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Sistema global

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A lógica do diálogo entre a ciência e a tecnologia não mais dá conta integralmente da dinâmica dos sistemas técnicos. Com efeito, a tecnologia orienta-se cada vez mais rumo à busca de procedimentos que permitam colocar novos produtos à disposição do maior número possível de consumidores. A difusão de novas tecnologias é atualmente interpretada como a consequência de uma estratégia de oferta que repousa sobre uma excitação de desejos, constantemente exacerbada pela renovação permanente dos produtos e dos serviços oferecidos ao apetite ilimitado do consumidor.

Os diferentes ramos desenvolvem-se segundo uma trajetória específica, em função das escolhas iniciais e dos progressos impostos depois pela própria tecnologia. Desde então, cada ramo produz para si mesmo um processo de diversificação e instauração da concorrência de diversos desenvolvimentos. São as tecnologias da informação que permitem o funcionamento dos grandes sistemas técnicos, mas também das grandes organizações, quer se trate de empresas, mercados ou Estados.

A racionalidade puramente econômica dos processos tecnológicos apresenta limites evidentes, no plano ecológico quanto no humano. Ela resulta de um compromisso, constantemente negociado, entre as soluções concorrentes. O riso de uma catástrofe maior, a degradação dos espaços naturais, a destruição das espécies e o empobrecimento da memória genética, a poluição atmosférica e o efeito estufa, os amontoados urbanos, o enfraquecimento das identidades culturais sobre pressão de uma cultura de massa, a persistência de uma miséria aviltante não podem ser desconsiderados.

Se é certo que o consumo e a comunicação de massa realizam as aspirações mais profundas da sociedade nas quais elas se desenvolveram, é possível também questionar-se sobre o papel que, por exemplo, o imaginário do engenheiro teria desempenhado no desenvolvimento desses processos. A difusão das tecnologias não seria consequência da pressão exercida pelo meio tecnocientífico a fim de convencer o consumidor final das benfeitorias dos produtos e serviços gerados?

Em tal perspectiva, a técnica não é mais somente construção social mas passa a construir o social pelo viés das grandes mudanças nos modos de produção, tanto quanto nos modos de consumo e nas práticas culturais. A tecnologização do cotidiano constitui hoje apenas uma das facetas de um sistema global.

* Tarcisio Padilha Junior é engenheiro.