenho uma solução para o imbróglio todo: que tal se Djavan escrevesse a biografia de Chico, que escreveria a de Caetano, que se dedicaria à vida e obra de Gil, que largaria seu inspirado violão de onde brotam tão lindas canções, para biografar oRoberto Carlos, que terminaria por escrever a de Djavan. Um trabalhinho para nosso Rei que, até o momento, não tugiu nem mugiu sobre o assunto. Logo ele, o responsável pelo kick off, o cara que botou a bola pra rolar quando tirou de circulação sua biografia escrita por Paulo Cesar Araújo. Se cada um escrevesse sobre seu cada qual, reinaria a paz absoluta – e talvez, pela magnitude dos envolvidos, as biografias até virassem bestsellers de render honorários, assim, tipo Sidney Sheldon. Fica a ideia. Pela qual não cobrarei direitos autorais.
Outra coisa curiosa: nosso Brasil, com 190 milhões de almas aproximadamente, tem, segundo pesquisa do IBGE de setembro passado, nada menos do que 13, 163 milhões de analfabetos de pai e mãe. Dados do INAF (Indicador do Analfabetismo Funcional) revelaram – ainda em 2012 – que 20% dos brasileiros, entre 15 e 49 anos, são analfabetos funcionais. Inabilitados, portanto, a encarar um “Leite derramado” do Chico, cujo texto exige o pleno funcionamento dos neurônios e escolaridade completa. Esse pessoal, quando lê, ataca de padre Marcelo Rossi ou de Edir Macedo, campeões absolutos de vendas na terra do Procure Saber.
Certas discussões, aqui no Brasil, acabam mesmo virando piada. No Facebook já tem uma vaca, danada da vida, porque não deu autorização ao Caetano para chamá-la de “profana”. Kakakakkaakkakakakakakak. Só rindo. E muito. Porque, de resto, a discussão é de chorar.
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Esse Renan Calheiros é mesmo um espanto! No país dos 190 milhões de habitantes, a maioria dos quais matando cachorro a grito, Sua Excelência – aproveitando-se da boquinha como presidente do Senado – come do bom e do melhor às nossas expensas. Serve-se também em mesas com toalhas e guardanapos de linho ( cada guardanapo cotado pela bagatela de R$ 420), pratarias e cristais. No momento levando vida de bom moço, casado direitinho, família em volta, mora também às nossas custas em bonita casa à beira do Lago Paranoá. Pois bem: a Excelência, hoje, vive de pizza (claro!) que manda buscar perto de casa. A licitação para abastecimento da dispensa de sua casa – que hoje não tem nem um figo podre pra contar história - foi vetada. Pudera. Para alimentar os Calheiros por um prazo de seis meses, a conta sairia para nós pela módica quantia de R$ 98 mil. Isso mesmo. R$ 16, 3 mil por mês. Só dando na cara, né não?
Rapidinho desmentiram tudo, até que andavam à base de delivery, mas o estrago já estava feito. Graças ao Bom Pai, apesar das tentativas de censura, temos uma imprensa livre que denuncia esses abusos, como, por exemplo, os 100 quilos de filé mignon e os 25 quilos de camarões VG que o senador pretendia comer, enquanto, no interior da sua Alagoas natal, luta-se por um calango.
A falta de vergonha dessa gente é patológica.
Um lembrete: 2014 está chegando, pessoal! A hora é essa.
