Milhares de famílias continuavam procurando nesta quinta-feira seus parentes queridos, quase três semanas depois de um potente terremoto seguido de tsunami que devastou cidades e vidas ao longo da costa nordeste do Japão.
Entre elas está a família de uma jornalista da AFP.
Esta é a história de Takako Suzuki, 67 anos, que continua procurando um sinal de sua filha, irmã desta jornalista, entre as ruínas do pequeno porto pesqueiro que foi seu lar durante toda sua vida.
Todas as noites, Suzuki entra debaixo de seu edredon depois do pôr do sol, perto das 19h00 locais, porque não há nada a se fazer no escuro. Esse distrito de Ishinomaki ainda carece de eletricidade, água corrente e gás.
"Não leio os jornais nem escuto rádio. Falam coisas horríveis", disse Suzuki, viúva há alguns anos, enquanto tenta dormir no segundo andar de sua casa.
"Por que tenho que saber mais sobre o que vi?", pergunta.
Ela se levanta quando o sol nasce. Desce para limpar os escombros deixados pelo tsunami que atingiu o andar de baixo em 11 de março, fazendo essa tranquila cidade da prefeitura de Miyagi submergir na tragédia.
Naquele dia, um morador de Miyagi que apertava a mão da própria mãe sentiu que ela escapava, três crianças foram arrastadas pelas águas, e um casal de idosos desapareceu com seu neto.
Suzuki retira os escombros de sua casa, que foi atingida por uma onda de dois metros de altura, enquanto ouve o som de um helicóptero levando os últimos cadáveres encontrados.
A lama cobre as fotos de familiares e outros quadros. Um forte cheiro de água do mar e peixes em estado de decomposição invadiram o local.
Na vizinhança, automóveis virados e barcos jazem nas ruas e nos jardins. As pessoas caminham sobre carros presos entre dois edifícios, como se fosse uma ponte.
A missão mais importante de Suzuki não consiste em limpar sua casa, mas em encontrar sua filha de 41 anos, que desapareceu no dia da catástrofe.
Suzuki estava na cidade de Sendai, a cerca de 60 km de sua casa, quando o terremoto de 9 graus de magnitude atingiu o país.
Conseguiu voltar para casa na tarde do dia seguinte, depois de dividir um táxi do Sendai até um local perto de Ishinomaki, e depois caminhar durante sete horas com água nos joelhos, em meio aos cadáveres que flutuavam.
Quando chegou à casa que dividia com sua filha, esta não estava.
"Estive a ponto de morrer", disse Suzuki.
Muitas pessoas que continuam procurando seus parentes passaram pelo doloroso processo de sentir que suas esperanças diminuem lentamente, dia a dia.
Primeiro esperam que essa pessoa não tenha sido ferida, depois que ele ou ela não esteja em sua casa ou que se encontre em um albergue e, finalmente, que tenha sofrido feridas e esteja hospitalizada.
Depois ficam sabendo que seu nome não está na lista dos pacientes internados nos hospitais. A última etapa dessa busca é o desejo de encontrar seu corpo sem vida.
As famílias visitam necrotérios improvisados. Há listas de cadáveres, todos numerados.
"No início, me assustava ver os corpos, mas tive que me acostumar", disse Suzuki, preparando-se para outra busca sombria.
Não pode apagar de sua memória as imagens dos corpos que viu no vilarejo perto de sua casa, entre os quais duas crianças que se abraçavam no momento da morte e uma mãe que agarrava seu bebê contra o peito.
"Nasci e cresci junto ao mar, mas não quero ver o oceano nunca mais", disse Suzuki.