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Jornais começam a publicar conteúdo sensível divulgado pelo Wikileaks

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WASHINGTON -Jornais da Europa e dos Estados Unidos começaram a publicar, este domingo, o conteúdo dos cerca de 250 mil documentos intercambiados por diplomatas americanos e divulgados pelo site WikiLeaks, no qual se destaca a proximidade entre países árabes e Israel sobre a necessidade de que o programa nuclear iraniano seja detido, inclusive militarmente.

Nos Estados Unidos, o The New York Times publicou, em seu site na internet, um longo artigo no qual revela o conteúdo dos documentos. Segundo o jornal, eles oferecem "um olhar sem precedentes sobre as negociações e bastidores realizadas em embaixadas ao redor do mundo, e visões brutalmente claras de líderes estrangeiros e avaliações francas de ameaças nucleares e terroristas".

Alguns destes documentos são muito recentes, pois datam do "mês de fevereiro", acrescentou o The New York Times.

Segundo os documentos, publicados pelo NYT, bem como pelos jornais britânico The Guardian, o espanhol El País, o francês Le Monde e a revista alemã Der Spiegel, o rei Abdullah da Arábia Saudita teria instado os Estados Unidos a atacarem o Irã para destruir o programa nuclear daquele país.

De acordo com o periódico, os documentos de embaixadas diplomáticas no Oriente Médio dão conta das "frequentes exortações aos Estados Unidos para atacar o Irã e por um fim ao seu programa de armas nucleares", segundo diz em 17 de abril de 2008 o embaixador saudita nos Estados Unidos, Adel al Khubeir, citado por documentos de embaixadas americanas.

O monarca saudita teria pedido que os Estados Unidos "cortassem a cabeça da serpente" e afirmou que trabalhar com Washington para contrabalançar a influência iraniana no Iraque era "uma prioriedade estratégica para o rei e seu governo".

As autoridades sauditas não quiseram fazer comentários a respeito.

O jornal francês Le Monde também começou a publicar pela internet trechos do conteúdo de informes diplomáticos "secretos" ou "confidenciais" também relativos à questão nuclear iraniana, um dos temas sensíveis tratados nos documentos.

"Este programa deve ser detido", insistiu o rei do Bahrein, Hamad ben Isa Al Jalifa, em 1º de novembro de 2009, ao receber o general americano Davis Petraes, segundo o documento citado pelo Le Monde. "O perigo de deixá-lo seguir é maior que o de detê-lo", acrescentou, ainda em alusão ao programa nuclear iraniano.

Segundo um documento do Wikileaks publicado pelo jornal, Israel teria pressionado os Estados Unidos a adotar uma posição mais firme com relação ao Irã em dezembro de 2009, ao afirmar que a estratégia americana de negociação com Teerã "não funcionava".

Um telegrama americano, obtido pelo WikiLeaks e analisado pelo Le Monde, relata uma conversa de 1º de dezembro de 2009 entre Amos Gilad, diretor de assuntos políticos-militares do Ministério da Defesa israelense, e Ellen Tauscher, vice-secretária de Estado americana.

"Olhando em sua bola de cristal", escreveu a diplomata americana, "Gilad diz que não é certo que o Irã tenha decidido fabricar uma arma nuclear, mas que o Irã está ''determinado'' a ter a opção de construir uma".

Na diplomacia do presidente Barack Obama, "o compromisso estratégico com o Irã", "é uma boa ideia, mas está bem claro que isto não funcionará", teria acrescentado Gilad, segundo o telegrama obtido pelo WikiLeaks.

Em outro telegrama datado de 18 de novembro de 2009, a diplomacia americana faz as seguintes observações: "um representante do Mossad (serviço secreto israelense) afirma que Teerã entende que, ao reagir positivamente ao compromisso (americano), o Irã pode continuar manipulando o tempo a seu favor".

"Do ponto de vista do Mossad, o Irã não fará nada mais que utilizar as negociações para ganhar tempo. De forma que em 2010-2011, o Irã terá a capacidade tecnológica de fabricar uma arma nuclear", ressaltou o telegrama.

Segundo o espanhol El País, a diplomacia americana trabalhou para que países da América Latina isolassem o presidente venezuelano, Hugo Chávez.

O periódico relatou os "esforços" da diplomacia norte-americana "em cortejar países da América Latina para isolar o venezuelano Hugo Chávez", sem ter divulgado, por enquanto, o documento relativo a esta informação difundido pelo WikiLeaks.

Apesar dos alertas de autoridades americanas e britânicas em virtude da ilegalidade e do risco de vida para algumas pessoas que a publicação destes documentos causaria, o site Wikileaks divulgou o conteúdo de 250.000 documentos diplomáticos a grandes jornais.

Em mensagem postada no microblog Twitter, o site anunciou este domingo que estava sofrendo um ataque informático, mas que isto de forma alguma impediria a divulgação de documentos secretos dos Estados Unidos.

"Estamos atualmente sob um ataque maciço de negação de serviço (Distributed Denial of Service ou DDoS)", anunciou o site em sua conta no microblog, horas antes de uma aguardada publicação de documentos, que segundo o diretor do site, Julian Assange, cobriria "toda questão relevante em cada país do mundo".

No entanto, o WikiLeaks reforçou que jornais de Espanha, França, Alemanha, Grã-Bretanha e Estados Unidos que estavam planejando publicar a informação na noite de domingo deviam seguir adiante.

"El País, Le Monde, Der Spiegel, Guardian e NYT (New York Times) publicarão esta noite, mesmo se o WikiLeaks cair", acrescentou.