A presidenta Dilma Rousseff enfrenta um dos momentos mais complexos, duros e pesados do cenário político brasileiro das últimas décadas. Trabalha enfrentando campanhas sórdidas, pressões de todos os lados e ameaças enquanto luta para aprovar medidas fundamentais para o reequilíbrio econômico do país.
A crise política, sem precedentes num passado próximo, prejudica a estabilidade brasileira em nome de uma disputa pelo poder na qual só quem perde é o povo.
No meio deste tiroteio, Dilma cumpre a difícil missão de governar tomando as decisões que precisa tomar como presidente, independentemente de partidos, correntes, ideologias. Dilma, como presidente eleita, governa para todos. Mostra claramente que não está mais em campanha, ao contrário da oposição, que é capaz até de mudar bandeiras que defendia com ardor com o único objetivo de torpedear o governo. Ou não foi o que fez a bancada do PSDB quando apoiou em peso o fim do fator previdenciário, criado e aprovado por eles durante o governo FHC? Ou mesmo agora, quando também apoiou em peso o fim da reeleição, matéria aprovada por eles durante o governo FHC - inclusive com denúncias de um suposto mensalão - para que o então presidente pudesse concorrer mais uma vez?
Dilma não pode governar com incoerência, como age a oposição. Precisa e governa pelo interesse nacional, em defesa das classes C e D que, nos últimos 12 anos, ganharam poder aquisitivo jamais visto e se tornaram o sustentáculo da economia do país. Governa pelos mais pobres, que precisam de comida, escola, saúde e trabalho.
Conduzir um país num clima de guerra política e momento delicado na economia, sem que isto se traduza em uma convulsão social de proporções imprevisíveis, é uma das missões mais difíceis que um presidente pode ter pela frente. E é isto que Dilma está enfrentando, com firmeza e serenidade.
Afinal, num cenário instável, de ânimos acirrados e manifestações radicais, um passo na direção errada pode levar o país aos caos profundo. Basta ver o que está acontecendo na Europa e, mais recentemente, na Espanha, onde políticos revoltados estão chegando ao poder no processo democrático da eleição, e não com revoluções. Isso significa que o povo saturado anseia por mudanças, e se identifica com posições extremas como as das novas prefeitas de Madri e Barcelona, Manuela Carmena e Ada Colau - uma juíza aposentada com prestígio que usa o metrô e que escapou de uma matança fascista em 1977, e uma ativista especializada em paralisar despejos hipotecários de pessoas que ficariam sem casa.
O que faz um povo votar numa candidata que prega o desrespeito às leis? O esgotamento? A falta de perspectivas? Para onde ruma a Europa que, se por um lado elege radicais, por outro afunda barcos de imigrantes esfomeados, que saem de seus países - os mesmos colonizados com mãos de ferro pelos europeus - em busca de comida e emprego? O que quer a Europa, que não permite que miseráveis explorados e colonizados dividam com ela os benefícios de um país desenvolvido?
E o que querem os que aqui insuflam os ânimos em busca do caos e da anomia? Querem os mesmos movimentos radicais que sacodem a Europa? Os mesmos extremismos? Num país como a Espanha, com 47 milhões de habitantes, este movimento já traz consequências profundas. Aqui, com 210 milhões de habitantes, dos quais 70% ganham até dois salários mínimos, quais as consequências de uma revolução popular?