Navegando em mar grosso o capitão revê a sua rota. Em
negócios se faz o mesmo. Quando a economia vira, o empresário tem que traçar um
novo rumo e não ficar sem ele. O cenário da macroeconomia brasileira que vemos
hoje deverá permanecer praticamente o mesmo para os próximos anos. Em linhas
gerais há quase consenso entre os analistas econômicos quanto aos aspectos que
explico sucintamente:
.O crescimento do PIB brasileiro continuará baixo, variando em torno de 2% pelo menos por uns três anos. Com os investimentos na casa dos 18% do PIB, o país não cresce mais que isso. Há uma correlação estreita entre investimentos e taxa de crescimento. Como o orçamento da União está meio que engessado, não há perspectivas para que essa taxa de investimento cresça.
·A indústria brasileira permanecerá com baixa produtividade em relação às médias encontradas nas grandes economias, logo, com pouca capacidade de competição no mercado internacional. Produtividade baixa eleva o custo.
·A produção está perigosamente em queda e poderá ficar crítica, levando muitas indústrias a terem problemas sérios.
Embora o dólar esteja subindo, tornando mais caro o produto importado, só a desvalorização do Real não dá garantia da substituição pelo produto nacional. Já temos problemas com a Balança de Pagamentos - mais importações que exportações - e irá piorar.
A recuperação dos EUA é um fato que, entre outras mudanças, está provocando a valorização do dólar em relação ao real e em outras moedas. O dólar pode chegar próximo de R$2,70 ou acima até o final de 2014.
Detalhe importante: a retomada do crescimento americano está acontecendo sem inflação, ou seja, ele está ocorrendo de forma sólida. Os EUA voltarão a dar as cartas na economia mundial, revertendo a importância que foi dada aos países emergentes como o Brasil.
A nossa agropecuária continuará forte e liderando as nossas exportações, porém com preços e lucros menores. A China diminui o seu crescimento gerando menor demanda. Isto quer dizer queda nas exportações.
Espera-se que parte dessa oferta não exportada venha para o mercado interno com preços melhores e ajudando o controle da inflação, que será forçada a subir pela valorização do dólar.
A oferta de crédito pelos bancos está sendo reduzida, e os juros que já eram altos continuam subindo. Para complicar mais um pouco, há uma possibilidade de recebermos uma nota mais baixa do risco de crédito internacional.
Com o dólar subindo, os capitais internacionais estão indo para os investimentos americanos, tornando a oferta de dinheiro menor para outros países. Consequentemente, a remuneração para atrair esse dinheiro fica maior, com juros maiores.
Os governos gastam muito e mal, por isso o orçamento para investimentos é apertado. Estamos a um ano do próximo pleito para as eleições para presidente e governadores, e todos sabem que politicamente o país para e nada de relevante será feito.
Ora, pelo curso que estão tomando a economia e a política nacional, o melhor que as empresas têm a fazer é reavaliar seus planos e estratégias. Até mesmo para os otimistas o horizonte está complicado, e não é para ficarmos passivamente esperando as coisas mudarem. Temos que usar a cabeça e reagir!
O planejamento estratégico é uma importante, senão a única, iniciativa para se repensar o negócio, para traçar o melhor rumo neste cenário complexo, estabelecer objetivos, avaliar os recursos e conquistar espaços.
É possível crescer em crise. É possível renovar e inovar em tempos difíceis. É possível sair-se bem considerando um cenário adverso. Só não é possível mudar sem provocar a mudança.
*Paulo Sérgio de Moraes Sarmento é economista e sócio da VSW Soluções Empresariais.