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Bem-Viver: partilha e poder 

O poder é importante se há participação. É o compromisso como cristãos, mesmo com as dificuldades 

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Sempre uso e faço a associação com uma antiga e conhecida imagem. O projeto é como o arado amarrado a uma estrela. Isto é, é preciso estar preso à terra e ser iluminado por uma estrela. O fundamental agora, para nós todas e todos, é a pergunta sobre o projeto. Somos mobilizados por uma mística. É importante afirmar e ser testemunha do projeto. Somos chamados para mudar valores e a forma de organização da sociedade. São sinais de que um outro mundo é possível”.  

São palavras do ministro Gilberto Carvalho e membro da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política, em 9 de março, no Seminário de Preparação do 9º Encontro Nacional Fé e Política a realizar-se em 15, 16 e 17 de novembro deste ano em Brasília. 

Dom Leonardo Steiner, secretário geral da CNBB, pegou um mote do tema central do Encontro, que é Por uma Cultura do Bem-Viver: partilha e poder, na sua fala no mesmo seminário: “As veredas estão abertas nos portões da vida. Os dois-pontos colocados no meio da frase do tema central do encontro remetem para o fim. Só teremos o Bem-Viver com o poder partilhado. Não podemos separar fé de política. Quando falamos de política, falamos de bem comum. Por isso, os dois-pontos colocados no meio da frase são muito importantes. E o poder é mais importante quando há participação. É o compromisso como cristãos, mesmo com as conhecidas dificuldades de participarmos como cristãos”. 

A escolha de Brasília para sediar o Encontro Nacional não foi por acaso, assim como  a escolha do tema central do Encontro. Estamos no centro do poder. Mas que poder? Qual projeto? Cristãos ou fiéis de qualquer igreja ou religião, como participar da política nos tempos atuais, seja no âmbito partidário, social, comunitário, governamental, parlamentar, sindical? Como ligar a fé à política? Como ligar a política à fé? 

Baseada no profeta Isaías 32, 17, a teóloga metodista Tânia Mara Sampaio disse que estamos num momento de crises, onde “é preciso sentir e pensar a espiritualidade, no movimento do corpo e do silêncio, sem pressa de ter respostas. É preciso uma espiritualidade transgressora em nossos tempos. É preciso vislumbrar e afirmar os sinais de Deus. O Reino de Deus não é construção material. É preciso ver os sinais nas comunidades. Os sinais do Reino estão constantemente acontecendo e são visíveis. Segundo Isaías, o efeito da justiça será a paz. E como diz a teóloga católica Ivone Gebara, é preciso arrumar os sentidos da nossa existência de um outro jeito. Contra os dogmatismos, afirmar o movimento da vida como seres humanos e com o ecossistema”. 

Vanildes Freitas, assessora da Pastoral da Juventude, indicou exigências e propôs  desafios para o nosso tempo: fé entrelaçada com a vida, com dimensão coletiva, social, para melhorar a vida das pessoas; fortalecimento dos espaços de participação – poder local; investimento em formação crítica em todos os ambientes, também no controle social, descolonizando mentes e corações; presença das pessoas, especialmente os jovens, nos espaços de decisão; reconhecimento de que a política não se dá apenas nos espaços políticos, mas em diferentes espaços; utilização das redes sociais para participação em ambientes democráticos; direitos humanos como bandeira comum de ação; apoio a projetos sociais, não só econômicos; consolidação do Estado laico, priorizando relações dialógicas entre Estado e sociedade; pessoas comprometidas com mandatos populares e participativos”. E Vanildes arrematou: “É preciso ter utopias, desejos e sonhos, com comportamento democrático”.   

Como se vê e lê nas falas transcritas, o seminário de preparação antecipou o próprio Encontro Nacional e dá uma boa ideia do que serão as reflexões até novembro, a serem animadas por uma cartilha com círculos bíblicos e textos para grupos de reflexão, preparadas pelos freis Carlos Mesters e Francisco Orofino. 

Esta animação para a reflexão e participação de cristãos e fiéis que são militantes políticos está na raiz do Movimento Fé e Política. Pedro Ribeiro de Oliveira, da Coordenação Nacional, explicou os objetivos centrais do Movimento desde sua criação, 1989: formação política dos cristãos; espaço de cultivo da espiritualidade; cuidado com a subjetividade – parte humana e pessoal dos militantes (Mais informações em www.fepolitica.org.br / [email protected] ). 

O painel de abertura terminou com uma fila do povo, onde todas e todos puderam expor suas ideias e inquietações. 

Daniel Seidel, da Coordenação local do Encontro, resumiu o espírito dos mais de 100 participantes do seminário, lideranças sociais e de pastorais de Brasília e entorno,  aproveitando o texto do Evangelho do filho pródigo do domingo dia 10: “Houve como uma volta do filho pródigo. Houve o retorno do filho da política, que viu e descobriu que há espaço de reflexão na igreja e na comunidade. E a volta do filho da igreja: viu que pode discutir política na comunidade. Os dois precisam de espaço para discutir a política e para refletir sobre sua fé. Um jovem presente no seminário disse: ‘Eu estou hoje muito feliz. Até hoje eu achava que fé e política eram como água e óleo. Não se misturavam. Felizmente, não é assim”. 

9º Encontro Nacional Fé e Política: 15, 16 e 17 de novembro, Universidade Católica, Taguatinga Sul, Brasília. CULTURA DO BEM-VIVER: PARTILHA E PODER . Todas e todos convidados.

* Selvino Heck, assessor especial da Secretaria Geral da Presidência da República, é membro da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política.