Quando aconteceu o primeiro escândalo sobre o serviço terceirizado do transporte de ônibus, escrevi que o fato não me surpreendia, mas me chocava. E assim comentava pelo fato de que com eles, empresários, duelara por mais de sete anos, em duas gestões à frente do Detran. Sempre existiu entre nós um relacionamento respeitoso, embora, como se diz na cavalaria, os mantivesse “com rédea curta”.
Botei os canos de descarga de seus veículos para baixo, na posição de fábrica e, com isto, poder fiscalizar o teor de monóxido de carbono, em suas descargas, com instrumentos especiais, de fabricação Bosch. Retirei-lhe as buzinas e lacrei as sua bombas injetoras em 60 km de velocidade máxima, mandei colocar o número de série no teto, a fim de poder fiscaliza-os, quanto à fila dupla, por helicóptero ou por fotografias, de janelas altas, por colaboradores, ao longo dos eixos principais. Não tive tempo de lhes tirar os para-choques dianteiros, a exemplo dos ônibus londrinos. Conseguiram exonerar-me antes. Em compensação, passei a poder ostentar um atestado de honestidade, tornando-me “persona non grata” para eles, para orgulho meu.
Porém, nesta semana que passou, ficou escancarada a podridão da corrupção e do roubo, envolvendo importantes membros do poder legislativo local, a Alerj, com o beneplácito da votação para soltá-los da prisão, da maioria dos seus correligionários, ou quem sabe, sócios...
Agora foi demais para este velho ainda idealista que, desde 1967, quer como executivo, quer como consultor ou conferencista e, teimosamente, como o JB, continuo escrevendo analisando as mazelas do trânsito nacional. Fiquei enojado e enjoado de tanta semvergonhice e, o pior, sem que tenha havido nenhum suicídio de vergonha ou ataque cardíaco ou AVC dos envolvidos, no dizer de seus advogados, inocentes!!!
Cumpre diante dos fatos, ao poder concedente denunciar, por falta de honestidade, ou se preferirem, por não serem “ficha limpa”, o atual contrato de concessão, tirando do povo este ônus de um transporte deficiente, imundo e odiado, haja vista a queima de ônibus pela população, sem que nada tenham feito de mal além do regular mau atendimento, em protesto de qualquer mal que lhes aflija.
De há muito prego a substituição de concessionários para arrendatários, aos proprietários de ônibus, que exploram este serviço visando o lucro, como empresários que são, na contramão dos países do Primeiro Mundo, onde o transporte é estatal, não visando lucro que, dizem os seus técnicos, é social, pelo rendimento de uma população bem transportada e com tarifas mínimas. A eles deveria se garantir o direito adquirido de alugar os seus ônibus ao poder público, que os remuneraria por quilômetro rodado, estabelecendo de maneira racional e do interesse público, os roteiros das linhas. Com a adoção do Sistema URV, que tentei ter o apoio da Rio Ônibus, sem resultado, lhe permitiria tornar o transporte gratuito e absorver os motoristas, como fiscais e condutores desta frota alugada. Simples, não? Ledo engano. A decisão é política, envolve elevados interesses financeiros e apoio político, além de coragem cívica e espírito público dos governantes.
Lamento, mas a população dos usuários deste transporte apodrecido terá muito que sofrer antes de enterrarem esse cadáver putrefato, que é o serviço de ônibus no Rio de Janeiro.