Como um disco defeituoso, que fica repetindo o mesmo trecho de sua música, assim se comporta a mídia ao noticiar a estatística de acidentes, divulgada pela Polícia Rodoviária Federal, após um feriado prolongado, como o que ocorreu na semana que passou. São sempre os números elevados de acidentes (este ano 2728 colisões, 136 mortos e uma média de 27 mortos por dia, durante o período) onde, de um modo geral, o culpado é a vítima por imprudência. Estes, sem defesa, por ingerir bebida alcoólica. Limitam-se a noticiar, comparando os dados com o que ocorreu no ano que passou, comentando esta vergonha nacional, apenas noticiando esta comparação dos números de registros estatísticos.
Tivéssemos nós um órgão federal eficaz, monitorando estes fatos, com eles se preocupando e os analisando, divulgando as causas, e poderíamos diminuir esta segunda causa de mortalidade no nosso país. Além desta omissão, estão naquela situação de não ver o problema e, por via de consequência, não verem a solução. É muito cômodo culpar o elemento humano, o motorista. Nestes acidentes que ocorreram, só não tem defesa o que estava alcoolizado, os demais são fruto do meio.
A nossa precaríssima sinalização urbana não educa e não condiciona o motorista para que tenha um desempenho seguro nas rodovias, quando a velocidade é liberada para mais de 100 km/h.
De há muito já deveria haver uma sinalização vertical, onde fosse identificado o tipo de via, se local, coletora ou de trânsito rápido, a fim de habituar o motorista a respeitar o limite de velocidade, que a lei determina nestas diferentes vias.
A abertura dos semáforos em conjunto de pelo menos cinco cruzamentos, no que consideram coordenação, é um incentivo à velocidade, pois ocorrem nas vias de trânsito rápido, com limite de 60 km/h, e aproveita mais semáforos abertos quem mais corre, geralmente excedendo o limite legal.
Se existiram quase três mil colisões, é porque existiram veículos andando com velocidade menor do que a metade da máxima, infringindo, impunemente, o artigo 219 do Código de Trânsito e, por atuar no E e no V, a emoção e a volição, sobrepujando a percepção e a inteligência, do principio do PIEV, que comanda as reações do motorista, provocam a ultrapassagem, geralmente em desespero, provocando as colisões, muitas das vezes fatais.
Os maiores dos infratores ao artigo 219 são os caminhões, um perigo em rodovia de mão dupla.
Desde os anos 60, na Alemanha, nas suas excelentes “autobahnen”, algumas com quatro faixas de rolamento, em cada sentido, nos fins de semana e feriados, é proibido circular caminhões, ou veículos incapazes de desenvolver a velocidade média, de 150m km/h lá praticada, face a excelente qualidade daquelas rodovias, sem limite da velocidade máxima.
Já aconselhei nos meus escritos a proibirem o tráfego de caminhões aqui, nos fins de semana e nos feriadões, no nosso Pindorama, sem nenhum resultado a não ser a continuação das colisões, face a existência destes veículos trafegando em vias de velocidade máxima de 80 ou 100 km, a apenas 40, ou menos.
Como cenário a este drama, as mal conservadas estradas que a nação oferece aos pagadores de pedágio e de IPVA, onde acontece o crime da ausência de “guard rails”, em trechos onde margeiam despenhadeiros ou rios, além do acostamento contínuo, de há muito substituído na Europa por bainhas escalonadas ao longo da rodovia, eliminando a “bandalha” da utilização indevida desta fixa marginal. Como fator negativo, são policiadas de maneira precária e retrógrada, sem a mobilidade e os equipamentos que o tráfego moderno exige.
Concluindo este comentário, que não deveria ser meu mas de alguma autoridade com responsabilidade de coibir as duas causas apontadas, o excesso de velocidade e as ultrapassagens, estas o mal maior, vamos às recomendações para, como se diz no futebol, virar o jogo:
Proibir a circulação de caminhões, que já vêm 40 anos atrasada, a fim diminuir a tentação das ultrapassagens ilegais.
Dotar a excelente Policia Rodoviária Federal, colocada no Mistério da Justiça, quando deveria estar no dos Transportes, onde sempre esteve, pois que deve trabalhar em conjunto com a engenharia de tráfego, dos meios de mobilidade, como motocicletas para rondas permanentes e, se possível, helicópteros, como também vi na Alemanha, quando lá em estágio em 1968, para coibir principalmente a velocidade em excesso e infrações contumazes.
Até que isto aconteça, continuaremos a ouvir e ler as observações repetidas após cada feriadão, como num disco defeituoso, no caso, pela sua repetição desde tempos remotos de fabricação ainda de vinil.