É evidente que há um exagero nas preocupações com a inflação
de 6% no Brasil. Há dez anos que a inflação do IPCA gira em torno de 6% e, ao
que tudo indica, vai continuar assim, em 2014.
Em 2013, a inflação reprimida, com preços controlados pelo Governo, ficou em 1,0%, enquanto os preços livres subiram 7,5%. Na medida em que sejam liberados os preços dos combustíveis, da energia elétrica e do transporte urbano, a situação pode piorar. Entretanto, os preços do petróleo e outros preços internacionais vão continuar estáveis. Também a próxima safra agrícola deve contribuir para segurar os preços dos alimentos.
O que não se justifica é o nosso Banco Central imaginar que pode combater a inflação refreando a demanda agregada (consumo e investimentos) com elevação da taxa SELIC. A elevação da SELIC agrava o déficit fiscal, uma das principais causas da inflação. Daí que se pode afirmar que o BC também contribui para a inflação. Seria, pois, um grave equívoco se a próxima reunião do COPOM decidir pela elevação da taxa básica de juros.
O grande risco de desestabilização econômica, na conjuntura atual, vem da área fiscal. Como, praticamente, já atingimos o limite da carga tributária (36% do PIB), só resta ao Governo cortar os gastos de custeio para compensar a descontração das tarifas públicas. Mas isso criaria tantos atritos políticos que é possível considerar uma hipótese inviável, em ano de eleição presidencial.
Existe, ainda, o grande risco dos movimentos de rua contra a FIFA, nas 12 capitais onde vai ser realizada a Copa do Mundo.
Como o Governo não tem recursos nem competência para enfrentar tantas dificuldades, pode se antever o grande risco da candidatura de Dilma Rousseff. Para o bem do Brasil, seria melhor que nada disso acontecesse.
*Ernane Galvêas é economista, consultor, ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda.