Em dia de jogo do Brasil, Copacabana recebe diversas manifestações

Pelo menos um manifestante teria sido detido pela Polícia Militar 

O Brasil jogou contra Camarões nesta segunda-feira (23) e, enquanto os jogadores duelavam em campo, manifestantes se posicionavam contra a realização da Copa do Mundo. Ao lado do Fifa Fan Fest, a ‘festa dos fãs da Fifa’, montado em Copacabana, Zona Sul do Rio, diversas manifestações aconteceram: “A festa nos estádios não vale as lágrimas nas favelas”, organizado por entidades de comunidades cariocas; “Fifa Go Home”, da Frente Independente Popular; “Todos por Rafael Braga”, que manifesta solidariedade com o morador de rua preso em junho de 2013 por carregar produtos de limpeza; “Justiça para DG”, pelo dançarino morto na comunidade Pavão-Pavãozinho, em Copacabana; e ainda “Cruzes Copacabana”, que protesta contra a remoção de moradores da comunidade do Horto, no Jardim Botânico.

Durante os atos, pelo menos um manifestante, identificado Pablo Rodrigues, teria sido detido pela Polícia Militar, por se recusar a entregar uma faixa que carregava durante o ato. Vendedor de artigos evangélicos na Uruguaiana, Centro do Rio, ele teria sido arrastado de forma truculenta pela PM até uma viatura e encaminhado à 17ª Delegacia de Polícia, em São Cristóvão, sob acusação de "fechar a rua". Contactada, a assessoria da PM informou que não sabia de nenhuma prisão até o momento.

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As diversas lutas sociais estão na rua no mesmo sentido, tentando levantar suas bandeiras para a sociedade e buscando divulgação na mídia internacional. “A festa nos estádios não vale as lágrimas nas favelas”, como o próprio nome declara, quer mostrar a visão daqueles que mais sofreram com remoções e choques de ordem em prol de uma cidade “padrão FIFA”. Para muitos que vivem na favela, a alegria do futebol não vale as violações que foram cometidas.

Fransérgio Goulart, do Movimento Fórum Social de Manguinhos, diz que a ideia é mostrar essas violações para o mundo. “A ideia é, mais uma vez, apresentar as violações para fora do pais, porque as autoridades brasileiras, defensorias, ministério público- a polícia nem se fala- são controladas e apaziguadas pelo Estado, que resolve tudo. Queremos comunicar todas essas violações para o mundo: a mídia internacional tem sido parceira em vários aspectos, temos conseguido pautar algumas coisas, lá fora e conseguir o apoio de organizações pelos direitos humanos”, explica Fransérgio.

Os movimentos pretendem se juntar num destino final, no Morro do Cantagalo. "Temos que ver que o que acontece em Manguinhos, na Maré, e em outras comunidades, não são fatos isolados. Estou satisfeito com o resultado, temos umas 300 pessoas aqui. Queremos mostrar que a favela pode ser protagonista."

Para ele, a favela vem construindo um movimento diferente dos movimentos políticos e estudantis, essencial para afirmação de suas próprias lutas. “Os movimentos tradicionais têm dificuldade de entender a favela, a gente discutiu muito que temos que ser protagonistas das nossas demandas. Os movimentos querem que as favelas venham a aderir às suas formações fora da comunidade, mas esquecem que os favelados vivem num outro lugar, em outra situação, onde são violados diariamente” critica.

“Acreditamos no processo revolucionário, mas temos outras prioridades. Muitos têm um discurso progressista que na prática não funciona”, pondera ele, comentando um caso que um morador da Zona Oeste do Rio foi questionado por que não participava dos movimentos sociais, numa reunião de um movimento estudantil. Este, por sua vez, disse que as reuniões, na Zona Sul ou Centro, longe dos subúrbios, eram uma dificuldade para quem precisa sustentar a família e tem compromissos com trabalho. “Não queremos ficar isolados, mas também não queremos ser guiados”, completa Fransérgio, que aposta numa união entre as comunidades. 

Fransérgio ainda vê um processo acontecendo nas favelas, onde a percepção sobre as eleições começa a mudar como parte dessa união e movimentação social. “A favela tem construído um outro processo sobre esse ano de eleição que se resume no lema 'não vote, lute'. Achamos que pouco importa o partido, inclusive os que se colocam mais próximo do povo. Por isso existe a tendência de votar em branco ou não ir votar nessas eleições. Queremos uma ruptura com esse sistema e é difícil acreditar que a eleição é uma ferramenta para que a mudança aconteça”, completa. 

* Do programa de estágio do JB